O presidente do Banco Alimentar do Algarve disse na última sexta-feira que em 15 anos de existência aquela instituição distribuiu “23,5 milhões de quilos de alimentos, equivalente a 70,8 milhões de refeições confecionadas e 26,4 milhões de euros em apoio alimentar” na região.

Nuno Cabrita Alves destacou aqueles que considerou serem “números um pouco impressionantes” no encontro promovido pelo núcleo algarvio da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores que teve lugar em Faro no salão paroquial de São Luís.

Aquele responsável indicou que o Banco Alimentar do Algarve “é o quarto maior” a nível nacional, no conjunto dos 21 existentes, “pela dimensão que tem e pelo trabalho que faz”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Como marcos nestes 15 anos de vida, Nuno Cabrita Alves identificou necessariamente os anos de pandemia de Covid-19. “Em 2020 e 2021, os valores são sobejamente grandes face àquilo que era expectável e conseguimos mais doações, parceiros e excedentes alimentares. Isso permitiu-nos responder também em paralelo a um aumento exponencial e único na procura ao longo destes 15 anos”, contou.

O presidente do Banco Alimentar do Algarve explicou que, em 2019, a instituição apoiava 15.500 pessoas e em 2020, no espaço de três semanas, passou a apoiar 25.000. “A pandemia não é dada ainda como terminada, mas os valores de pessoas apoiadas desceram apenas para 23.000 e não estimamos estar em valores de pré-pandemia tão cedo e isso preocupa-nos”, sustentou.

Nuno Cabrita Alves explicou ter sido estabelecida uma “parceria muito forte” entre a instituição Entreajuda e a Federação Portuguesa de Bancos Alimentares que criaram a Rede de Emergência Alimentar. “O objetivo primeiro desta rede de emergência era conseguir ter capacidade de resposta aos pedidos das pessoas”, lembrou, acrescentando que a parceria juntou 300 empresas que “financeiramente apoiaram com 7,5 milhões de euros”, o que “permitiu comprar alimentos e que durante estes dois anos o cabaz do Banco Alimentar não ficasse em falta pela ausência de campanhas” de supermercado que não se puderam realizar.

O presidente do Banco Alimentar do Algarve destacou ainda nestes 15 anos de existência a abertura do armazém em Portimão em 2012 “para reforçar todo o apoio ao barlavento” e a angariação de “câmaras frigoríficas de grande capacidade”, também naquele ano, que permitiu passar a receber produtos como iogurtes, frutas ou hortícolas. “Por essa mesma razão tivemos um disparar das doações entre 2012 e 2017”, acrescentou.

Nuno Cabrita Alves aludiu ainda à contrapartida da entrega de resíduos, nomeadamente papel, cartão e vidro, paga pela ALGAR. “Permite-nos reforçar os cabazes com alimentos, nomeadamente leite, conservas de peixe, leguminosas secas e azeite”, explicou, acrescentando que este ano já foram distribuídas cerca de 50 toneladas de produtos por via desta parceria. “É o Banco Alimentar do Algarve que lidera esta campanha há muitos anos com cerca de 400 a 500 toneladas de resíduos movimentados por ano”, garantiu.

Aquele responsável referiu-se ainda à recolha diária de excedentes alimentares, assegurando que “recolher excedentes no Algarve em 61 pontos de recolha o ano passado significou recuperar perto de 800 toneladas de alimentos na região”. “Em Portugal existem 11 bancos alimentares que movimentam menos de 500 toneladas”, adiantou para ilustrar a boa prestação no Algarve, apelando a “que quando há excedentes alimentares não sejam deitados ao lixo”.

Nuno Cabrita Alves previu dificuldades nos próximos tempos, tendo em conta a conjuntura de crise com a subida das taxas de juro, da inflação, do valor das matérias-primas, dos combustíveis e energia. “Estamos a caminhar para a «tempestade» perfeita”, afirmou, explicando que “o número de pedidos está a aumentar”. “Já o sentimos há cerca de 3 ou 4 semanas. É expectável que os pedidos de ajuda aumentem e tenham um impacto significativo”, lamentou.

O encontro com cerca de 30 empresários e gestores, transmitido em direto nas redes sociais pela Mais Algarve e pelo Folha do Domingo, contou ainda com a apresentação do projeto ‘Semáforo’ da ACEGE, feita por Diogo Alarcão, membro da direção executiva da associação e coordenador daquela iniciativa.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No final das conferências, o bispo do Algarve, que antes do encontro presidiu à Eucaristia com que se iniciou aquela atividade, manifestou a sua “inquietação” pelo facto de o Banco Alimentar do Algarve a ser o quarto maior a nível nacional numa rede de 21 bancos alimentares. “Quero congratular-me e exprimir o meu reconhecimento ao Banco Alimentar do Algarve pelo serviço que está a fazer nestes 15 anos. Tem dado uma resposta tão expressiva e significativa às necessidades do Algarve. Merece o nosso reconhecimento e o nosso apoio”, afirmou ainda assim D. Manuel Quintas.

Aquele responsável católico referiu-se também ao projeto da ACEGE que considerou “impressionante”. “Dá para entusiasmar porque vemos que têm uma aplicação prática, muito incisiva. “Está bem estruturado, bem coordenado”, afirmou.

Já durante a Missa, D. Manuel Quintas se tinha referido a “outras dificuldades do ponto de vista económico, consequência ou não da guerra”, advertindo que “não se adivinham tempos fáceis”.