Dezenas de alemães residentes no Algarve iniciaram esta tradição para quebrar o isolamento da Serra de Espinhaço de Cão à volta de um pinheiro de Natal.


Há cinco anos que Karl Heinz e Hildegard fazem da vizinhança a sua família na quadra natalícia. Não porque lhes faltem familiares – só os três netos seriam suficientes para encher a sala em torno do pinheiro de Natal -, mas antes porque "a tristeza" de saber que "idosos ficam sozinhos em casas ali tão próximas" os levou a abrir a porta de casa.

"Começámos por convidar poucas pessoas para se juntarem à nossa celebração, viúvas e viúvos que não tinham família ou que não tinham dinheiro para visitar os parentes na Alemanha", explicou à Lusa Karl Heinz Bieler.

Depois da primeira dezena de convivas, a casa dos Bieler passou a ser ponto de encontro de cada vez mais pessoas no dia 24 de Dezembro.

Num concelho onde se estima existir cerca de um milhar de alemães a viver em casas isoladas, juntaram-se outros solitários, mas também outras famílias com crianças.

Este ano, já são mais de 60 pessoas, entre elas 15 ingleses e até cinco portugueses.

Todos têm um papel na celebração. "As crianças vão tocar flauta, os adultos vão ler poemas. Há ainda oito pessoas a formar um coro para cantar uma ária de Vivaldi e até será tocada uma sonata de Anton Diabelli no piano a quatro mãos", lê o inspector escolar aposentado no programa que imprimiu em alemão e inglês.

A mulher, Hildegard, está mais ocupada com a preparação do espaço. Dois dias antes da festa, convocou Klaus Witzmann, o vizinho agricultor, para cortar um dos pinheiro bravos da propriedade, em redor do qual – manda a tradição germânica – todos se reunirão.

"Tudo tem a sua ordem. Num dia colocamos o pinheiro, no seguinte juntamos nova equipa de crianças, homens e mulheres para decorar a árvore com bolinhas de vidro e anjos, a sala com ramos frescos de árvores e toda a casa com diversos motivos de Natal", conta.

O encontro para a celebração natalícia está marcado para as 16:00. Um dos filhos dos Bieler, pastor protestante na Suíça, será o orador da reflexão da quadra, intercalada pelos diversos momentos musicais. Junto à árvore, as velas acesas indicam o momento em que os presentes serão trocados.

As seis horas que se seguem serão de "festa para a barriga".

Segundo o planeamento de Hildegard, "cada pessoa traz um pouco de comida e acabamos por ter uma quantidade enorme de iguarias", nomeadamente as obrigatórias na quadra, como as salsichas com salada de batata e os bolos de São Nicolau.

"É uma forma de recriar aqui o que cada um teria na sua casa, mas num ambiente mais alegre, muito vivo e muito quente", diz ainda a agente cultural aposentada.
Tanto Hildegard, como Karl Heinz garantem ter encontrado nesta forma de celebrar o conforto com a consciência. "Originalmente, o Natal é uma festa de amor e até é natural que seja mais intenso em família, mas ganha uma outra dimensão quando abrimos a nossa porta", confessam.