Citando São João Crisóstomo, o padre Sérgio Leal, da Diocese do Porto, advertiu os cristãos algarvios que “a Igreja ou é sinodal ou não é aquilo que o Senhor espera dela”.

Na Assembleia Diocesana que teve lugar no passado dia 05 de outubro no salão paroquial de São Pedro do Mar, em Quarteira, para lançamento do novo ano pastoral da Igreja algarvia, aquele especialista em sinodalidade lembrou que “São João Crisóstomo é muito claro” ao referir que “Igreja e sínodo são sinónimos”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na conferência que proferiu sobre o tema “Sinodalidade e a Corresponsabilidade Pastoral”, o sacerdote frisou que “a corresponsabilidade está intimamente ligada à sinodalidade”. “Corresponsabilidade é um dos elementos fundacionais e estruturantes da sinodalidade que traduz em primeiro lugar o desafio de sermos testemunhas do nosso batismo”, assegurou, pedindo que a sinodalidade “não seja apenas uma palavra da moda porque as modas passam”, “nem um slogan inconsequente”. “A palavra sinodalidade remete-nos para a dimensão constitutiva da Igreja”, alertou, acrescentando que esta “constitui cada um como sujeito ativo da ação eclesial”. “A sinodalidade tem de converter-se em algo operativo e só o será quando cada um de nós se redescobrir como protagonista e responsável da ação eclesial”, sustentou.

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O sacerdote, que desde 2016 se dedica ao tema da sinodalidade, explicou que esta “não é apenas uma ferramenta pastoral”, mas “um estilo, um modo de ser Igreja para uma permanente conversão pastoral”. “Uma Igreja que não é capaz de viver este processo de conversão permanente é uma Igreja que pára no tempo e não é capaz de responder aos desafios dos homens e mulheres de hoje”, alertou, garantindo que “a sinodalidade pressupõe em primeiro lugar transformação e mudança que começa em cada um” e que, por isso, “a conversão pastoral só acontecerá quando acontecer uma conversão pessoal” assente em dois pilares: na “união a Cristo” e aos “desafios que Ele coloca a cada um” e na realidade a que cada um é chamado a dar resposta.

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O conferencista afirmou que esta “conversão pastoral” a que a Igreja é chamada permanentemente “tem de acontecer conjuntamente na diversidade de dons, de carismas, de ministérios e de serviços” e “tem de ajudar a ultrapassar a visão clerico-cêntrica” até da ação eclesial porque “os leigos não podem ser meros executores”. “Isto não pode acontecer por uma mera pastoral de substituição”, alertou, realçando que “a participação laical é sempre fundamental, independentemente do número de clérigos” e que “a complementaridade é cada vez mais necessária”. “Se a sinodalidade reconfigura o modo de ser Igreja a partir da Igreja das origens, então também se reconfigura o modo de ser pastor. A sinodalidade não pode ser uma secularização dos clérigos nem tampouco uma clericalização dos leigos”, completou, advertindo que “a sinodalidade acontece no interior de uma Igreja hierarquicamente organizada”.

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O sacerdote explicou ainda que “a sinodalidade não é um evento, não é uma estrutura, mas é um modo de ser Igreja”. “É a identidade da Igreja. Se é a dimensão constitutiva, é a sua identidade. Se é a sua identidade deve manifestar-se no seu agir”, prosseguiu, explicando que Igreja e sínodo são duas realidades “absolutamente unidas”.

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O padre Sérgio Leal definiu assim sinodalidade como “caminho conjunto” de todos – bispos, padres, religiosos e leigos – para uma “dinâmica de crescimento” conjunta. “O que se pretende não é o que cada um pensa, é o que somos capazes de pensar, de decidir, de construir juntos”, clarificou, acrescentando que esse modo de trabalhar “deve moldar todas as decisões eclesiais”. O orador disse que sinodalidade “não pode ser também um mero mecanismo sociológico”. “A sinodalidade tem de viver aberta a duas coisas que são fundamentais: o primado da graça e a ação do Espírito Santo”, prosseguiu.

Para além da “corresponsabilidade”, o preletor apresentou ainda como elementos fundacionais da sinodalidade a “igual dignidade de todos os batizados”, a “unidade na missão”, o “governo pastoral em chave de comunhão” e o “conselho como parte integrante da decisão e o discernimento como método”. Relativamente a este último elemento, distinguiu a elaboração da decisão da tomada da decisão. “A elaboração da decisão é sinodal e a tomada da decisão é ministerial”, defendeu, considerando que “o discernimento é ferramenta fundamental na sinodalidade” e que “o consenso e comunhão constrói-se a partir do discernimento”.

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A terminar, alertou que para haver sinodalidade “tem de existir fraternidade”. “O défice de sinodalidade a que assistimos na Igreja corresponde ao nosso défice de fraternidade. Uma igreja para que seja verdadeiramente sinodal, para que a corresponsabilidade pastoral seja operativa, é necessário que seja mais fraterna. Quanto melhor construirmos uma Igreja fraterna, melhor construiremos uma Igreja sinodal. Quanto mais crescemos do modo fraterno, mais cresceremos em sinodalidade e melhor testemunho daremos ao mundo”, alertou.

Por fim, considerou que, “depois de uma longa reflexão, o percurso sinodal será riquíssimo” e que seria “uma tristeza” que o processo sinodal tivesse apenas como consequência um “documento final muito interessante” e a exortação papal. “Se não se tornar operativo, torna-se estéril”, alertou.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi inaugurada no Vaticano no passado dia 04 de outubro e decorre até 29 deste mês, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’. O Papa Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.