© Samuel Mendonça
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O bispo do Algarve deixou, no primeiro dia deste novo ano, apelos à fraternidade e condenou o tráfico de seres humanos e a especulação financeira.

No dia 1 de janeiro de 2014, em que se celebrou o Dia Mundial da Paz e a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, D. Manuel Quintas presidiu, uma vez mais, à celebração da eucaristia no Santuário de Nossa Senhora da Piedade (popularmente conhecida como Mãe Soberana), em Loulé, o santuário mariano de maior expressão no Algarve.

© Samuel Mendonça
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Citando o Papa na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, intitulada “Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz”, o prelado sublinhou o apelo de Francisco para os cristãos que tenham uma “vida plena” com “aspiração irreprimível de fraternidade”. D. Manuel Quintas prosseguiu na exortação à comunhão com os outros, lembrando que não são “inimigos ou concorrentes”, mas “irmãos” que se devem “acolher e abraçar”. “A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura”, citou.

Continuando a ler o documento escrito por Francisco, o bispo do Algarve disse ser “necessário que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada”. “Por vezes, pensamos que a solidariedade já diz tudo. O Papa diz-nos que a fraternidade tem um conteúdo muito superior. Uma coisa é ser solidário com alguém, outra coisa é ser irmão. Só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade”, diferenciou.

Neste contexto, D. Manuel Quintas pedira no início da homilia a cada cristão que a sua vida “reflita o rosto de Deus”. “Quanto mais a nossa vida refletir o amor com que Deus nos ama, mais reflete essa presença de Deus em nós. O amor de Deus reflete-se na minha quando eu vou ao encontro das necessidades dos outros, quando tenho gestos fraternos”, sustentou.

O bispo do Algarve referiu-se à popular expressão “ano novo, vida nova”. “Vida nova só o será verdadeiramente se Deus fizer parte dos nossos projetos pessoais e se o acolhermos cada dia do ano e não apenas aos domingos”, advertiu.

D. Manuel Quintas lembrou as denúncias do Papa aos “atropelos à Paz e aos Direitos Humanos”, lamentando que o tráfico de seres humanos esteja “infelizmente em situação crescente”. “Ficamos alarmados quando conhecemos notícias a este respeito. Como é que é possível enriquecer à custa do tráfico de seres humanos, sob cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos?”, questionou.

Referindo-se também à especulação financeira, o bispo do Algarve lembrou que “as grandes guerras nos dias de hoje já não são com armas, são com dinheiro”. “É o mundo da finança, são os mercados”, sustentou, lembrando que “o Papa tem dito muitas vezes que agem de maneira silenciosa mas muito eficaz, desestruturando tudo”. “Por vezes, esquecemo-nos de denunciar este tipo de guerra, silenciosa mas muito eficaz e profundamente injusta”, lamentou.

D. Manuel Quintas referiu-se ainda ao Dia Mundial da Paz, consagrado desde 1968 pelo Papa Paulo VI. “Somos convidados a consagrar este dia à oração pela Paz, crescendo sempre mais na consciência da nossa importância pessoal para a construção da paz, particularmente à nossa volta”, afirmou.

© Samuel Mendonça
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Naquela eucaristia, que procurou não só ser “de ação de graças por todos os bens” concedidos por Deus ao longo do último ano mas também “evocar a bênção de Deus e a proteção de Nossa Senhora” para 2014, D. Manuel Quintas explicou por que é que a liturgia da Igreja convida, logo no primeiro dia do ano, a celebrar Nossa Senhora com o título de Santa Maria, Mãe de Deus. “Maria é modelo de todo o crente que acolhe a bênção de Deus e colabora com Ele na realização deste projeto libertador e salvador”, justificou.

No final da celebração, o bispo do Algarve, que consagrou o novo ano a Nossa Senhora, desafiou os algarvios a serem bênção para uns os outros. “Que da nossa boca saiam apenas palavras de bem-dizer – dizer bem dos outros e fazer bem aos outros – como expressão da fraternidade”, pediu.

Homilia de D. Manuel Quintas: