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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo emérito do Funchal realçou ontem à tarde em Loulé, na eucaristia da Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana, que aquela imagem “traduz um amor imenso da parte de Deus, cujo filho cedeu e ofereceu pelos homens”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. António Carrilho, natural de Loulé – que este ano voltou a presidir não apenas à eucaristia da Festa Grande, mas ao tríduo de preparação – acrescentou que a escultura traduz igualmente “um amor imenso por parte da Mãe que o acolhe, sofrendo em seus braços”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Contemplamos a imagem de Nossa Senhora com o filho morto nos seus braços e ao mesmo tempo proclamamos a palavra de Deus, proclamando o Cristo vivo, o Cristo ressuscitado”, acrescentou o prelado, evidenciando o motivo da fé. “A ressurreição é a razão da nossa fé”, enfatizou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Há pessoas que se interrogam porque é que na festa de Nossa Senhora da Piedade se congrega tão grande multidão. A resposta verdadeira é aquela que cada um de nós possa dar neste momento concreto em que está a participar. Tenho a certeza de que aquilo que aqui nos congrega é, sem dúvida, a fé que temos e que se manifestou em diversas ocasiões e que assim, em dia da festa, queremos testemunhar em louvor e gratidão a Nossa Senhora pelas graças e dons recebidos. Agradecemos, pedimos, apresentamos e confiamos à Mãe a nossa vida, os nossos problemas, as nossas necessidades. Expressamos o nosso amor e a nossa gratidão”, começou por referir, lembrando as “coincidências” da celebração do Dia da Mãe, do início da Semana de Oração pelas Vocações e de se estar a viver o Ano Missionário (outubro 2018 a outubro 2019), instituído pela Igreja portuguesa.

E acentuando, sobretudo, a implicação da vivência desse ano, D. António Carrilho advertiu que “a fé sem obras é morta”. “A fé não é apenas algo intimista ou espiritual. A fé traduz-se nas obras do amor, nas obras do serviço fraterno”, sustentou, desejando que, se acaso, a fé estiver “menos viva” que aquela festa “seja uma oportunidade para a avivar”. “Somos batizados e enviados, Igreja em missão no mundo”, afirmou, lembrando o tema escolhido pelo papa Francisco para o próximo outubro missionário que motivou a instituição pela Igreja portuguesa de um ano inteiro dedicado às missões. “Queremos realmente assumir, com a graça do Espírito Santo, com a força de Deus, aquilo mesmo que proclamamos”, garantiu o bispo que também é membro da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na chegada ao santuário sobranceiro à cidade, o bispo louletano voltou a incidir sobre a necessidade de levar a fé para a vida. “A Senhora da mensagem está a dizer-nos que procuremos pôr em prática na vida aquilo que aprendemos com fé, aquilo que Jesus nos ensinou e nos disse e que continua a ser palavra orientadora, palavra de vida, palavra de caminho, de alegria, de paz e de felicidade”, afirmou.

“Que levemos nos nossos corações uma fé mais viva, que olha para Maria e conta com a sua proteção maternal”, desejou, lembrando o trajeto até ali. “A Mãe Soberana olhava e abençoava todos pelo caminho, os que se encontravam nas ruas ou em suas casas, entre gritos e palmas, aplausos de alegria ao ritmo repetitivo da banda com a marcha própria. Encostas apinhadas, lenços brancos a acenar, corações iluminados pela fé, uma fé que a todos nos contagia”, observou.

Na eucaristia, D. António Carrilho fez ainda uma referência aos “muitos cristãos” que “têm sido perseguidos” que também marcou a celebração. “A Igreja tem sido perseguida em vários lugares porque a mensagem de Jesus é exigente, implica renúncia, sacrifício e entrega da vida e, por isso, as dificuldades, o martírio, o testemunho da fé neste tempo não é tão fácil como porventura poderia parecer e poderíamos esperar”, afirmou, lembrando o atentado numa igreja no Sri Lanka durante a Páscoa. “Em muitos outros lugares tem acontecido esta falta de um respeito pela liberdade religiosa de cada um, aquilo que deve ser assegurado pela mensagem da fraternidade e da união que o próprio Jesus nos veio trazer”, lamentou.

O bispo emérito do Funchal fez ainda uma oração pelas mães, afirmando que “ser mãe é ter o coração de Maria, a Mãe por excelência”, e no final do sermão no santuário pediu também que se rezasse três Avé Marias, não só pelas mães “ vivas ou falecidas”, mas também “pelos imigrantes, de modo particular por aqueles que em países com dificuldades sofrem mais neste momento”, e “pelas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Outro dos momentos marcantes da eucaristia da Festa Grande foi quando, após a comunhão, os jovens cantaram a Maria a música “Sentinelas de nova madrugada”, concorrente ao XII Festival Diocesano Jovem da Canção.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

No final da celebração, o bispo do Algarve voltou a confiar à bênção e proteção da “doce Mãe da Piedade” as famílias, crianças, jovens, idosos e doentes, governantes, trabalhadores, os que procuram emprego, imigrantes e refugiados, terras e casas, escolas, creches e infantários, indústrias e comércio, os grupos desportivos e culturais, bombeiros, militares e forças de segurança e centros de saúde, infantários, centros da terceira idade, misericórdias, confrarias e irmandades, consagrou a diocese algarvia à Mãe Soberana.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Impondo-se como a maior manifestação de fé a sul de Fátima, que é simultaneamente a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia, a Festa Grande a Nossa Senhora da Piedade, voltou a atrair a Loulé uma multidão, oriunda não só de todos os pontos do Algarve, como também de diversas regiões do país e até emigrantes.

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus nos braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.

Depois de a imagem ser levada de volta para a secular ermida do santuário e da pregação, seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As festividades de Nossa Senhora da Piedade, que constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada, terminaram à noite com um espetáculo de fogo de artifício.