Os achados arqueológicos de manuscritos com os Evangelhos, e datados desses tempos protocristãos, são escritos em caracteres gregos. A epigrafia registada nas múltiplas lápides do Algarve, conservam muitos nomes de origem grega. Paralelamente, estariam os primeiros cristãos “impregnados” do modo pedagógico helénico, e que o significado do termo “Paideia” em si encerra mas, sobretudo, quando toda essa cultura grega é dirigida aos “jovens” catecúmenos e futuros cristãos.

Excepção seja feita ao filósofo latino S. Agostinho, muito mais tardio (séc. IV-V), nascido em Tagaste (Argélia) onde frequentou o catecumenato na “primeira” e provável escola eclesiástica. Desde muito novo, transferiu-se para outra importante Escola teológica e de catequese em Cartago (Tunes, Tunísia) e, no ano de 371. “Jovem estudante deixou-se arrastar pela dissolução”, ainda nessa altura “desprezava a religião de sua mãe”(3) e que era cristã, tal como foi por fim, o seu pai também. O seu programa de estudos entre 375-383, adoptou o método da “Cosmologia” diferenciando-se da didáctica filosófica grega. Finalmente, compreendeu que o neo-platonismo ajudaria a vencer o maniqueísmo, “sendo compatível” com o Cristianismo. Entretanto, este Padre que já escrevia em latim, só em 387 é baptizado depois de um périplo por Milão e Roma. É por fim ordenado sacerdote no ano de 391. Em 395, e em apenas quatro anos de sacerdócio, torna-se Bispo na cidade de Hipona.

Até à época paleocristã de S. Agostinho sabe-se que muito antes, e com outro latinista protocristão, S. Cipriano, natural também da África romana (c. 200-210, Cartago), estabelece-se “o maior expoente teológico” da Igreja “Ocidental” e, como “Arcebispo” na capital metropolitana de Cartago.

Da mesma cidade, e mais antigo ainda fora Tertuliano, nascido (c.160) filho de um centurião proconsular romano. “Falava fluentemente o grego”, e em Cartago escreveu o seu maior tratado, “De anima”. Mas, também este africano, é o autor da maior obra literária latina da “era pré-constantiniana”, e onde fora também helenizado afirmando convictamente “ser o cristianismo uma filosofia”. Estão deste modo, e em correlação greco-latina, igualmente achados na “principal” Escola Cristã de Cartago os seus mais insignes literatos: Tertuliano, S. Cipriano e S. Agostinho.

É numa relação epistolar importantíssima com a Eclésia protocristã ibérica que, S. Cipriano dirige uma marcante disputa episcopal, através da célebre Carta 67 do ano de 254 e enviada aos Bispos da Hispânia, nesta fase ancestral do cristianismo primitivo. Decide de sua justiça depois de um importante concílio da Igreja africana (c.251) condenando com severas penitências os “sacrificati” e os “thurificati” (apóstatas e pagãos), após a perseguição de Décio e, paralelamente, numa “intromissão” litigante na Ibéria, que ultrapassou até o primado de Roma. Nesta importante sucessão bispal hispânica, que envolvera vários Bispos e um Diácono (Leon, Asturica Augusta), entre as diversas personalidades achamos o ainda “pagano-cristão” Marcial, considerado Bispo de “Emerita Augusta” (Mérida) e, talvez, já “metropolita” na “nossa” província da “Lusitaniae”.

Com S. Cipriano, também suspeito que teria muito naturalmente frequentado a “primeira” Escola Cristã de Cartago, a mesma de S. Agostinho, e onde ambos teriam também leccionado como retores. “De Ecclesiae unitate” constitui o título de uma das principais obras de S. Cipriano, estabelecendo o seu testemunho católico no sentido universalista.

(continua)

Vítor Cantinho
Arquitecto e ensaísta

(3) "Patrologia", p.412.

Bibliografia consultada:
Bento XVI, "Os Padres da Igreja, de Clemente Romano a Santo Agostinho".
B. Altaner e A. Stuiber, "Patrologia".
Eusébio de Cesaréia, "História Eclesiástica".