D. Manuel Quintas, deixou claro na Eucaristia celebrada no Hospital de Faro, no âmbito do XIX Dia Mundial do Doente, que os cristãos têm “capacidade e energia” e, necessariamente, terão de “pôr um «travão» a esta situação”. “É preciso estarmos despertos e mobilizados. Se não conseguirmos responder, mobilizamos outros para darem a resposta precisa, urgente e necessária”, disse o prelado que aproveitou para deixar uma “palavra de acolhimento” a quantos, na Diocese do Algarve, “animam e coordenam a Pastoral da Saúde”.

Ainda sobre o macabro caso, D. Manuel Quintas aconselhou a não se “atirar pedras”, pois este trágico acontecimento é “espelho daquilo que somos”. “Ninguém queria uma coisa destas. São as circunstâncias, que conjugadas, conduzem as estas situações”, lamentou o Bispo do Algarve, criticando-se as circunstâncias “complicadas” dos dias de hoje e admitindo que “todos pensavam estar a fazer bem e a cumprir a sua obrigação”. “Vede lá em que ponto nos encontramos…”, lastimou o Bispo do Algarve.

D. Manuel Quintas exortou então à humanização da vida quotidiana, sobretudo ao nível do acompanhamento dos que sofrem. “Todos devemos investir um pouco mais do nosso tempo e, sobretudo, do nosso olhar contemplativo de encontro nesta dimensão da vida humana. Gostaria que, nas paróquias, se crescesse muito mais na Pastoral da Saúde, na presença junto dos doentes. Há muitas doenças que nós não podemos curar, mas a «doença» da solidão podemos todos curar”, pediu.

Na Eucaristia, em que administrou o sacramento da Santa Unção a duas mulheres, o Bispo diocesano apelou ainda a uma hierarquização de valores. “Se não temos essa capacidade e o discernimento para fazer uma hierarquia de valores, de olhar para a nossa vida e para a vida dos outros com amor, não conseguimos aperceber-nos que esta sociedade, que estamos a construir, pode ser uma sociedade desumana”, alertou.

D. Manuel Quintas desejou que a celebração de ontem possa ajudar nesta alteração das consciências para se “crescer na sensibilidade e sensibilização pelo outro”. “Que esta tarde que aqui passámos, possa ajudar-nos e mobilizar-nos mais na procura daquilo que é essencial à nossa vida e na vida daqueles que estão connosco e com os quais nos cruzamos”, observou, salientando que “o essencial é sempre o outro”. “Tudo tem prioridade, quando o outro é prioritário na nossa vida”, lamentou, pedindo uma maior “presença amorosa de Deus na vida daqueles que estão doentes”. “É preciso que a prioridade do outro na nossa vida prevaleça sobre tudo o resto, que transforme a nossa vida e nos obrigue a deixar coisas para trás”, acrescentou.

O Bispo diocesano lembrou ainda o discurso do Papa aos agentes da Pastoral Social, o ano passado em Fátima, quando disse ser “preciso olharmos para o outro com o coração”. “Só o amor é capaz de alterar o ritmo da nossa vida. Só o amor ao outro, gratuito e desprendido, é capaz de estabelecer prioridades, de nos obrigar a parar e descer ao encontro do outro”, disse o prelado, aludindo à importância de “olhar para o outro com olhar contemplativo” e nunca com “apatia, indiferença ou desprezo”.

Referindo-se à mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial do Doente, D. Manuel Quintas citou que “a medida da humanidade é proporcional à atenção que se dá àqueles que sofrem”. “ Uma sociedade que não é capaz de acolher os que sofrem e que não é capaz de contribuir mediante a compaixão para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido, mesmo interiormente, é uma sociedade cruel e desumana”, disse, acrescentando que “a solidão é o maior flagelo que atinge os doentes, sobretudo os fechados em sua casa”.

Também Juan Ambrosio, que proferiu uma conferência que precedeu a Eucaristia, se referiu à descoberta do cadáver da idosa. “Que sociedade, a nossa, que só descobre nove anos depois que uma pessoa estava morta na cozinha… por mais explicações que isso possa ter”, lamentou, indicando que isto só acontece porque a sociedade “afastou a morte do seu horizonte”.

Ambrosio falava sobre a dignidade do ser humano, lembrando que “a dignidade é fundamental no ser humano e não se perde em situações”. “É inerente ao ser humano e não à situação em que o ser humano está a viver. Mesmo em situações indignas eu posso promover a dignidade”, concretizou o teólogo, considerando que “sofrer indignamente é sofrer sozinho, abandonado e sem comunicação”, “por ventura rodeado de pessoas insensíveis, especialistas sem alma que realizam mecanicamente o seu trabalho profissional mas que deixam que as pessoas morram sozinhas”.

Samuel Mendonça