A comunidade cabo-verdiana no Algarve voltou a reunir-se no Dia do Trabalhador, 1 de maio, para celebrar a fé e a cultura.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O encontro, que teve novamente lugar em Loulé, iniciou-se no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como «Mãe Soberana», com a celebração da Eucaristia que foi presidida pelo, também cabo-verdiano, vigário-geral da Diocese do Algarve.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Para além do cónego Carlos César Chantre, foram concelebrantes o pároco de Loulé e reitor daquele santuário, cónego Carlos Aquino; o seu capelão, padre Carlos de Matos; o diretor e assistente do Secretariado da Mobilidade Humana da Diocese do Algarve, respetivamente, padres Rafael Bruno Ferreira e padre Paulinus Anyabuoke; o pároco da paróquia de Nossa Senhora da Graça, da cidade capital cabo-verdiana da Praia, padre Carlos Varela; e o padre António Moitinho, sacerdote da Diocese do Algarve.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Em nome da Associação Esperança e Paz, que organiza anualmente o encontro, Filomena Semedo explicou por que a edição deste ano foi peculiar. “Hoje é um dia especial para nós porque celebramos os 30 anos do nosso encontro da família cabo-verdiana, seus amigos e benfeitores que nos acompanham nesta festa e colaboram connosco”, disse aquela responsável, acrescentando que terem sido “anos de muito trabalho, perseverança, oração, testemunhos, lutas, alegrias e também momentos tristes de despedida e momentos de vitória”.

“Queremos agradecer a Deus pelo nosso grupo e nossas famílias. Juntos e animados pela ação do Espírito Santo conseguimos aproximar-nos mais de Jesus e de Maria, nossa Mãe, que é nosso modelo de fé, humildade, confiança, pureza e simplicidade. Só assim conseguimos permanecer firmes e unidos em oração e amizade. Celebremos com festa a Eucaristia, com os olhos fixos no Senhor e na nossa bendita «Mãe Soberana», Senhora da Piedade. Pedimos que ela seja sempre nossa guia e nos leve nos seus braços a Jesus”, concluiu.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Já o cónego César Chantre lembrou a origem daqueles encontros. “Faz 30 anos que me encontrei aqui com os cabo-verdianos numa festa de batizado, na rua, em piquenique”, recordou, realçando que a iniciativa, entretanto, “evoluiu para cabo-verdianos e seus amigos, especialmente dos países que se expressam em português”. “Damos graças a Deus por esta constelação de cores e culturas a que os cabo-verdianos deram origem”, acrescentou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote considerou que “Cabo Verde, sendo um país pobre com um povo riquíssimo, é o símbolo da simplicidade junto da África”. “Todos os olhos se voltam para Cabo Verde, não por ter riquezas, mas por ter um povo rico de alma que se moldou no sofrimento que, na morna, se expressa como saudade dos contratados que iam para São Tomé, principalmente na década de 50”, sustentou, acrescentando: “E é este pequeno povo que faz com que outros povos se juntem e, hoje, nesta festa que há 30 anos começou com meia dúzia de «gatos pingados», se juntam os outros africanos e europeus aqui presentes com o beneplácito amoroso dos portugueses”. “Estão a ver como é possível sermos tão diferentes e estarmos unidos. Dentro da Igreja, sermos diferentes é a nossa riqueza”, completou.

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Dirigindo-se aos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal de Loulé presentes, respetivamente, Vítor Aleixo e Carlos Gomes, aquele responsável disse-lhes que sentir na cidade “esta multiplicidade de cultura deve ser uma grande riqueza para os autarcas”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Carlos Varela lembrou a força da emigração do seu país. “Cabo Verde é as suas 10 ilhas, mas é também a sua 11ª ilha: a nossa enorme diáspora espalhada pelo mundo. Fico contente de vos ver bem integrados nesta cidade de Loulé e nesta região do Algarve, dando o vosso contributo para um mundo melhor, não só pelo vosso trabalho que vai ajudando no crescimento e no enriquecimento, mas pela partilha da fé que é fundamental”, afirmou, acrescentando: “Às vezes saímos da nossa terra natal e podemos correr o risco de perder o horizonte. Que não percamos esse horizonte da fé que nos sustém, enriquece e nos ajuda a crescer”.

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O cónego Carlos de Aquino disse que os “irmãos cabo-verdianos” “são também a alma e uma grande presença” naquela comunidade cristã de Loulé “e ajudam também, cada um onde está inserido, a edificá-la como uma comunidade fraterna”.

A celebração contou também com a presença da representante da Embaixada de Cabo Verde em Portugal, Ângela Barbosa, gestora do Centro Cultural Cabo Verde, em Lisboa, de representantes da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e dos sete seminaristas algarvios, dois deles cabo-verdianos.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A Missa – que incluiu a nomeação dos “juízes” do próximo ano, responsáveis por suportar aquele encontro –, para além dos ritmos africanos, incluiu ainda a interpretação por Edna Oliveira e Lígia Pereira, acompanhadas à guitarra por Paulo Cabrita, de uma versão da canção “The Prayer”, originalmente escrita por David Foster, Carole Bayer Sager, Alberto Testa e Tony Renis, e que ficou imortalizada pelo dueto de Andrea Bocelli com Celine Dion.

Depois da Eucaristia, a festa prosseguiu com o habitual almoço-convívio no salão de festas da Câmara Municipal.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A comunidade cabo-verdiana já tem mais de meio século de presença no concelho de Loulé. Os primeiros cabo-verdianos fixaram-se aquando da construção da fábrica de cimento da Cimpor e desde então a comunidade não parou de aumentar, sendo nos primeiros anos na sua maioria trabalhadores do setor da restauração, da hotelaria e da construção civil.