Lembrando que “a comunicação não é evangelização” mas “facilita a evangelização”, o diretor do gabinete de imprensa do Opus Dei aconselhou os responsáveis das dioceses e das paróquias do sul do país a terem canais digitais próprios de comunicação para chegarem aos seus fiéis.

“Os nossos fiéis são os que têm mais interesse em saber e os que têm mais direito em saber. Eu não devo chegar a eles por canais alheios”, alertou Pedro Gil, orador das jornadas de atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal na passada terça-feira sobre o tema ‘Num Mundo global, saber comunicar com as linguagens hodiernas’, considerando que “a comunicação mais importante e a mais difícil é aquela que se faz para dentro”.

“Podem, aqueles que são nossos, confiar que lhes vai ser dito tudo o que é importante e especialmente o que é negativo ou para saber isso vão ter de usar outros canais? Na minha área há boatos a circular? Se há boatos a circular não devo apenas considerar que a responsabilidade é de quem faz circular os boatos porque, se calhar, não dei sinais que informem sobre aqueles factos que são objeto do boato. Existe na minha paróquia ou diocese o medo de dizer a verdade?”, interrogou, considerando que “comunicar bem não é só ser conhecido, mas é ser conhecido e amado, apreciado como organização que contribui para toda a comunidade e não apenas para os seus «clientes» e para os seus interesses”.

Considerando que “a Igreja tem de saber adaptar-se e tem de adaptar, não aquilo que ela é, a sua essência, mas a sua comunicação”, sublinhou que “a comunicação digital é indispensável”. Neste sentido, sustentou que 97% dos jovens entre os 15 e os 34 anos “usam redes sociais” e que destes, 71% estão de mais de três horas a uma hora nas redes sociais diariamente (30% mais de três horas por dia e 41% de uma a três horas por dia), segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Pedro Gil aconselhou, portanto, as instituições a terem “um canal de comunicação digital ou vários com cada um dos seus públicos prioritários, tendo em conta que estes canais não são apenas canais de promoção, de propaganda, mas de verdadeira comunicação, de escuta”. “Tem de haver modos de as pessoas poderem dar a sua opinião”, referiu, aconselhando as instituições a “aprender a ouvir” para que possam “escutar mais do que falar”. “Comunica melhor quem escuta melhor. O olhar dos outros sobre nós diz coisas muito importantes. Mantemos atitude de escuta mesmo quando quem fala traz mensagens negativas, queixas, problemas?”, prosseguiu.

Neste sentido, desafiou a “incluir na formação permanente dos sacerdotes, do pessoal da cúria, de diretores de instituições católicas, de responsáveis da paróquia, sessões sobre escuta ativa” e a “estabelecer um sistema de recolha e análise” daquilo que ouvem. “Esta informação é um tesouro e não deve permanecer apenas na memória das pessoas concretas”, sustentou.

Pedro Gil defendeu que os meios de comunicação social – jornais, televisão, rádio – servem para as instituições chegarem àqueles que ainda não as conhecem e aconselhou-as a que mantenham contatos com a imprensa. “É importante que estes contactos sejam relações de serviço aos meios de comunicação, que possamos falar sobre o que eles precisam: tomadas de posição sobre algum assunto que aconteceu, alguma informação mais de fundo sobre um tema, uma visão sobre um problema humano”, especificou.

“Se a relação for boa, se a instituição servir os jornalistas quando eles precisam, será muito mais fácil que recebam as minhas notícias quando fizermos alguma coisa que consideramos que é do interesse geral”, complementou.

Pedro Gil advertiu os responsáveis eclesiais para que estejam “preparados para as crises porque as crises são inevitáveis”. “Vamos ser julgados não tanto pelo que aconteceu, mas sobretudo pela forma como reagirmos quando acontecer. A sugestão é preparar um plano de crise que antecipe as situações que podem acontecer, que tenhamos medidas de contenção e comunicação que permitam a reagir rapidamente com medidas bem pensadas e com antecipação”, recomendou, considerando que “as dioceses deveriam ter pelo menos uma pessoa dedicada só à comunicação”.

O conferencista alertou aqueles responsáveis que “as palavras que se usam e as atitudes que se tomam são lidas, não de acordo com a mente de quem fala ou de quem atua, mas segundo a mente de quem ouve ou de quem vê”. “Quando uso uma palavra, o sentido não sou eu que lhe dou. Ela passa a ter só o sentido que as pessoas lhe dão”, advertiu.