D. Manuel Quintas presidiu ontem à noite, na Sé de Faro, à eucaristia de início desse período de 40 dias – excetuando os domingos -, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.

Cintando a mensagem do Papa para a Quaresma deste ano, lembrou que “a caridade é a fé em ação, em movimento”. “Se a fé não estiver unida à caridade esta pode tornar-se simples filantropia e desligar-se totalmente da sua essência que é a presença do amor de Deus em nós e, através de nós, nos outros. As obras para serem verdadeiramente obras de Deus, operadas em nós e através de nós, têm que ter como fundamento a caridade”, advertiu.

Com base no documento papal, o prelado sublinhou que a fé é “dom de Deus” mas também “acolhimento, adesão e resposta pessoal a este dom”. “E este dom é, acima de tudo, o seu amor por nós manifestado, plenamente, na pessoa de Cristo. Por isso, esta fé quer dizer, antes de mais, acolher este amor de Deus, deixar-se amar e corresponder a este amor”, frisou o prelado.

O bispo do Algarve lembrou que a Quaresma, que destacou como um “tempo favorável, de graça e de salvação”, é sempre um caminho que conduz à centralidade do mistério de Cristo, à sua paixão e morte na cruz e à sua ressurreição”, ou seja, ao “núcleo essencial” da fé.

D. Manuel Quintas salientou ainda o tempo da Quaresma como um “tempo de verdade”. “É um tempo de verdade, a respeito de nós mesmos, no confronto com os apelos que a palavra de Deus, a partir deste dia, nos fará ao longo destes 40 dias”, complementou.

Neste sentido, o prelado destacou o apelo da palavra de Deus à “conversão, à mudança de vida, à penitência”, a partir dos “instrumentos” que a própria Igreja dispõe para operar essa conversão ao longo da Quaresma: a oração, a esmola e o jejum. D. Manuel Quintas evidenciou essa “tríade essencial” que conduz à “verdade da conversão”, mas apelou igualmente a uma “escuta mais atenta da palavra de Deus” e a “uma oração mais viva e mais sentida”.

O bispo do Algarve recomendou ainda aos católicos que façam da mensagem do Papa para este tempo “subsídio de oração e meditação”. “Estes princípios que o Papa nos apresenta da ligação da fé à caridade podem iluminar este caminho de conversão pessoal ao longo desta Quaresma, sobretudo de resposta ao amor de Deus, manifestado em Cristo, traduzido em gestos e atitudes no amor aos outros”, considerou.

A celebração teve continuidade com o rito de imposição das cinzas aos presentes. Tanto na Bíblia como na prática da Igreja, impor as cinzas sobre a cabeça é sinal de humildade e penitência. A sua imposição lembra aos fiéis a origem do homem – “recorda-te que és pó e ao pó hás de voltar” – e pretende simbolizar a renovação do compromisso de seguir Jesus, fazendo morrer o "homem velho", ligado ao pecado, para fazer nascer o "homem novo", transformado pela graça de Deus. Por isso, ao colocar um pequena porção de cinzas sobre a cabeça, o ministro ordenado pronuncia a frase “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.

Samuel Mendonça