
Cerca de 400 bogas do sudoeste, espécie de peixe de água doce da fauna portuguesa em risco de extinção, foram ontem libertadas no rio Arade, em Alferce, concelho de Monchique, no âmbito do “Projeto de Conservação ‘ex-situ’ de organismos fluviais”.
As espécies juvenis para repovoamento daquele rio algarvio nasceram e foram criadas em cativeiro no Aquário Vasco da Gama, em Oeiras, em tanques ao ar livre e em condições próximas das que existem na natureza.
Criado em 2008, o projeto, que visa a reprodução em cativeiro de espécies piscícolas da fauna portuguesa, é desenvolvido em parceria com a associação Quercus, a Unidade de Investigação em Eco-Etologia do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) e a Faculdade de Medicina Veterinária.
“Iniciámos o projeto quando tomámos consciência de que seria possível fazer algo com espécies de água doce criticamente em perigo de extinção e são bastantes nessa situação”, disse à agência Lusa Carla Santos, investigadora do ISPA.
Carla Santos acrescentou que a espécie de boga hoje libertada no rio Arade existe apenas no sudoeste de Portugal, “há cerca de oito milhões de anos”, encontrando-se ameaçada devido a vários fatores negativos, nomeadamente “pela poluição, a destruição de habitats e pela escassez de água, que no Sul é cada vez mais notória devido ao aquecimento global”.
Segundo a investigadora, para evitar o desaparecimento de várias espécies da fauna fluvial portuguesa, “foram colocados em cativeiro ‘stocks’ de reprodutores que dão origem a juvenis para repovoar as populações de origem”.
Carla Santos indicou que o repovoamento piscícola das zonas fluviais é depois acompanhado e monitorizado pelos investigadores, verificando-se “um aumento do número de indivíduos, o que é gratificante”.
Por seu turno, Paulo Lucas, da Quercus, alertou para a importância de intervenções ambientais que permitam “evitar a poluição dos rios e manter as espécies, algumas das quais de zonas muito específicas e únicas do país”.
“Aqui temos uma situação muito particular que tem a ver com a existência de suiniculturas, uma atividade económica privada que gere impactos significativos sobre este meio”, indicou o ambientalista.