
O bispo do Algarve considerou ontem que “as Misericórdias se situam entre as instituições que, na sua vasta e diversificada ação, mais têm contribuído para tocar, cuidar e curar as chagas humanas e sociais, infelizmente nem sempre com o reconhecimento devido pela sociedade em geral e assumido por quem tutela a sua ação”.

D. Manuel Quintas presidiu na igreja matriz de Albufeira à eucaristia de abertura do XIII Congresso Nacional das Misericórdias, que está a decorrer até domingo naquela cidade e que ontem teve início com a participação de mais de 700 congressistas.

“Todos desejamos e auguramos que este congresso contribua para encontrar respostas mais adequadas e mais eficazes de realização da missão destas instituições, à luz dos princípios que as inspiram, bem como da sua realidade pessoal e geográfica concreta, de modo a garantir a qualidade dos serviços prestados e a sua sustentabilidade e estabilidade, tantas vezes conseguidos à custa de verdadeiros milagres de gestão”, prosseguiu o prelado.

D. Manuel Quintas considerou aquelas instituições um “grande movimento de bem-fazer” e de “serviço da misericórdia” na prática de “tantos gestos que promovem a dignidade humana” e que “diminuem tanto sofrimento”. Queremos louvar o Senhor por este bem e este dom para o nosso país”, acrescentou.

No dia em que a Igreja celebrava a festa litúrgica das Cinco Chagas do Senhor, resultantes da sua crucifixão, o bispo do Algarve enumerou as “chagas sociais que desfiguram” o rosto do ser humano e “desprezam a sua dignidade”, lembrando que o “combate” a estes males “desafia toda a sociedade, cada um segundo o lugar e responsabilidade que nela ocupa”.

A “má distribuição da riqueza e o crescente fosso entre ricos e pobres”, a “não satisfação das necessidades básicas ao nível da alimentação, da saúde e da educação” e o “drama dos migrantes e dos refugiados” que motivou o papa Francisco a criticar a “globalização da indiferença perante a atitude de tantos e tantos países no que diz respeito aos refugiados e aos migrantes”, foram algumas das “chagas” apontadas por D. Manuel Quintas, que acrescentou que o “drama” dos migrantes “não se resolve com a construção de muros”.

“Outra chaga: a violência doméstica, entre nós de modo crescente, e que nestes dias mesmo nos deixou perplexos”, lastimou, referindo também “a corrupção, que o papa Francisco classifica como a pior chaga social, que pode degenerar em verdadeira praga enquanto realidade presente em todas as classes sociais, inclusive a religiosa”.

D. Manuel Quintas lembrou a “corrupção presente na procura do lucro pessoal e do próprio grupo, sob as aparências do serviço à sociedade”, “presente na destruição do tecido social sob as aparências do cumprimento da lei”, “presente no egoísmo mais grosseiro, escondido por detrás de uma generosidade aparente”, “presente na perversão até da própria democracia, abrindo portas as outros males abomináveis tais como a droga, o tráfico de pessoas, a prostituição, a escravidão, o comércio de órgãos e o tráfico de armas”.


O bispo diocesano disse serem “chagas humanas e sociais” que a todos “desafiam” e “comprometem na procura de respostas mais adequadas e eficazes”.
Depois da eucaristia – concelebrada pelo cónego José Rosa Simão, antigo pároco de Albufeira, e pelos padres Flávio Martins e Pedro Manuel, respetivamente párocos de Albufeira e Ferreiras, Paderne e Boliqueime, que contou também com a participação do coro da Misericórdia do Fundão – seguiu-se o desfile das Misericórdias até à Câmara Municipal, partindo depois os congressistas para o Palácio de Congressos do Algarve, onde está a decorrer a reunião organizada pela União das Misericórdias em articulação com o Secretariado Regional de Faro daquela instituição.
No país existem 398 Santas Casas da Misericórdia, incluindo as 23 do Algarve.

