A diretora da Cátedra de Estudos Bíblicos Judaicos e Cristãos da Universidade Católica Portuguesa apelou hoje ao clero do sul do país a retomar a “proposta dos Sábios dos Livros dos Provérbios” para “desenvolver uma cultura da escuta” da juventude.
“Este testemunho da escuta que somos capazes de exercitar uns com os outros é muito importante para os jovens. Os jovens não aprendem a escutar porque lhe possamos fazer grandes conferências sobre isso, mas porque poderão ver-nos a escutar uns aos outros”, advertiu a irmã Luísa Almendra, que abordou o tema “Reflexões dos sábios de Israel sobre a juventude”.
“Com Qohelet compreendemos que esta escuta e este discernimento não devem ser desenraizados do mundo normal em que a juventude vive, mas antes saber fazê-la ali mesmo onde o jovem está, isto é, nas suas situações concretas de vida”, desenvolveu, explicando que se trata de “ajudar os jovens a alegrarem-se e a encontrar o sentido da vida, desenvolvendo uma dimensão do dom”.

“Se Provérbios apela à escuta, Qohelet apela a nunca esquecermos que a vida é um dom, inteiramente gratuito (que até nem depende daquilo que possamos fazer ou não fazer) que lhes vem de um Deus criador e que a felicidade que tanto desejam é um dom de um Deus que nunca dominaremos”, acrescentou.
A irmã Luísa Almendra constatou que hoje “os jovens vivem entre dois mundos culturais, dois fortes e intensos apelos: a herança judaico-cristã à escuta e a influência helenista que idolatriza a imagem”, onde esta é o importante porque “vale mais que mil palavras”.
A religiosa referiu ainda que “os sábios de Israel tinham uma forte consciência dos perigos que ameaçavam a juventude”. “Eles citam como um dos mais relevantes o da intensa exposição dos jovens a uma sedução que hoje continua a operar-se através de uma linguagem de palavras onde se invertem os valores e é difícil discernir o seu objetivo, o perigo das aparências até mesmo falar”.
“Resta perguntar-nos: que sábios têm hoje os nossos jovens?”, questionou, garantindo que os jovens de hoje são também eles “fruto dos sábios de hoje, da sua voz e do seu apelo”. “A sua relação com os sábios de hoje continua a ser forte”, constatou, alertando que os jovens “serão reflexo da sabedoria que encontrarem e testemunharem”. “Nós somos os sábios para os jovens de hoje”, assegurou, aconselhando: “num momento em que os sábios e a sabedoria da Igreja vivem momentos conturbados não existe outra solução senão a de intensificar uma relação com a Palavra de Deus, a única capaz de superar a fragilidade da nossa humanidade”.
Neste sentido, desafiou a Igreja a inspirar-se na “humildade do sábio de Israel” que “se limitava a sugerir, a apelar” e “nunca a impor”, lembrando a memória que os primeiros cristãos tiveram de que “até os sábios são chamados a escutar também os mais jovens”.

A atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal está a decorrer desde segunda-feira em Albufeira e conta hoje com a participação do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Portugal, D. Ivo Scapolo.