
O bispo do Algarve, de 68 anos, admitiu no passado sábado à noite no Teatro Lethes, em Faro, que esta possa ser a sua última missão como bispo residencial, mas disse que estará na diocese “até que o papa queira”, o que deverá acontecer até aos 75 anos, a idade prevista pelo Direito Canónico para a resignação.

Convidado do ciclo “Conversas com Vida Dentro”, D. Manuel Quintas não rejeitou a possibilidade de ter de ir para outra parte, embora se sinta “realizado e alicerçado nestes 17 anos” em que está no Algarve. “Esta pode ser a minha última missão como bispo residencial, como também pode não ser. Se me pergunta a mim, espero que seja porque se foi difícil vir para aqui quando tinha 50 anos, agora, com 68, já é um bocadinho mais complicado”, afirmou em resposta à pergunta que lhe foi feita sobre o tema, explicando que a entrada de um bispo numa nova diocese próximo da idade da resignação pode ser inconveniente. “Pode haver o perigo de os problemas serem tantos que a pessoa já não tem capacidade nem energia de os enfrentar e de os resolver”, concretizou.

O prelado considerou, por isso, “fundamental” ter chegado ao Algarve com 50 anos, mas frisou que “o mais importante foi ter vivido quatro anos com D. Manuel Madureira [Dias]”, seu antecessor, atual bispo emérito da diocese. “Tive a sorte de estar com ele, senão teria sido muito complicado. É muito bom quando um bispo começa e tem outro bispo residencial. E um bispo como ele, que para mim foi uma bênção”, acrescentou.

Questionado se se sente mais algarvio ou mais transmontano, D. Manuel Quintas disse sentir-se um “transmontano no Algarve há 17 anos”, garantindo estar “bem no Algarve”. “Estes quase 20 anos têm permitido que eu me sinta plenamente integrado aqui no Algarve”, assegurou, acrescentando que “as raízes permanecem sempre”, apesar de ter saído da sua aldeia em 1960, aonde disse regressar sempre que pode.
Ao longo da conversa, conduzida pelas perguntas de Henrique Gomes, chefe de gabinete da Câmara Municipal de Faro, que substituiu o ator Luís Vicente que não pôde estar presente devido a estreia de nova peça em Lisboa, o bispo diocesano disse ainda ter vindo para o Algarve “como missionário”, uma região que “praticamente desconhecia”. “Tinha vindo alguns anos antes, pela primeira vez, ao Algarve substituir um padre na Fuseta. Conhecia um bocadinho melhor a parte do sotavento porque em 1995 o meu instituto abriu a comunidade de Vila Real de Santo António”, contou.
D. Manuel Quintas considerou que nestes 17 anos cresceu o “sentido de maior abrangência da diocese”, não apenas da parte do bispo mas também da parte do clero e salientou que “é preciso haver razões muito grandes para pedir para algum pároco mudar de paróquia”. “Sobretudo párocos que são muito mais velhos do que eu, não só na idade, mas no sacerdócio, na doação à Igreja e que são um exemplo para mim”, complementou, lembrando ser preciso “pensar no bem das pessoas, no dinamismo da Igreja e também na conjugação de serviços com as paróquias vizinhas”, não obstante ser uma decisão difícil. “Dói muito, a começar pelo bispo, mas tem que ser”, completou.

Sobre este tema disse estar “preparado” para as resistências e encará-las com naturalidade, sublinhando que os 15 anos de trabalho na sua congregação na restruturação de comunidades e a presenças dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos) em Portugal, Moçambique e Madagáscar lhe deram a experiência necessária.
D. Manuel Quintas garantiu que nunca se arrependeu das decisões que tomou porque foram “partilhadas e muito conversadas antes de serem tomadas”, inclusive com os próprios implicados. “Vejo isso com serenidade mas com sofrimento, sobretudo porque não se consegue atender a tudo. Das coisas mais complicadas que um bispo tem é não conseguir ultrapassar dificuldades e problemas que tem a ver com pessoas das comunidades”, testemunhou.