Festa_s_vicente_2016 (30)
Foto © Samuel Mendonça

Na celebração do mártir São Vicente que a Igreja hoje celebra, patrono principal da Diocese do Algarve, o bispo diocesano lembrou esta manhã os mártires de hoje.

“Sabemos como nos dias de hoje há tantos mártires, tanta gente que, por causa da sua fé, é martirizada e eliminada em diferentes partes do mundo”, afirmou D. Manuel Quintas na celebração da eucaristia que teve lugar na igreja matriz de Vila do Bispo, município que tem também como patrono o diácono martirizado em Valência.

O prelado fez questão de esclarecer que não se referia apenas aos mártires católicos. “Quando digo mártires por causa da sua fé, não me refiro apenas aos ligados à Igreja Católica, mas a todos os cristãos que seguem Cristo, mesmo noutras Igrejas”, explicou, aludindo a “quantos são chamados a serem testemunhas de Cristo hoje, simplesmente porque encontraram na fé em Cristo e nos valores do evangelho a luz que ilumina e orienta, norteia e fortalece a sua vida”.

O bispo do Algarve destacou assim que “martírio não é apenas caraterística dos primeiros séculos do Cristianismo, mas de todos os tempos e lugares”.

D. Manuel Quintas deixou ainda claro o sentido da veneração dos santos na Igreja Católica. “Quando na Igreja [Católica] veneramos e invocamos a proteção de alguém que foi testemunha, mártir, é sempre em alusão à pessoa de Cristo e aos princípios do evangelho que Ele nos deixou; é sempre em alusão à firmeza na fé; é sempre em alusão a princípios que os mártires consideraram mais importantes do que a sua própria vida”, frisou.

O bispo diocesano desafiou assim os católicos algarvios a confrontarem-se com Vicente. “Hoje somos chamados a olhar para ele e a olhar para nós. Olhar para ele como testemunha e olhar para nós, sobretudo para a dimensão da nossa fé e para o modo como a estamos a viver”, afirmou, acrescentando que a vida humana, olhada sob este prisma, como testemunho, como martírio, “é chamada a frutificar em todas as suas dimensões, mesmo nas opções que faz ou na profissão que assume”.

“Olhando para o testemunho destes mártires é possível que nos encontremos numa situação de alguém que precisa de crescer muito na fé e de pedir a Deus, por intercessão dos mártires, que aumente a sua fé (…) e nos torne capazes, não apenas de celebrar e viver, mas, particularmente, de a testemunhar”, prosseguiu.

Na eucaristia, concelebrada por vários párocos do barlavento algarvio, D. Manuel Quintas lembrou ainda que o santo está “intimamente ligado” àquela região denominada como Costa Vicentina. “Ele não nasceu aqui. Foi transportado de Valência (Espanha) para cá por aqueles que veneravam a sua relíquia”, contou, lembrando que Vicente “foi martirizado nos inícios do Cristianismo”. “Celebrámos, em 2003 e 2004, 1700 anos do seu martírio, portanto foi martirizado nos inícios do século IV”, acrescentou, lembrando que “mais tarde, com a invasão dos muçulmanos, os cristãos do sul da Península [Ibérica], para evitar que as suas relíquias fossem desrespeitadas”, foram-nas trazendo até àquele “extremo geográfico”, até este àquele “lugar chamado sagrado: Sagres”.

Segundo a tradição, os restos mortais de São Vicente foram conduzidos, durante a progressiva ocupação muçulmana do sul peninsular, até ao cabo que viria a assumir o seu nome e a transformar-se, durante vários séculos, em lugar de peregrinação. As comunidades moçárabes existentes no Algarve, constituídas por cristãos que conseguiram organizar-se sob o domínio muçulmano, encontraram no testemunho de São Vicente, coragem e alento.

O bispo do Algarve, que presidiu à procissão que se seguiu com a relíquia e com a imagem do patrono da Igreja algarvia, pediu ainda aos algarvios que incluam a dimensão do perdão na vivência da dimensão do martírio.

Para além de orago da Diocese do Algarve, São Vicente é também padroeiro do Patriarcado de Lisboa, onde se guardam algumas das suas relíquias. Simbolicamente é representado por uma barca e um corvo, representação essa baseada na tradição de que em 1173 as suas relíquias foram conduzidas numa barca desde o Cabo de São Vicente, no Algarve, para Lisboa, a mando de D. Afonso Henriques e veladas durante todo o trajeto por dois corvos.

Também aparece representado com palma, que simboliza o martírio, e evangeliário. São Vicente ou São Vicente de Saragoça, também conhecido por São Vicente de Fora (Lisboa), foi martirizado em Valência no início do século IV (crê-se que no ano de 304) durante as perseguições do imperador romano Diocleciano contra os cristãos da Península Ibérica. O seu cruel martírio até à morte foi devido, segundo a tradição, à sua recusa em oferecer sacrifícios aos deuses do panteão romano.

D. Francisco Gomes do Avelar proclamou, em 1794, São Vicente como padroeiro principal da Diocese do Algarve.

O dia de São Vicente comemora-se também com particular destaque em Vila do Bispo, onde hoje é feriado municipal. As festividades em honra do padroeiro do município iniciaram-se no dia 16 e prolongam-se até ao dia 31 deste mês com iniciativas institucionais e protocolares e ainda de âmbito cultural, desportivo e recreativo, promovidas pela Câmara Municipal.

Comemorado a 11 de novembro pela Igreja Ortodoxa, São Vicente é ainda em Portugal o santo protetor e advogado das crianças.