O autor do ‘Say Yes – aprender a dizer sim’, itinerário para adolescentes de preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2022, em Lisboa, veio na passada terça-feira ao Algarve apresentar o projeto e adiantou que a ideia é que depois daquele evento com o papa haja um “programa oficial” de “catequese com adolescentes, para adolescentes, a nível nacional”.

O padre Tiago Neto, que é também o responsável pelo Setor da Catequese do Patriarcado de Lisboa, disse no encontro participado pelo bispo do Algarve e por cerca de 160 párocos e catequistas que teve lugar no salão da paróquia das Ferreiras, que o anúncio da JMJ de Lisboa é um dos “três fatores que constituem a génese do projeto”, entretanto adotado pela Comissão Episcopal Educação Cristã e Doutrina da Fé. “A JMJ pareceu-nos ser um bom pano de fundo ou ponto de apoio para propor um itinerário”, afirmou, considerando que “as JMJ representam uma forma da Igreja estar no mundo e de se relacionar com as novas gerações”.
Os restantes dois fatores que levaram à criação do projeto de catequese, destinado a adolescentes dos 12 aos 16 anos, do 7º ao 10º ano de catequese, são uma “tentativa de repensar a pastoral dos adolescentes” e o “trabalho conjunto que as dioceses de Lisboa, Leiria, Setúbal, Santarém e Castelo Branco estão a fazer nessa área”.
A estes fatores, o formador acrescentou um outro que disse ser “essencialíssimo” e que foi a realização do Sínodo dos Bispos sobre os jovens em novembro do ano passado. “O Sínodo pediu que passássemos de uma pastoral de eventos a uma pastoral de processos. O objetivo do ‘Say Yes’ é iniciar um processo que não seja um programa de catequese, mas uma experiência de caminho e que nos coloque a todos nós num processo de renovação do que fazemos e do que somos como cristãos e como catequistas”, frisou no encontro promovido pelo Setor da Catequese da Infância e Adolescência da Diocese do Algarve.
O padre Tiago Neto deixou claro que o projeto pretende “ser uma experiência de laboratório”. “Durante três anos, as paróquias que se querem inscrever neste projeto participam nele quase como «cientistas» que entram num laboratório e vão experimentar e ver se por aqui há alguma pista que lhes possa indicar o caminho”, referiu, adiantando haver já “mais de 40 mil” inscritos em todo o país, incluindo os das cerca de 20 paróquias algarvias já aderentes.

O sacerdote disse que a proposta visa “promover uma catequese ativa e participativa, não no sentido de uma animação”, mas que os adolescentes “procurem ser protagonistas na escolha do seu próprio caminho formativo”. Como objetivos enumerou o “crescimento como pessoa numa espécie de ecologia global, em todas as dimensões do seu crescimento”, a “descoberta de Deus”, sublinhando a importância de entenderem a “oração como tempo privilegiado de encontro consigo próprio e com Deus” e a “dimensão do compromisso”, aprendendo a “comprometer-se em Igreja no anúncio do amor de Deus pelo serviço e pela missão”.
Ao longo dos três anos serão trabalhados os 15 encontros internacionais das JMJ (cinco por ano), sendo que o primeiro ano incidirá nos de Roma (1986) a Denver (1993), o segundo ano nos de Manila (1995) a Colónia (2005) e o terceiro ano nos de Sidney (2008) ao Panamá (2019). “Os temas de cada jornada vão ser trabalhados, mas procura-se muito atualizar para a vida do adolescente aquilo que é a temática de fundo”, afirmou o padre Tiago Neto.
O autor destacou ainda que o itinerário procura “que os adolescentes saiam em missão, concretizando projetos de serviço e de evangelização”. “É importante perceber que os projetos têm de ser coisas possíveis”, alertou, acrescentando que esta dimensão prática visa “que a partir do que se vai refletindo e rezando os adolescentes sejam capazes de fazer uma opção concreta para transformar uma realidade”. “Que nos libertemos de projetos isolados e que os projetos tenham alguma continuidade e consistência de modo a corresponsabilizar os adolescentes com algo que eles escolham”, pediu, explicando que o projeto pode ser “de intervenção na comunidade”, “mais alargado no sentido de envolver outras instituições e outros grupos da paróquia” ou “mais ligado ao crescimento do grupo”. “É necessário que os projetos não apenas entretenham, mas construam a personalidade”, sustentou.
O sacerdote disse ainda que “uma das dimensões essenciais deste projeto” é “que os catequistas envolvidos também se sintam corresponsáveis neste trabalho de avaliação do que fazem”. Àqueles educadores deixou ainda outros desafios. “É importante nos situarmos diante desta realidade que é a do nosso trabalho com os adolescentes, percebendo que eles são o lugar onde Deus nos fala hoje”, afirmou, pedindo-lhes que “constituam uma comunidade de vida”, ou seja, uma “equipa de catequistas”. “O que é necessário e essencial aos catequistas é que apreendam a lógica de trabalhar em conjunto que está por detrás do ‘Say Yes’”, completou, explicando que o projeto pode ser adaptado, mantendo o “essencial”.
O padre Tiago Neto, que apresentou a estrutura completa do itinerário que tem no sítio educris.com um espaço para apresentação do projeto e disponibilização de recursos, garantiu ainda que a indicação dada pelo Comité Organizador da JMJ é que a idade mínima de participação “é mais indicativa e tem mais a ver com a realidade psicológica do que com a idade cronológica”.
O bispo do Algarve garantiu que esteve presente não apenas para deixar uma “palavra de estímulo” e de agradecimento aos participantes pelo seu serviço, mas para “formação pessoal”. “Estava interessado em conhecer este projeto que não só é arrojado, mas também é muito arejado. É uma lufada do Espírito e penso que pode dar uma alma nova a esta missão que é a vossa e é tão difícil”, afirmou D. Manuel Quintas.