«Levar a vida à oração e a oração à vida», foi o ponto fulcral da catequese de D. Manuel Neto Quintas, realizada no passado domingo, dia 21 de março, durante a oração de Vésperas, a que presidiu e que teve lugar na Capela do Seminário de S. José, em Faro.
Os cristãos, nas palavras do Bispo do Algarve, são chamados à oração quotidiana (individual, familiar ou comunitária), própria de quem deseja estabelecer uma relação profunda com Deus, uma oração que não «se reduza a alguns momentos do dia/semana, dando a ideia de ser algo intermitente, ocasional, desligado da vida, com tudo o que a carateriza nas diferentes idades e opções a que estamos constantemente sujeitos (imprevistos… pandemia…)», afirmou. Aliás, esta oração diferencia, conforme explicou o prelado algarvio, a «Igreja como povo sacerdotal», «povo consagrado ao Senhor», ou seja, um povo que tem nos «sacramentos do batismo e do crisma» a sua identidade, «não confundindo o sacerdócio da Igreja com o sacerdócio para a Igreja», salientou D. Manuel Neto Quintas, já que este último «tem como fundamento o sacramento da ordem», aquele que permite que existam diáconos, presbíteros e bispos.
Este povo sacerdotal, consagrado a Deus na Aliança que este estabeleceu com Moisés (Ex 19,5-6), é um «povo cuja existência só tem sentido no Senhor, na sua consagração ao Senhor, um povo cuja existência se transforma numa liturgia, num culto ao Senhor», disse o Bispo do Algarve. Isaías (Is 61,6), referindo-se à Nova Aliança, aquela que seria estabelecida através de Jesus, volta a salientar este aspeto, conforme explicou D. Manuel Neto Quintas: «Esta nova Aliança fará surgir, como espera o profeta, um povo plenamente fiel ao Senhor, totalmente consagrado a Deus, ao seu serviço, à sua glória. É por isso que será um povo sacerdotal». Ou seja, um povo cuja «qualidade essencial e constitutiva» é «uma condição de eleição, de consagração e de graça própria de todos os batizados».
Também Cristo é sinal desta «qualidade sacerdotal», que se manifesta em todos os momentos da sua vida. «Na Nova Aliança celebrada por Cristo», declarou o Bispo do Algarve, «o Templo de Jerusalém é substituído por um novo santuário, edificado com pedras vivas, todos os batizados, na sua relação de fidelidade a Cristo». E acrescentou: «A Igreja é o templo espiritual, devido à sua união a Cristo, Ele que afirmou ser o novo templo reconstruído na ressurreição (Jo 2,19). O santuário, feito de pedras vivas, onde Cristo continua a exercer o seu sacerdócio celeste, é a Igreja com quem se identifica ao ponto de com ela oferecer continuamente a sua vida para salvação do mundo. É essa união a Cristo e a abertura ao seu amor, que fazem da Igreja um povo sacerdotal».
Por isso, todos os cristãos são convidados «oferecerem-se a si mesmos como vítima viva, santa, agradável a Deus (LG 11), nas diferentes circunstâncias da própria existência», procurando «honrar a Deus na vida quotidiana concreta, feita de visibilidade relacional e percetível», procurando não se acomodar, mas sim deixar-se «transformar, mediante a renovação da mente, para poder descobrir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito», sustentou D. Manuel Neto Quintas.
Por isso, a verdadeira oração, aquela que, como dizia o prelado algarvio, leva a vida à oração e a oração à vida, implica que não se reduza «a um simples oferecimento matinal a Deus, mas em assumir verdadeiramente que – desde manhã até à noite e da noite até de manhã – Deus é o primeiro, o antes de tudo, na própria vida com a decisão de O amar e de O glorificar com a própria existência». Sendo pedras vivas somos permanentemente desafiados a entregar tudo o que somos e fazemos como verdadeira e total oração, vivendo um «culto espiritual» (como dizia S. Paulo, Rm 12,1-2), no qual nos revestimos «das vestes do amor».
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