Perante uma assistência de 33 pessoas, D. António Marcelino aludiu, na sua intervenção intitulada “Ocupados mesmo que a descansar”, à necessidade de o crente “fazer do ócio um espaço de humanização”, lembrando que “passar o tempo” “não é cristão”. O prelado, sublinhou, por isso, o dever do cristão de “humanizar a sua vida e também contribuir para a humanização dos outros”, cultivando “atividades que valorizem” porque “a visão cristã do descanso é sempre em ordem à valorização”.

O bispo emérito de Aveiro referiu-se concretamente à obrigação de “programar o ócio”, procurando “tempo para cultivar a amizade, para dialogar, para ler”, mas também um “tempo de partilha, de repouso, de contemplação da natureza e de amor aos outros”. “Tudo isso pressupõe da nossa parte uma atitude de olhar e agradecer o que é bom e belo”, disse.

Lembrando que “o tempo de lazer é de descoberta e contemplação”, o orador apelou à “capacidade de discernir livremente o lazer” e à “capacidade de disciplina com prazer quando estamos libertos de horários de trabalho e da vida do dia-a-dia”.

Por outro lado, D. António Marcelino advertiu que “as férias não podem ser para um maior cansaço” e criticou quem diz não “ter tempo”. “O tempo é-nos dado, por isso temos o tempo todo”, defendeu, lembrando que é tudo uma questão de organização e de opções. “Há gente que tem pena do que não pode fazer e não aproveita para fazer o que pode”, lamentou.

O prelado lembrou ainda a importância do domingo para o cristão, mesmo em tempo de férias. “O Dia do Senhor é referência”, salientou.

A terminar, lembrou as muitas pessoas em idade de reforma que têm “iniciativas interessantes” de dedicação aos outros e alargou a sua reflexão à “visão religiosa da vida” para dizer que “o leigo é o cristão no mundo, não é o cristão na Igreja”. “Muitos leigos julgam que, para serem cristãos, têm de ser ministros extraordinários da comunhão, leitores ou pertencer a um qualquer movimento e depois não assumem a realidade da sua vida”, criticou.

À FOLHA DO DOMINGO, D. António Marcelino lembrou ainda que o direito às férias e ao descanso está consignado na própria Constituição e lamentou que, neste “momento de crise, como momento de exceção”, hajam pessoas que não possam ter férias e outros que as possam ter como queriam.

O bispo emérito de Aveiro passa férias no Algarve desde 1971, primeiro em Monte Gordo, depois em Alcantarilha e, desde 1982, em Vilamoura. Este encontro de reflexão é realizado todos os anos no âmbito da sua colaboração com a comunidade local durante os dias de férias. “Os assuntos abordados têm sido temas atuais acerca de documentos últimos da Igreja ou problemas da atualidade”, refere, acrescentando que a sua colaboração em Vilamoura preconiza ainda a administração do sacramento da reconciliação e presidência da Eucaristia diária da tarde e da Eucaristia dominical.

Samuel Mendonça