O fornecimento de jantares é assegurado pela instituição da Igreja católica às terças e quartas-feiras, que articula assim a sua ação com outras instituições da cidade de Faro como a Santa Casa da Misericórdia, que proporciona almoços, a CASA – Centro de Apoio ao Sem Abrigo ou a paróquia de São Pedro, que facultam jantares noutros dias da semana.

Num ambiente de grande discrição, os utentes, na sua maioria desempregados, trazem os próprios recipientes para recolher a refeição que levam depois para comer em casa.

O serviço, com horário das 19 às 20.30h, é assegurado neste momento por 17 voluntários, mas a Caritas algarvia garante que brevemente serão cerca de 34 colaboradores. Estão já a ser fornecidos 30 jantares em cada dia e a capacidade da instituição só contempla um total de 40, número que não deverá muito a ser atingido.

Ontem, a partir das 19h, chegavam os primeiros utentes. Jovens, indivíduos de meia-idade e idosos, foram vários os tipos de pessoas que se apresentaram para receber este apoio da Caritas. De ambos os sexos, alguns de aparência nada denunciadora, outros mais pobremente vestidos, uns com uma timidez que fazia hesitar a entrada para encarar os interlocutores, outros menos acanhados porque mais habituados à necessidade de “fazer pela vida”, todos se chegaram ao balcão para estender as vasilhas.

Com base nas entrevistas realizadas para “conhecer as características” dos utentes, após a divulgação daquele serviço pelas restantes instituições membros da rede social, o presidente da Caritas Diocesana do Algarve assegura que entre os apoiados há “um pouco de tudo”. Carlos Oliveira explica que alguns são sem-abrigo enquanto outros configuram casos de “pobreza envergonhada” que incluem famílias com três ou quatro elementos. “Nalguns casos há dois desempregados, noutros há um desempregado. Temos um caso de uma família de três pessoas em que todos estão desempregados”, testemunha aquele responsável, aludindo a “situações familiares complicadas”. “Há empregados cujos vencimentos auferidos são baixíssimos”, acrescenta, apontando que alguns trabalham na construção civil ou em limpezas.

As refeições fornecidas são doadas pelos parceiros da Caritas algarvia neste projeto. Entre eles estão as escolas EB 2.3 Dr. Joaquim Magalhães, EB 2.3 Dr. José Jesus Neves Júnior, EB 2.3 Santo António, Secundária de Pinheiro e Rosa e a Escola de Hotelaria e Turismo de Faro que oferecem as refeições sobrantes que antes iam diretamente para o lixo.

Há ainda um hipermercado que fornece pão, sanduíches de queijo e fiambre e sobremesas, o que permite que os utentes, para além do prato principal e da fruta, levem ainda para casa o suficiente para o pequeno-almoço do dia seguinte.

Consciente de que até ao final deste mês será atingida a capacidade limite das 40 refeições, Carlos Oliveira admite que estas parcerias possam não ser suficientes para assegurar a totalidade dos jantares. “Nesse caso, confecionaremos as refeições em falta na cozinha do nosso Centro Infantil”, explicou, não pondo de parte a possibilidade de contactar alguns restaurantes para colaborar.

Uma das utentes da noite de ontem acedeu interromper a marcha apressada para chegar à fala com a FOLHA DO DOMINGO. Chamemos-lhe Ana. Com 39 anos e uma imensa vergonha estampada no rosto, aquela mãe de três filhos menores considera esta ajuda da Caritas “muito boa porque há muita gente desempregada que precisa de apoios”. É o seu caso e o do seu marido. À procura de emprego “há mais de um ano”, Ana vê-se agora confrontada também com o desemprego do seu marido que não tem direito ao subsídio. “Recebo pouco mais de 200 euros”, refere, lembrando que “um subsídio só é muito pouco” para alimentar a família. “Não consigo emprego em lado nenhum, nem para limpezas, nem para nada”, garante, assegurando estar inscrita “em vários lados”.

“Conto com algum apoio da minha família, que também não é muito”, explica, frisando não ter apoio de mais nenhuma instituição para além da Caritas.

Hoje à noite, o novo Refeitório Social volta a abrir portas para que os mesmos utentes possam voltar a abastecer-se.

Samuel Mendonça

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico