O bispo do Algarve destacou ontem à noite, na Missa de Quarta-feira de Cinzas a que presidiu na Sé de Faro, que as três práticas penitenciais da tradição bíblica e cristã – oração, esmola e jejum – são três “pilares”, que, de certa maneira, marcam o ritmo da Quaresma e constituem um “termómetro” em que se pode verificar o “grau” da conversão.

D. Manuel Quintas afirmou que a conversão “será tanto mais autêntica quanto mais se inspirar na escuta atenta e até prolongada da palavra de Deus, na resposta aos seus apelos, num encontro pessoal e mais íntimo com Cristo na oração e na partilha solidária e fraterna com os mais necessitados, fruto do jejum que a palavra de Deus recomenda”.

O bispo diocesano realçou que “a esmola deve ser discreta, desprendida e generosa, concretizada na partilha fraterna e no dom de si mesmo”, “a oração deve ser simples, sincera, silenciosa e também confiante, de modo a dar mais espaço à presença de Deus e dos outros na própria vida” e “o jejum igualmente deve ser discreto e secreto”. “Não pode limitar-se à privação de alimentos. Deve ir muito mais além disso. Tantas vezes oprimimos os outros com os nossos gestos, atitudes e palavras. Passa por aí também um jejum de atitudes”, alertou.

Salientando a Quaresma como “tempo de oração pela redescoberta do amor misericordioso de Deus”, D. Manuel Quintas lembrou que este ano, preparatório do jubileu ordinário de 2025, é dedicado à oração por determinação do Papa, que “exortou as dioceses e comunidades paroquiais a promoverem e intensificarem tempos de oração individual e comunitária como preparação para este tempo de graça”.

“A Quaresma surge sempre como uma oportunidade que nos é oferecida, que nos leva a predispor-nos para rever a nossa situação e, se necessário, reconciliar-nos com Deus, com os irmãos, connosco próprios”, prosseguiu D. Manuel Quintas, considerando que o novo tempo litúrgico “constitui seguramente um tempo oportuno para esta resposta pessoal e comunitária”. “Que esta Quaresma seja também para nós tempo oportuno de crescermos mais na devoção, no amor e até no respeito pessoal, na interioridade, que a presença real e sacramental de Cristo na Eucaristia nos recorda”, desejou.

O responsável católico referiu-se ainda ao destino da renúncia quaresmal deste ano. “Apelo à generosidade de todos com a esperança que, por se tratar de uma instituição nossa conhecida, isso possa mobilizar-nos ainda mais, como expressão da nossa comunhão eclesial, com o fim que pretendemos”, pediu relativamente à coleta que terá como destinatário o Centro Paroquial de Cachopo.

O bispo diocesano explicou ainda a presença na catedral da relíquia do padroeiro São Vicente, oferecida pelo Patriarcado de Lisboa, que este ano acompanhará o caminho de preparação dos católicos algarvios para a celebração da Páscoa. “O nosso Cabido decidiu dar-lhe um destaque particular, com uma referência nas catequeses e no tempo de oração em cada tarde de cada domingo da Quaresma”, afirmou.
A celebração de ontem à noite contou com a bênção e o rito penitencial de imposição das cinzas aos presentes. Tanto na Bíblia como na prática da Igreja, impor as cinzas sobre a cabeça é sinal de humildade e penitência. A sua imposição lembra aos fiéis a origem do homem – “recorda-te que és pó e ao pó hás de voltar” – e pretende simbolizar a renovação do compromisso de seguir Jesus, fazendo morrer o “homem velho”, ligado ao pecado, para fazer nascer o “homem novo”, transformado pela graça de Deus. Por isso, ao colocar uma pequena porção de cinzas sobre a cabeça, o ministro ordenado pronuncia a frase “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
A Quaresma é um período de 40 dias (excetuando os domingos) que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.