O cineasta António Pedro Vasconcelos defendeu no sábado que a eventual exploração de petróleo na Costa Vicentina traria um lucro “próximo do zero” para o país, que “correria todos os riscos”, perante os aplausos de centenas de manifestantes.

António Pedro Vasconcelos foi uma das personalidades que participou na manifestação que juntou mais de mil pessoas em Lisboa num protesto contra a prospeção de petróleo a 46 quilómetros de Aljezur.

O protesto começou às 15:00 na Praça de Luís de Camões e terminou três horas depois em frente à Assembleia da República.

“Este é um sítio e um momento simbólico”, afirmou o cineasta, lembrando que aquele é o local onde “é suposto os governantes defenderem os interesses” da população, mas “ali dentro há um silêncio e um vazio que são simbólicos”.

Contra o “crime ambiental” que é a prospeção de petróleo e o “crime económico” que são “os contratos feitos” entre o Governo e o consórcio internacional ENI/Galp, António Pedro Vasconcelos classificou a notícia de sábado do jornal Expresso de “pura intoxicação”.

Na edição de sábado, o Expresso revelou que o petróleo na Costa Vicentina poderá chegar aos 1.500 milhões de barris e que o projeto da Eni e Galp poderia “ajudar a reduzir o défice comercial”, já que a receita prevista “supera os 57 mil milhões”.

“É uma mentira pegada. Mas mesmo que assim fosse, aquilo que voltava para o país era próximo do zero. Nós correríamos todos os riscos e ganhávamos zero”, defendeu o cineasta.

Lembrando que os manifestantes têm “a energia e a razão” do seu lado, incitou à luta: “Nós temos fisgas e eles têm a bomba atómica. Mas com muitas fisgas vamos ganhar”.

“Há riscos que não se correm. Há crimes que não se cometem” e “Petróleo para quê? Não há Planeta B” eram algumas das frases dos cartazes que hoje encheram a praça em frente à AR, com o intuito de alterar a decisão de prolongar até ao final de 2018 o contrato de prospeção, pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo do consórcio internacional ENI/Galp.

Nídia Barata, do movimento independente STOP Petróleo Vila do Bispo, lembrou as mais de 30 ações levadas a cabo nos últimos três anos de luta contra a prospeção de petróleo: petições, manifestações, consultas públicas, providências cautelares, pedidos de audiência ao Primeiro-Ministro e ao Presidente da República.

“Tudo isto ignorado e como resposta a contínua renovação de licenças, informação encoberta e mentiras”, criticou Nídia Barata, anunciando que agora tinha chegado o momento de pedir mais uma audiência, mas com outro objetivo: “A demissão do Governo por não nos representar, ignorar e pelo constante exercício de violência sobre todos nós”.

Isto porque, explicou, “há mais de 30 anos que sucessivos Governos representam interesses privados e não os interesses das pessoas”.

O presidente da câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, também falou para os manifestantes, incentivando-os a continuar a luta: “Esta caminhada começou com três hipóteses de exploração. Neste momento resta uma única. Se conseguimos travar as duas, porque carga de água vamos deixar de acreditar que vamos conseguir travar a última que falta?”, questionou.

“Temos de forçar o Governo a ser coerente com a política que ele próprio adotou. Meus amigos, não desistam! Vamos continuar a lutar”, incitou o autarca.

O protesto de sábado foi organizado por uma plataforma que congrega 32 das principais organizações portuguesas de ambiente e de defesa do património, nacionais e locais, movimentos cívicos, autarcas e partidos políticos.

Os manifestantes voltaram a prometer que iriam lutar até ao fim, mesmo que só tenham “fisgas para combater a bomba atómica”.