“Estas áreas queimadas têm que ser tratadas nos próximos meses, correndo o risco de podermos estar a poluir água de abastecimento das barragens”, afirmou hoje António Eusébio aos jornalistas no final de uma reunião com a comissão interministerial para o apoio às vítimas dos fogos florestais, que decorreu hoje em Lisboa.
De acordo com o autarca, o assunto foi um dos abordados na reunião de hoje. “Temos que encaminhar e tratar toda a massa florestal que ficou queimada em carvão e que não deve ficar naquele espaço”, disse.
A “importância de precaver algumas questões ambientais”, foi também referida pelo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, David Santos, que, tal como os autarcas de São Brás de Alportel e Tavira, também participou hoje na reunião.
“Se não forem rapidamente realizadas intervenções”, poderá haver “penetração para aquíferos ou até para as barragens de água, uma questão muito importante para o Algarve”, disse.
De acordo com David Santos, “aquela é uma zona de recolha de água nas barragens e fornecimento para o Sotavento algarvio”.
Na segunda-feira, o vice-presidente da associação ambientalista Quercus já tinha dito, em declarações à Lusa, que os incêndios que destruíram vários hectares de floresta e mato na Madeira ou no Algarve podem provocar problemas futuros devido à fragilização do solo.
De acordo com João Branco, após estes incêndios o “solo vai ficar mais desagregado” e “passam a haver grandes arrastamentos de terra” o que “pode provar erosão”.
O dirigente da Quercus admitiu que, com os incêndios da última semana, aumenta a probabilidade de se voltarem a repetir enxurradas no inverno como as que ocorreram recentemente na Madeira.
“Na ausência de vegetação há muito menor infiltração da água o que provoca maior escorrência superficial. Em situações anómalas de precipitação a ausência de vegetação vai agravar os efeitos das enxurradas e poderá haver enxurradas que não ocorreriam se estivesse lá a vegetação”, assinalou João Branco.
O incêndio da Serra do Caldeirão deflagrou cerca das 14:00 de quarta-feira em Catraia, na freguesia de Cachopo, concelho de Tavira, tendo alastrado até ao concelho de São Brás de Alportel.
As chamas só foram dominadas ao final da tarde de sábado, depois de um prolongado combate que chegou a mobilizar mais de 1.100 operacionais, 13 meios aéreos e mais de duas centenas de veículos.
A Proteção Civil admitiu nesse dia que o rescaldo se poderia prolongar por vários dias.
Lusa