A atualização do clero das dioceses do sul do país – realizada em Albufeira com a participação de 72 participantes, entre bispos, sacerdotes, diáconos e alguns seminaristas das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal – terminou hoje com o apelou a uma “cultura vocacional”.

“Sem uma cultura vocacional não haverá uma Igreja sinodal”, alertou o arcebispo de Évora, explicando que “a cultura vocacional significa a consciência de uma missão, de uma pretensa, de uma vinculação, de uma fidelização” e “não de um mero espectador, de alguém que vai à igreja, mas que é Igreja”. “Missão como uma componente de eclesialidade porque a sinodalidade é a consciência de ser Igreja, é a consciência da minha participação, da minha dádiva”, fez questão de esclarecer D. Francisco Senra Coelho na sessão de encerramento daquele encontro que teve início no dia 16 de janeiro e que esta tarde terminou em Albufeira, tendo contado também com a participação do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Portugal, D. Ivo Scapolo.
Constatando a existência de um clericalismo e de uma desresponsabilização laical que se contrapõem, D. Francisco Senra Coelho disse que essa dicotomia se vence “por uma dimensão aonde a sinodalidade acontece”. “Mas só acontece se houver uma cultura vocacional em que toda a Igreja desperta e compreende que tem uma missão no serviço”, advertiu, acrescentando que “isto tem de acontecer a partir da dimensão de iniciação cristã” e “tem de ser transversal porque toca todas as dimensões” da pastoral.
“Precisamos de mudar a nossa pastoral para uma cultura vocacional e isto tem de estar presente na formação dos catequistas ou dos dirigentes do escutismo, nos professores de moral. Tem de estar presente antes de tudo em nós, os pastores da Igreja”, considerou, alertando que o ministério sacerdotal “tem de ter este sabor e este odor de missão e ao mesmo tempo de vocação”. “E temos de fazer compreender a cada pessoa que está ali no cumprimento da sua missão de fidelidade ao chamamento. Não está ninguém sem ser chamado por Cristo ou através da sua Igreja. Se não tivermos esta dimensão não vamos ser uma Igreja de ministérios. Vamos ter pessoas que prestam serviços”, acrescentou.
Aquele responsável pela Província Eclesiástica de Évora, que engloba não só esta arquidiocese, mas também as dioceses do Algarve e Beja, destacou que os seus bispos põem “muita esperança” naquele encontro. “Quando conversámos pela primeira vez sobre este tema do biénio vocacional, pusemos muita esperança neste encontro, que ele havia de ser um momento de viragem”, disse D. Francisco Senra Coelho, referindo-se ao triénio vocacional de 2021/2024, no qual as três dioceses estão empenhadas, e garantindo a “necessidade absoluta” de agora o compreenderem, aproveitando “a sinergia das jornadas”. “Compreender que há de ser a partir daqui que havemos de viver depois a dimensão da sinodalidade”, completou.

Salientando a “universalidade” daquelas jornadas, que considerou “uma grande riqueza”, o arcebispo do Évora acrescentou que a questão da disponibilidade dos ministros ordenados “é fundamental para o crescimento interior da consciência vocacional”. “É importante perceber que quando temos disponibilidade os jovens começam a procurar-nos”, disse, acrescentando: “gostaríamos muito que houvesse uma mudança de consciência que é a partir da cultura vocacional que teremos também uma pastoral juvenil comprometida na descoberta do seu caminho, uma pastoral que não é um ATL de sabor cristão, mas é um compromisso de caminho de construção, de crescimento interior de cada um, de vencer a banalização e uma atitude muitas vezes de vida descomprometida, mas o descobrir-se naquilo que é o seu caminho”.
D. Senra Coelho disse ao clero que deve “ser fermento de levedura, de entusiasmo, de consciencialização, porventura de comunidades que estão paradas, que ainda não acordaram a menos de 200 dias da Jornada Mundial da Juventude”. “A consistência do que vai ficar tem muito a ver com aquilo que foi preparado, com os alicerces que foram lançados”, alertou.
O bispo do Algarve, referindo-se à questão da inteligência artificial abordada naquelas jornadas, manifestou a preocupação de se ajudar os jovens a “preparem-se para esse futuro” que ainda não é muito conhecido. “É um mundo que não nos deve assustar. Deve-nos é entusiasmar e, sobretudo, interpelar como podemos preparar os nossos jovens para viverem nesse mundo e como nós próprios devemos usufruir também desse mundo que está a chegar”, afirmou D. Manuel Quintas, considerando que aqueles dias de formação ajudam os participantes a serem “melhores servidores e pastores” das suas dioceses e da Igreja em Portugal.
O bispo do Beja, D. João Marcos, destacou que aquela iniciativa traz “elementos importantes” que ajudam os participantes a situarem-se melhor no trabalho pastoral que desejam desenvolver.
Já o administrador diocesano de Setúbal destacou a “possibilidade de troca de pareceres, de opinião, de experiências” daquele modelo de formação permanente. O padre José Lobato realçou as “perspetivas variadas, mas convergentes da sinodalidade e a projeção desta na pastoral juvenil, sobretudo sublinhando o lugar e o protagonismo dos jovens”. “Creio que é para a nossa diocese meta a atingir que os jovens não tenham apenas lugar decorativo nas nossas igrejas. É oportuno em Setúbal e vamos trabalhar e, sobretudo, aplicar à preparação da Jornada Mundial da Juventude”, completou.

A atualização do clero das dioceses do sul realizou-se sobre o tema “Igreja Sinodal, uma Igreja atenta aos Sinais dos Tempos”, tendo como pano de fundo o Sínodo sobre a sinodalidade, mas também sobre a Jornada Mundial da Juventude deste ano em Lisboa e o tema das vocações.