Os catequistas da Diocese do Algarve foram hoje desafiados a uma “catequese catecumenal, mistagógica e querigmática” no Dia Diocesano do Catequista que decorreu durante a manhã na paróquia de Altura. 

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O desafio foi-lhes deixado pela diretora do Secretariado da Educação Cristã da Diocese do Porto na intervenção que teve como tema “Catequista: discípulo e construtor de Comunidade”. Após um momento inicial de oração contemplativa com os quase 200 catequistas de todo Algarve presentes para os incitar a “uma catequese de inspiração catecumenal, missionária que inicia à fé e vida cristã”, Isabel Oliveira considerou que “em todas as catequeses deveria acontecer” no início uma experiência daquelas com a “palavra preparada para ser ouvida”. 

Aquela especialista disse ainda que a catequese precisa da meditação para “criar um ambiente de escuta do Espírito”. “É indispensável”, considerou, referindo-se a um “novo paradigma”. “Neste momento temos muitas escolas da Europa já a trabalhar a meditação”, garantiu no encontro que teve lugar na igreja paroquial.

Aquela especialista em catequética começou por dizer que o “essencial” da comunicação de um catequista “não são as palavras”. “É o nosso ser”, distinguiu, acrescentando: “Dizemos coisas bonitas e não as levamos à prática. A catequese não pode ser só palavras bonitas. Tem de encarnar o amor”. “Um dos problemas na nossa catequese é que estamos sempre a dizer palavras muito bonitas, mas são só palavras”, reforçou.  

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Por outro lado, aquela educadora alertou que “sem o Espírito”, aquilo que a catequese faz “são atividades”. “Quando o Espírito vai à nossa frente, a catequese deixa de ser atividades e passa a ser uma experiência de fé e de vida”, diferenciou. 

Nesse sentido, Isabel Oliveira advertiu que “ser discípulo é fundamental”. “Temos de aprender a ser discípulos”, exortou, explicando que “quando o catequista é discípulo caminha com o mestre e pode ser testemunha da fé, guardião da memória de Deus, mestre e mistagogo, acompanhador e educador”.

A professora de catequética disse que “ser construtor de comunidade” se trata de educar as crianças “para a vida em comunidade” e “para serem construtoras de comunidade”. “Ajudar a construir comunidade no nosso grupo, no grupo com a família e no grupo com a paróquia”, especificou, lamentando haver grupos de catequese cujos membros “chegam ao fim dos 10 anos e não se conhecem nem se amam”. 

Nesse sentido, explicou que “o construtor de comunidade procura viver a intimidade” com Jesus e o seu amor e que “o catequista precisa de estar em comunhão” porque “a comunhão é a identidade da Igreja”. “Construo comunidade quando estou em comunhão”, evidenciou, lembrando que, para além do grupo de catequese e das suas famílias,“o catequista cria comunidade a nível nacional, diocesano, paroquial, com o pároco, com a equipa de coordenação de catequese”. “Só quando estamos em comunhão entre todos é que vemos bem o caminho”, alertou, acrescentando que o catequista “procura caminhos para que todos possam convergir para uma comunidade”.

A educadora acrescentou que quando as crianças vão à catequese deveriam experimentar “um amor que as alimenta a semana inteira”.

Isabel Oliveira deu vários exemplos práticos e sugeriu dinâmicas como a distribuição de tarefas pelo grupo de catequese em que haja uma equipa de acolhimento “que chega mais cedo para acolher os outros meninos”, outra que prepare a sala, outra que a arrume no final, outra que possa “cuidar da comunidade” que descubra situações de pessoas da comunidade por quem rezar, outra responsável de rezar por membros do grupo e por ter gestos para com eles. Mas também a criação de um “mealheiro para os irmãos mais carenciados” cuja receita seja proveniente das renúncias pessoais de cada catequizando e um “código da amizade” que possibilite aos membros do grupo orientarem-se uns aos outros “se alguém tem uma palavra ou gesto que não é bonito” e um “diário de bordo” que poderá “passar de família em família”, o que permitiria “criar laços”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

E para além da criação de laços, aquela especialista destacou a criação de pontes, desde logo com a comunidade e com as famílias. “A catequese pode criar pontes com a comunidade cristã, com a família, mas também pode ajudar a comunidade cristã a fazer aquilo que ela é chamada a fazer”, afirmou Isabel Oliveira que sugeriu ainda que os catequizandos se comprometam com tarefas na paróquia. Nesse sentido disse que os do primeiro ano poderiam responsabilizar-se por acolher as pessoas no início da Eucaristia, os do segundo por entregar frases bíblicas do Evangelho no final da mesma, os do terceiro por “levar Jesus eucarístico aos doentes”, acompanhando os ministros extraordinários da comunhão, os do quarto por fazer uma das leituras dominicais, integrando o grupo de leitores, os do quinto de “cuidar dos espaços verdes da paróquia”, os do sexto por apresentar e explicar os símbolos batismais junto dos pais e padrinhos que apresentam os filhos para o batismo, os do sétimo por um “ateliê de novas tecnologias” com pessoas mais velhas, os do oitavo por “tarefas com vicentinos ou outros grupos ligados à caridade”, os do nono por recolher as intenções particulares da comunidade, rezar por elas e apresentá-las à comunidade” e os do décimo por “organizar mensalmente tertúlias” sobre temas como “ciência, mundo digital, inteligência artificial ou política”.

Aquela conferencista aludiu mesmo à importância da criação de um projeto com o grupo que privilegie as dimensões da oração e caridade. “Estas propostas têm de ser conversadas com os nossos párocos para a comunhão eclesial”, acautelou, sublinhando: “não entendo uma catequese da adolescência sem projetos a sério, mas feitos por eles”. “É a partir do serviço que eles vão entender a alegria do Evangelho”, sustentou.

A oradora salvaguardou a necessidade de se ter de adaptar as dinâmicas propostas para a realidade de crianças que vivam situações de mau estar ou violência familiar.

O Dia Diocesano do Catequista foi promovido pelo Setor da Catequese da Infância e Adolescência da Diocese do Algarve e contou com a presença do seu bispo, D. Manuel Quintas, do diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã, Fernando Moita, e de Pedro Quintans do Departamento da Comunicação daquele organismo da Conferência Episcopal Portuguesa. Estiveram igualmente presentes o diretor do Secretariado da Catequese da Diocese do Algarve, padre Pedro Manuel, e a coordenadora do Setor Diocesano da Catequese da Infância e Adolescência, irmã Arminda Faustino, que é também a diretora do Departamento Nacional da Catequese.

Depois da intervenção de Isabel Oliveira, realizou-se um momento celebrativo, presidido pelo bispo do Algarve, durante o qual foram agraciados os catequistas com 25 ou mais anos de serviço e entregues os certificados àqueles que realizaram a formação ‘Ser Catequista’. A manhã terminou com o almoço-convívio. 

Dia Diocesano exortou catequista a ser “discípulo e construtor de comunidade sinodal, missionária e ministerial” (c/fotorreportagem)