O bispo do Algarve está a participar esta manhã numa consulta sobre a rota migratória do Atlântico promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), através da secção ‘Migrantes e Refugiados’.

A iniciativa, realizada por videoconferência, reúne bispos dos países de origem, trânsito e destino dos migrantes, nomeadamente do Senegal, Mali, Gâmbia, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Mauritânia, Marrocos, Sahara Ocidental, Espanha e Portugal. De Portugal, para além de D. Manuel Quintas, participa também D. Daniel Henriques, bispo auxiliar de Lisboa e vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.

Em informação enviada aos participantes, a que Folha do Domingo teve acesso, a organização refere que a consulta pretende “ajudar a dialogar sobre os desafios pastorais suscitados pelas situações complexas ao longo da rota migratória do Atlântico” e “obter propostas de colaboração pastoral em nome dos migrantes que continuam a perecer”. “Enquanto esperamos uma melhor política de asilo e migração, e respostas para combater abusos contra as pessoas que procuram melhores condições de vida, o resultado da Consulta pode lançar alguma luz sobre os desenvolvimentos na rota atlântica e nos países afetados”, explicita a secção ‘Migrantes e Refugiados’.

Aquela entidade lembra que “a rota atlântica em direção às Ilhas Canárias (Espanha) a partir da costa da África Ocidental, bem como ao Algarve a partir de Marrocos, tem vindo a testemunhar um forte aumento de partidas, chegadas, naufrágios, mortes e desaparecimentos de migrantes desde finais de 2019”. As pessoas que utilizam a rota são provenientes do Mali, Senegal, Guiné, Gâmbia, Costa do Marfim, Camarões, Chade, Guiné-Bissau e Níger. “Para além de escaparem à pobreza, desemprego e salários irrisórios, são impulsionados pelos rumores em curso de que o elevado número de mortes por coronavírus na Europa fez aumentar a procura de mão-de-obra. Para muitos deles, a migração também faz parte do «plano de carreira» celebrado como «heroísmo moderno»”, lamenta aquele organismo da Santa Sé.

A secção ‘Migrantes e Refugiados’ realça que “as motivações para seguir esta rota baseiam-se na perceção de que é um caminho relativamente curto e direto para chegar à Europa”, acrescentando que “a viagem para as Ilhas Canárias pode demorar até quatro dias e os migrantes pagam 2.000 dólares [1773 euros] pela travessia”. “Os migrantes que já fizeram esta rota com êxito também a popularizaram através das redes sociais. Além disso, a opção pela rota do Atlântico é alimentada pelo aumento das patrulhas ao longo da costa sul da Europa, o que contribui para a redução das travessias no Mediterrâneo”, prossegue.

A secção ‘Migrantes e Refugiados’ realça que “as travessias em direção às Ilhas Canárias e ao Algarve são uma experiência penosa, que pode ter graves impactos físicos e psicológicos”. No entanto, a preocupação atual deve-se ao aumento do número de mortes e desaparecimentos de pessoas que se dirigem para as Ilhas Canárias. Entre elas encontram-se crianças e mulheres. Segundo aquele organismo da Santa Sé, em 2020, foram registadas 2.170 mortes e 2.087 mortes na primeira metade de 2021. “O mês de agosto foi particularmente mortal, com 379 mortes. Mas é provável que o número de mortes na rota do Atlântico seja maior, uma vez que muitos «naufrágios invisíveis» ocorrem sem sobreviventes ou nunca são detetados”, acrescenta.

“Apesar deste cenário, o número de chegadas, assim como de migrantes mortos nas travessias continua imparável, e não parece haver qualquer resposta para enfrentar a situação. Em setembro de 2021, 8.605 pessoas chegaram às Canárias. Em 2020, mais de 23.000 pessoas fizeram a travessia com sucesso. Juntamente com os 8.605 que chegaram em 2021, outros 2.087 perderam as suas vidas no trajeto. Há também aqueles que estão expostos ao sofrimento, exploração e ao tráfico de seres humanos”, desenvolve.

Segundo a Agência Lusa, nos últimos dois anos, chegaram ao Algarve 134 migrantes provenientes do Norte de África, na maioria marroquinos.