O presidente do Centro Social Paroquial Padre Ricardo Gameiro, da Cova da Piedade (Almada), veio no passado dia 28 de março ao Algarve indicar que a sustentabilidade daquelas instituições assenta em quatro pilares.

No encontro dos centros sociais paroquiais e das Santas Casas da Misericórdia do Algarve que teve lugar no Centro Pastoral de Pêra, o padre José Gil Ribeiro considerou que são eles a “sustentabilidade na comunhão com a vida pastoral da Igreja diocesana”, a “sustentabilidade económica”, a “sustentabilidade financeira” e a “sustentabilidade na relação com a comunidade local”.

O responsável do Centro Social Paroquial Padre Ricardo Gameiro – que dispõe de nove equipamentos sociais (cinco na área da infância, dois lares de terceira idade, um centro de documentação e uma residência universitária), com um total de 30 respostas sociais com 300 trabalhadores a cargo e que apoia diretamente mais de 1.500 utentes e, de forma indireta, cerca de 5.000 pessoas –, começou por afirmar, relativamente à “sustentabilidade na comunhão com a vida pastoral da Igreja diocesana”, que a identidade cristã daquelas instituições “é fundamental”. “Existimos para servir e devemos ser reconhecidos e acolhidos na comunidade aonde servimos. O centro social paroquial tem origem na Igreja e deve ser sustentado na comunhão da Igreja”, considerou.

O sacerdote acrescentou que deve ser feito o esforço de “integrar o centro paroquial com as outras realidades da paróquia: a catequese, os escuteiros, os muitos voluntários nos diferentes serviços paroquiais”. “Que as pessoas não se demitam da ação do centro e da ação sóciocaritativa porque a tentação é dizer: «já se faz no centro e a comunidade não precisa de se preocupar com os mais pobres»”, exortou, lembrando que “a ajuda fraterna que se realiza no centro conta com a participação direta e ativa da comunidade através da partilha de bens que se faz nas igrejas nas eucaristias”.

Neste sentido disse ser importante “incentivar o voluntariado” e “abrir espaço para que a paróquia se sinta chamada a servir também no centro paroquial”. “O padre não foi ordenado para ser gestor e isso seria um pesadelo. Não podemos gastar o nosso tempo na gestão. Eu não sou gestor, sou presidente da direção. Os gestores tenho-os lá. Tenho de ter sensibilidade para saber dar espaço aos leigos que é uma coisa fundamental”, afirmou, lembrando que a direção do seu centro paroquial é voluntária e “escolhida a dedo com leigos empenhadíssimos na paróquia porque é um grande sinal para a comunidade ver a entrega, a gratuidade, a doação que a direção faz de si para os outros”.

O orador destacou ainda a importância de se integrar os planos pastorais diocesanos nas atividades das instituições, de “trabalhar com o Secretariado da Catequese o despertar da fé”, e de “fomentar o diálogo ecuménico e inter-religioso”. “Temos uma identidade e ela deve estar sempre presente no nosso trabalho e no nosso olhar, mas devemos ter uma abertura total ao diálogo ecuménico e inter-religioso. As nossas respostas são para todos. Não fazemos aceção de pessoas”, alertou.

Sobre a sustentabilidade económica, o padre José Gil Ribeiro frisou a importância da gestão com os recursos humanos que disse representarem 76% dos custos daquelas instituições. “Devemos ser muito exigentes e ter os melhores”, referiu, alertando para a necessidade de “não ceder à tentação de admitir alguém só porque é da Igreja”. “Isso é um erro”, advertiu.

Por outro lado, o dirigente considerou que a “avaliação de desempenho deve ser um investimento que os centros paroquiais devem fazer” porque “valoriza e motiva muito” os trabalhadores, a par da remuneração. “Não temos ninguém a ganhar o ordenado mínimo [nacional]. O nosso ordenado mínimo é de 625 euros. É importante termos uma política de salários que seja solidária. Não pagamos o ordenado mínimo [nacional], mas também não há ninguém a ganhar grandes ordenados”, referiu, acrescentando ser “uma forma de conseguir equipas motivadas” e com “estabilidade”.

O sacerdote aludiu ainda à necessidade de “gerir as despesas” para se “conseguir crescer nas margens operacionais”. “É importante não nos acomodarmos com os fornecedores. A contenção dos custos é a variável que nós podemos trabalhar de forma a melhorar as nossas margens. Quanto maiores forem as margens, mais [mensalidades] mínimas podemos aceitar das nossas famílias. Os ricos pagam para os pobres e a qualidade fica sempre no máximo. Aquilo que é bom para o rico também é para o pobre. Portanto, o pobre vai ter exatamente as mesmas condições que o rico tem”, justificou.

O orador destacou também a importância do controlo de gestão. “Temos de ter sistemas de informação de forma a podermos tomar decisões. É bom sistematizar a informação e levar à reunião de direção para ela saber como é que se comportam as margens operacionais”, aconselhou.

Relativamente à sustentabilidade financeira, o presidente do centro paroquial que tem um orçamento anual de cerca de 6 milhões de euros e é um dos maiores empregadores do concelho de Almada lembrou que aquelas instituições não têm fins lucrativos, mas que “é bom ter lucros” e que esses “devem permanecer na instituição”. Aquele responsável defendeu que a qualidade das respostas das instituições e a forma como elas crescem “é sempre fruto do investimento que vem dos capitais próprios”, desfiando a “equilibrar fundos próprios com investimento permanente na manutenção dos equipamentos”.

O sacerdote aconselhou os centros paroquiais a não serem “escravos dos pobres”. “A nossa missão não é ter pobres. Quem dera que não fossem necessários centros sociais paroquiais”, sustentou, pedindo que não fiquem “reféns de respostas sociais que o Estado já não precisa”. “Não nos podemos agarrar a respostas porque se as respostas surgem de necessidades. As necessidades são diferentes hoje do que eram há 40, 50 ou 20 anos”, prosseguiu, exortando à atenção a novas respostas e a que se aposte “naquilo que é diferenciador da escola [pública]”. “O centro paroquial tem de ser uma realidade dinâmica porque senão morre”, alertou.

Relativamente aos investimentos financeiros, exortou a “não ceder à tentação de fazer aplicações de risco”. “Devemos ter sempre presente que o nosso lucro está na ação social que fazemos e não na especulação financeira. O dinheiro das instituições deve estar a alimentar a economia nacional”, afirmou.

No respeitante à “sustentabilidade na relação com a comunidade local” desafiou à participação nas diferentes iniciativas dos municípios, à relação com as paróquias vizinhas para a promoção de um trabalho conjunto e à cooperação entre instituições que disse ser um “ponto-chave”. “É o grande desafio para que as instituições não vivam de costas viradas umas para as outras. Uma das mais-valias de uma estrutura comum seria a troca de informação”, considerou, garantindo haver “falta de partilha de informação entre as instituições”. “A relação entre pares não pode anular a relação com a comunidade paroquial”, alertou.

O bispo do Algarve, que presidiu ao encontro, alertou também para a importância do serviço daquelas instituições ser prestado com competência e tendo presente da dimensão da fé. “Prestar o nosso serviço tendo presente esta dimensão da fé, não só lhe dá um sentido novo como também nos dá um ânimo novo, particularmente em situações para as quais não temos resposta”, afirmou D. Manuel Quintas que também presidiu à eucaristia na igreja matriz de Pêra que encerrou os trabalhos da manhã.

Na parte da tarde, após uma breve apresentação do trabalho do Centro Paroquial de Pêra, o diácono Luís Galante fez uma apresentação relacionada com o contrato de trabalho na qual alertou para algumas das exigências a observar nas relações laborais.

O encontro, promovido pela Pastoral Social da Diocese do Algarve, contou com a participação da Cáritas Diocesana do Algarve, do Centro Paroquial da Mexilhoeira Grande, do Centro Paroquial de Cachopo, do Centro Paroquial de Estômbar, do Centro Paroquial de Martim Longo, do Centro Paroquial de Paderne, do Centro Paroquial de Quarteira, do Centro Paroquial de Santa Bárbara de Nexe, do Centro Paroquial de Santa Maria de Tavira, do Centro Paroquial de São Luís de Faro, do Centro Paroquial de São Martinho de Estoi, do Centro Paroquial de Vaqueiros, do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora do Amparo de Portimão, da Santa Casa da Misericórdia de Alcantarilha, da Santa Casa da Misericórdia de Armação de Pêra, da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime, da Santa Casa da Misericórdia de Lagos e da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo.