
Nesta noite, em que presidiu na Sé de Faro à Missa da Ceia do Senhor, o bispo do Algarve considerou que, através do “gesto eloquente”, que “fala por si mesmo”, de lavar os pés aos apóstolos Jesus quis dizer que “viver é igual a servir”.
Na eucaristia, em evocou o gesto de Cristo, lavando os pés a 12 homens da paróquia da Sé de Faro, D. Manuel Quintas destacou a simbologia do mesmo. “Os pés, sabemos que é um gesto simbólico, para que eu acerte o meu passo com o de Cristo e caminhe por caminhos de amor, de perdão, de misericórdia, da verdade, do bem e da paz. Por vezes, ficamos com um caminhar pesado, arrastamos os pés. Acertar o passo com o passo de Cristo significa acertar o batimento do coração com o batimento do coração de Cristo”, explicou.

“Lavar os pés uns aos outros quer dizer manter o bom nome do outro sempre limpo, não denegrir a sua honra pelas nossas palavras, respeitar e promover o outro na sua dignidade, bem como respeitar as suas opções, por vezes diferentes das nossas, as suas opiniões, aceitar as suas fragilidades, mesmo físicas e morais, dispor-se a ajudar a superá-las”, alertou.
Neste sentido, advertiu também para a necessidade de pedir a Jesus que “lave também a língua” de cada um. “A necessidade de purificar a nossa palavra, o modo como julgamos, apreciamos e, às vezes, como condenamos os outros”, explicou, alargando a simbologia às mãos. “Lavar as mãos para que eu possa socorrer, erguer, amparar, cuidar, acariciar, perdoar, construir a paz. Que as nossas mãos fiquem sempre abertas, para que sejam sempre mãos estendidas que socorrem, que acolhem, que erguem, que amparam quem vacila”, desenvolveu.

“Talvez também pedíssemos ao Senhor, como Pedro, que nos lavasse a cabeça”, acrescentou, lembrando que neste caso significa “mudança de mentalidade, postura e atitudes, uma opção mais decidida pelos valores do evangelho”. “Uma adequação da nossa vida àquilo em que acreditamos, celebramos, à fé que professamos”, complementou.
O bispo do Algarve evidenciou ainda que naquele gesto “está também a novidade da atitude de Jesus”, o “mandamento novo”. “A novidade não está no amar os irmãos. A novidade está no modo, não está simplesmente em amar-nos uns aos outros. Está em amar-nos como Ele nos amou. Isto é que é a novidade”, enfatizou o prelado, considerando que Jesus coloca a “fasquia muito alta”.
“Isto leva-nos a estabelecer uma relação muito íntima com a eucaristia porque Ele, na eucaristia, está mesmo ali como quem serve, permanentemente e silenciosamente ao nosso dispor. Mas podíamos dizer também: eficazmente ao nosso dispor porque é o pão da vida”, acrescentou.

D. Manuel Quintas considerou assim que o novo “mandamento do amor”, a partir da própria eucaristia, compromete os cristãos a “amar”, “acolher” e a fazerem-se “«alimento» para os outros”. “O «fazei isto em memória de mim» quer dizer isso também, quer dizer celebrar a eucaristia na nossa vida, sendo «pão» partido para os outros, «pão» presente nos nossos gestos que são «alimento» para os outros, na nossa palavra que apoia, que sustenta, que fortalece e que ampara os outros”, observou.
Lembrando que naquela celebração, a Igreja evoca a Última Ceia, na qual Jesus instituiu a própria eucaristia e também o sacerdócio, o bispo diocesano manifestou a união e comunhão da diocese algarvia “com toda a Igreja” e “com todas as vicissitudes humanas”. “Queremos ter presente, de maneira particular, as vítimas, mortos e feridos, provocadas ontem [quarta-feira] pelo acidente na ilha da Madeira. Certamente todos nós nos sentimos próximos daqueles que perderam a vida e apresentamos ao Senhor aqueles que ficaram feridos, particularmente também as suas famílias. Que a nossa oração nesta noite especial, nesta eucaristia, possa aliviar o seu sofrimento”, afirmou no início da celebração.
A Missa Vespertina da Ceia do Senhor introduz na celebração do Tríduo Pascal, considerado o coração do ano litúrgico, o tempo particularmente significativo para toda a Igreja e para cada cristão pela celebração dos mistérios fundamentais da sua fé: a instituição da eucaristia e do sacerdócio, a paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Como é hábito, no final da celebração o Santíssimo Sacramento foi levado em procissão e colocado em lugar de destaque no interior da catedral para veneração e adoração dos fiéis por só se voltar a celebrar a eucaristia na Vigília Pascal de Sábado Santo.
No dia de hoje, Sexta-feira Santa, aliturgico por ser o único do ano em que a Igreja não celebra a Eucaristia mas a paixão e morte de Jesus Cristo, imperam o silêncio, o jejum e a oração.

A celebração da tarde, centrada na adoração da cruz, nas igrejas com os altares desnudados desde a noite de Quinta-feira Santa, é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão eucarística.
À noite será realizada a Procissão do Enterro do Senhor. A mais significativa do Algarve decorrerá em Faro pelas 21h, presidida pelo bispo do Algarve, a partir da igreja da Misericórdia, percorrendo as principais ruas da baixa da capital algarvia.