O bispo do Algarve desafiou, na missa deste Domingo de Páscoa, cada pessoa a um “olhar de fé, de amor e de misericórdia” sobre este tempo e, particularmente, sobre si própria para “captar os apelos” do Espírito.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Para além de todas as consequências nefastas deste vírus, assusta-nos o «silêncio» que povoa as nossas cidades, que se abateu sobre o nosso relacionamento social e humano, e nos impede até de estar com a nossa família alargada, inclusive em dia de Páscoa. Antes a «agitação quotidiana» não nos deixava respirar, queixávamo-nos; agora, sem ela, parece que nos falta o ar…”, contextualizou, na eucaristia da solenidade da Páscoa a que presidiu esta manhã na Sé de Faro, sem a presença de assembleia devido à pandemia do novo coronavírus.

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O bispo diocesano considerou ser “para o silêncio, para o deserto, que Deus convida o seu povo, para lhe falar ao coração” “de amor e de misericórdia”, convidando-o a “repensar a verdade” da sua fé e da sua confiança n’Ele e a “qualidade do culto” que lhe presta; a “questionar os princípios que inspiram” as suas “opções” e “atitudes”; a aperceber-se da “vulnerabilidade” humana e das “falsas e supérfluas seguranças”, em que apoia os seus “projetos, hábitos e prioridades”; a “constatar a facilidade” com que remete para o “esquecimento e o dispensável aquilo que nutre, dá força e suporte” à sua “vida pessoal e cristã”, bem como à “vida familiar e cívica”; a “verificar os equívocos e subterfúgios” de que se vale nas suas opções, deixando-o “sem referências e sem defesas, inclusive espirituais, em tempo de adversidade e de provação”.

Neste “dia de alegria” “porque Cristo ressuscitou”, D. Manuel Quintas apresentou um “triplo convite” “à fé, que é adesão a Cristo Ressuscitado”, “à alegria, unida à esperança”, e “ao testemunho” de quanto se celebra hoje.

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“Queremos acolher o convite a renovar a fé pascal, em Cristo crucificado, morto, sepultado e ressuscitado, apoiados na sua cruz, qual âncora que nos salva, leme que nos guia a porto seguro, abraço que nos cura, para que nada nem ninguém nos separe do seu amor redentor”, prosseguiu na homilia da eucaristia transmitida em direto pela internet.

O bispo do Algarve convidou os cristãos a lançar um “olhar de fé” sobre a sua vida. “Significa acreditar num Deus que nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona, que sabe tira o bem do mal com o seu poder e a sua criatividade infinita”, explicou.

“«Não tenhais medo», é saudação e proclamação de fé que a celebração da Páscoa, em tempo de profunda perturbação, nos convida a professar, a testemunhar e a partilhar”, complementou. “Somos convidados a lançar um «olhar de fé» sobre a nossa vida. Significa «acreditar num Deus que nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona, que sabe tira o bem do mal com o seu poder e a sua criatividade infinita”, acrescentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Assim, o bispo diocesano destacou que, em “cada dia, no mundo, renasce a beleza que ressuscita transformada, através dos dramas da história”. “Os valores tendem sempre a reaparecer sob novas formas, e na realidade o ser humano renasceu muitas vezes de situações que pareciam irreversíveis. Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo”, citando a exortação ‘Gaudete et Exsultate’, do papa Francisco.

D. Manuel Quintas lembrou ainda que “celebrar a Páscoa é também deixar-se contagiar pela alegria e pela esperança, que inundaram o coração dos discípulos, na manhã, daquele primeiro dia da semana”. “Cristo ressuscitado é verdadeiramente fonte inesgotável de alegria e esperança, para todos”, afirmou, desafiando ao “testemunho”. “Acolhamos também nós este testemunho e transformemo-lo em anúncio missionário, em resposta ao mandato de Cristo – ide e anunciai o Evangelho – que nos é confiado. Como seria diferente a nossa vida e a vida do mundo se, em Igreja, nos decidíssemos a ser testemunhas alegres de Cristo Ressuscitado”, exortou, apelando ao “compromisso pessoal” para viver “de modo mais coerente e permanente, as implicações que esta verdade” traz.

“O mundo de hoje precisa deste nosso testemunho alegre de amor, de esperança e vida! Não guardemos para nós o que é para ser anunciado e partilhado com todos”, conclui.

No final da celebração, às 12h, os sinos da catedral de Faro tocaram “festivamente”em comunhão com os das restantes igrejas algarvias, como tinha sido pedido pelo bispo do Algarve, “em sinal do anúncio da vitória de Cristo sobre a morte e de esperança para todos, particularmente os que vivem em tempo de grande sofrimento”.