© Samuel Mendonça
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O economista João César das Neves defendeu em Faro, na passada terça-feira, que o propósito do trabalho é a família.

“É muito importante perceber que trabalho e família não estão ao mesmo nível. Quando baralhamos a ordem das coisas, corre tudo mal”, avisou no jantar-palestra promovido no Colégio de Nossa Senhora do Alto pelo núcleo do Algarve da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, acrescentando que “o trabalho é uma coisa grandiosa, mas a família é o objetivo”. “Nós não trabalhamos por trabalhar. Nós trabalhamos para a família. O propósito é a família”, sustentou.

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“Temos de perceber que estas duas coisas são muito grandes, mas que uma é maior do que a outra; que uma é o objetivo e outra é o instrumento. O trabalho é um instrumento extraordinário mas se o objetivo não for a família, perdemos os dois, perdemos a família e o trabalho”, advertiu na conferência sobre a relação entre família e trabalho.

O orador prosseguiu considerando ser “espantoso” haver hoje “pessoas que se esforçam imenso pela sua carreira” em detrimento da família, sendo que “depois, surpreendentemente, perdem o trabalho”. “É preciso perceber que o negócio dá muito trabalho e é preciso muita dedicação, mas a família dá mais e a finalidade do negócio é a família”, reforçou.

A este binónio, César das Neves juntou um terceiro aspeto – o templo –, alertando que é muito fácil “desequilibrar” este tripé. Muitos estão tão centrados no trabalho que se esquecem da família e do templo. Outros estão tão centrados na família que se esquecem do templo e do trabalho. E há outros que também descuram o trabalho por causa do templo”, lamentou, acrescentando que o mais importante é o templo. “Não podemos baralhar os valores. Se a família está acima do trabalho, o templo está acima de todos os outros”, avisou, explicando que “na conciliação família – trabalho – Deus, o essencial é Deus”. “Talvez passemos mais tempo no trabalho do que na família e no templo, mas isso não quer dizer que a ordem verdadeira não seja esta”, complementou.

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O orador, que abordou o tema “José – o carpinteiro de Nazaré”, disse ainda que “o trabalho tem, na sua essência, uma dualidade”: “por um lado é um direito e por outro é um dever”. “Por causa do pecado original, o trabalho tem uma dimensão de sofrimento, é doloroso, é pesado”, afirmou, explicando que “o sofrimento no trabalho não é simplesmente um castigo do pecado original, mas um caminho de salvação” e de “abertura à eternidade”. “O nosso trabalho é uma forma de participarmos na criação de Deus. É uma dignidade extraordinária”, evidenciou. “Cristo, Deus, vem trabalhar no meio de nós. O Filho, apesar de ser Deus, vem trabalhar como um de nós. Se fizermos o nosso trabalho desta maneira, a grandeza é extraordinária porque trabalhamos como o Senhor, que trabalha connosco, e para a salvação do mundo”, completou, acrescentando que “o facto de Deus ter um martelo na mão durante vários anos é o próprio evangelho do trabalho”.

Centrando a sua reflexão em José, marido da Virgem Maria, César das Neves tomou o exemplo do carpinteiro para exortar à rejeição do egoísmo e do egocentrismo dos dias de hoje, aludindo a uma atitude renovada que leve a pensar, em primeiro lugar, no outro. “Fazemos tantos juízos apressados e rapidamente saltamos para as conclusões porque estamos centrados em nós e achamos que o nosso orgulho é mais importante do que quer que os outros venham a sofrer. Todos os nossos sonhos, vida, carreira, empresa, empreendimentos têm um ideal que está centro em nós”, lamentou.

Lembrando que “o sonho de São José é fazer a vontade de Deus, o que quer que fosse”, questionou: “quantas vezes vemos nós a nossa vida como um serviço aos outros? Quantas vezes vemos isso como uma missão que nos é entregue por Outro? Se o meu sonho depende d’Ele, o que quer que aconteça o Senhor providenciará e então aí já não estamos dependentes deste nível, mas a aceitar uma coisa maior”, destacou.

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“São José, pelo simples facto de ser o que é, é um desafio aberto a todas as nossas teorias. Recebeu do céu a missão muito concreta que é exatamente o contrário do que a gente diz que deve ser”, prosseguiu, lembrando que “São José não resmunga, não duvida, não exige nada” e apenas “limita-se a cumprir”. “Passamos a vida a queixar-nos dos problemas que temos porque nunca tomámos a nossa vida como uma missão, como vinda do céu. E, no entanto, veio exatamente do mesmo sítio que a de São José”, concluiu.

O jantar-paletra, que contou com cerca de 40 empresários e gestores, foi precedido pela celebração da eucaristia presidida pelo cónego Carlos César Chantre, assistente espiritual do núcleo algarvio da ACEGE.