Depois do inicial apelo do Bispo do Algarve à mudança, durante a apresentação das linhas mestras do Programa Diocesano de Pastoral para o novo ano de 2010-2011 ontem lançado, contido no projecto do sexénio que termina em 2012, e da exortação à inserção na comunidade para alicerçar a urgente evangelização dos de fora, durante a Eucaristia do dia, a Assembleia Diocesana assistiu à tarde à consecução do objectivo da sua realização.
Divididos em quatro grupos (para além de outros tantos, que fizeram formação sobre a Lectio Divina), os participantes reflectiram sobre as perguntas “Igreja em Portugal/Algarve que vês na noite da sociedade em que vives? Quais os sinais de Deus e os desafios para a tua missão? O que verdadeiramente precisam as pessoas de hoje, a nível espiritual e humano, e o que podes tu oferecer?” e “Igreja em Portugal/Algarve que indicações ou rumores do espírito encontras hoje em ti? Que caminhos pastorais te assinalam os sinais e os dons do Espírito para viveres e testemunhares o Evangelho de Cristo?”
Da reflexão saiu o reconhecimento de os bispos portugueses “estarem a pensar global”, querendo que “toda a Igreja reflicta e conclua em conjunto, utilizando o método sinodal que se baseia no discernimento partilhado” e não apenas “de cima para baixo” e identificaram-se “sinais positivos” da Igreja portuguesa que devem ser reconhecidos e publicitados como a “beleza da liturgia”, a “simplicidade simbólica”, o “ecumenismo”; a “criação de equipas paroquiais que vão ao terreno contactar pessoas”, as “pessoas que vêm à Igreja pedir sacramentos”, a “primavera bíblica com grupos que desejam alimentar-se da Palavra de Deus”, os “leigos em missões”, a “sede de segurança interior que abre para o espiritual”, o “despertar dos leigos chamados à corresponsabilidade dentro da Igreja”, o “desejo de aprofundar a fé”, as “famílias jovens que lutam contra a maré para se manterem cristãs” ou a “radicalidade de padres jovens que se dedicam ao acolhimento”.
As sugestões dos grupos uniram-se em torno de quatro grandes áreas da vida da Igreja: o acolhimento, a coerência entre fé e vida, a formação e espiritualidade e a reorganização pastoral.
Considerando que os cristãos vivem “com falta de entusiasmo, tristes, amargurados, acomodados e pessimistas”, talvez por influência da perda de valores da sociedade, advertiu-se para o afastamento entre esta e a Igreja, constatando-se que a Igreja “faz pouco para se integrar na sociedade”.
Neste sentido, sublinhou-se a necessidade de valorizar o acolhimento e a atenção prestada a cada pessoa, sobretudo os mais pobres, como resposta à “grande sede de Deus que muita gente manifesta”. “Ao não encontrar em nós sinais de Deus, procuram noutras realidades e experiências religiosas”, lamentou-se, apelando a uma Igreja que seja “casa de família, que acolhe, compreende e partilha as dificuldades e tristezas dos homens, que cultiva as relações interpessoais” e que cria “espaços para a escuta”.
Apelou-se à “coerência entre palavra e a acção”, ao nível pessoal e de organização pastoral, alertando para o “descrédito preocupante” que a ausência desta dimensão traz para a Igreja. Neste contexto lamentou-se o divórcio entre a vida e a fé vivido por muitos cristãos. “Se assumirmos a fé, de modo consciente, coerente e inteligente, podemos causar interrogação nos que nos rodeiam”, constatou-se, exortando-se à “radicalidade do testemunho” cristão em qualquer dimensão da sociedade. “Não podemos esperar que venham mas temos de ir ao encontro”, pediu-se.
Neste âmbito, identificou-se a falta de “presbíteros simples, humildes e próximos” e de testemunho das famílias como “primeiras educadoras da fé”, elas que são o “centro da iniciação cristã”.
A falta de agentes para a pastoral foi apontada, assim como a insistência da Igreja no “ritualismo litúrgico”, esquecendo-se de “aprofundar os fundamentos da fé” promovido através de um conhecimento sobre a Igreja e a Sagrada Escritura. “É necessário falar dos princípios da fé à luz da actualidade. É urgente conhecer os documentos do Concílio Vaticano II ao invés de falarmos da necessidade de outro concílio”, referiu-se.
Neste sentido, todos os grupos foram unânimes em considerar urgente assegurar a formação contínua dos cristãos, da infância à idade adulta, e a criação de momentos e espaços para “recolhimento, oração e silêncio”. “A formação cristã tem pouca consistência e não leva ao encontro pessoal com Cristo. Damos muita doutrina e ensinamos pouco a viver, rezar e testemunhar a fé. Pomos muito acento no activismo e criamos pouco espaço para cultivo da dimensão espiritual, o que dificilmente conduz outros para a experiência de Deus. Pomos demasiado ênfase na preparação para os sacramentos, em detrimento da vivência pessoal e comunitária com Cristo”, reconheceu-se.
Relativamente à reorganização pastoral, apelou-se à unidade contra o individualismo para que se alcance o “sentido da comunidade cristã” e a comunhão entre os diversos sectores da pastoral. Apontou-se a necessidade de “inovar para procurar novos caminhos de evangelização” e pediu-se também uma reorganização da comunidade paroquial na base da “corresponsabilidade dos vários ministérios, carismas e movimentos”, de forma a “uniformizar tratamentos para integração harmoniosa das diferenças”, para que a paróquia passe a ser “comunidade de comunidades”, “evangelizadora e enviada à missão”.
A principal sugestão nesta área foi para o abandono de uma pastoral de massas para se passar à “vivência em pequenos grupos atentos à variedade de ministérios e serviços”. “A crise de valores deve obrigar-nos a estarmos atentos, criando estruturas simples, fazendo pouco mas fazendo bem. Não temos capacidade de chegar aos jovens e suas famílias. A resposta passa por retomar a vivência das primeiras comunidades cristãs que pode ser conseguida se oferecermos espaços de acolhimento e integração”, afirmou-se.
Ao nível concreto do Algarve, sugeriu-se ainda a aposta na Pastoral do Turismo.
Antes de a Assembleia terminar, o Bispo diocesano lembrou que as sugestões apresentadas irão ser agora analisadas pela Comissão Permanente do Conselho Diocesano de Pastoral (13 de Outubro), pelo Conselho Diocesano Pastoral (20 de Novembro) e pelo Conselho Presbiteral (29 de Novembro) e depois enviadas à comissão nacional que irá acolher as propostas de todas as dioceses.
Como apelo final pediu a cada cristão que acate as orientações para si mesmo. “Quando falamos de Igreja falamos de nós. Somos nós que transmitimos a imagem da Igreja que somos”, lembrou, acrescentando que é Cristo que purifica a imagem da Igreja que está em cada um. “Para representarmos uma imagem diferente da Igreja que somos temos de reflectir a imagem de Cristo em nós. Gostaria que sentíssemos grande apelo a sermos portadores de Cristo Ressuscitado através de um anúncio alegre e ousado. Passa por cada um de nós, a resposta que somos chamados a dar a estas questões que aqui encontrámos”, concluiu.
Samuel Mendonça