“Para ela se orienta cada domingo, cada solenidade ou festa e cada dia ferial. É a sua preparação mas só no tempo, pois, quanto aos conteúdos, é já celebração deste acontecimento que mudou a história humana”, destacou D. Manuel Quintas.

O prelado lembrou que este tempo litúrgico é “privilegiado”, “forte” e “favorável” e dedicado a uma “escuta mais atenta da Palavra [de Deus, ndr]” que pressupõe uma “resposta mais decidida aos seus apelos”.

D. Manuel Quintas frisou que a liturgia da Igreja recomenda como percurso quaresmal a oração, o jejum e a esmola, o “tripé” sobre o qual deve apoiar-se o itinerário quaresmal como percurso de “conversão verdadeira e autêntica”. “Este percurso quaresmal deve ser acompanhado por gestos concretos de caridade, comprovativos da verdade da conversão pessoal”, complementou.

O bispo diocesano salientou que a Quaresma apela à “simplicidade, à sobriedade de vida, à verdade da nossa conversão” porque “Deus olha ao coração e não ao exterior”.

Neste contexto, referiu-se à sua mensagem para a presente Quaresma, divulgada pouco antes daquela celebração e distribuída, juntamente com a do Papa Bento XVI, no final da mesma. “É importante, neste tempo da Quaresma, olharmos para a verdade do nosso amor a Deus e aos irmãos e, sobretudo, ter em conta de que não somos apenas inclinados para fazer o mal. Somos também inclinados também para o bem”, observou, enumerando os apelos da sua mensagem.

D. Manuel Quintas aludiu ao destino das renúncias quaresmais deste ano que reverterão para Fundo Diocesano Social. “Era importante que todos pudessem contribuir para este fundo, seja como fruto da sua renúncia quaresmal, seja como apoio a esta ajuda tão necessária e urgente”, apelou, evidenciando que “o distrito de Faro é já o primeiro, a nível nacional, com a taxa mais elevada de desemprego”. “Isso reflete-se em muitas famílias e pedidos que chegam à Comissão que gere o fundo”, adiantou, exortando à “generosidade de todos” que, a nível particular ou institucional, contribuam para o fundo.

O prelado referiu-se ainda ao incitamento junto das paróquias. “Tenho me dirigido já aos nossos párocos e comunidades paroquiais para que todos se envolvam na resposta de proximidade às situações locais”, revelou, acrescentando que “este é seguramente um caminho de conversão quaresmal e de redescoberta do verdadeiro e concreto sentido da caridade cristã”.

Referindo ao presente Ano Europeu do Voluntariado considerou o trabalho voluntário como uma “força adormecida, escondida e talvez esteja ainda fechada no coração de muitos de nós”. “Com um pouco mais de generosidade e de programação do próprio tempo, podíamos, certamente, fazer mais e melhor do que fazemos e contribuir para minorar a solidão e as necessidades de tanta gente, muitos nossos conhecidos”, advertiu.

Após a homilia, que terminou com a exortação à leitura da mensagem do Papa para a presente Quaresma, o bispo do Algarve impôs as cinzas aos cristãos que ontem participaram naquela celebração.

Tanto na Bíblia como na prática da Igreja, impor as cinzas sobre a cabeça é sinal de humildade e penitência. A sua imposição lembra aos fiéis a origem do homem – “recorda-te que és pó e ao pó hás de voltar” – e pretende simbolizar a renovação do compromisso de seguir Jesus, fazendo morrer o "homem velho", ligado ao pecado, para fazer nascer o "homem novo", transformado pela graça de Deus. Por isso, ao colocar um pequena porção de cinzas sobre a cabeça, o ministro ordenado pronuncia a frase “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.

Samuel Mendonça