O cónego Álvaro Pereira Delgado disse ao clero das dioceses do sul que São Paulo “chegou a todo o mediterrâneo pregando o Evangelho” porque “tinha todo o mediterrâneo no seu coração que era um coração de ministro”.
Na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a decorrer em Albufeira desde segunda-feira com a participação de 77 elementos entre entre bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação, aquele sacerdote da Diocese de Sevilha e professor da sevilhana Faculdade de Teologia de Santo Isidoro abordou hoje o tema “Sagrada Escritura: identidade e missão do pastor” a partir da segunda carta de São Paulo aos coríntios, que evidenciou ser “o escrito no Novo Testamento que mais fala do ministério”.
“Neste texto, Paulo anima-nos a que encontremos um espaço de encontro íntimo com os outros. Porque Deus derramou o seu espírito no coração de Paulo, ele se dilatou para receber os coríntios”, sustentou, lembrando que o apóstolo escreveu aquela carta “para responder a criticas e desenvolve a reflexão mais completa do Novo Testamento sobre o ministério apostólico”. “Paulo escreve esta carta para propor a verdadeira identidade do ministério apostólico”, completou.
O orador, que apresentou a “metáfora do coração de Paulo”, referindo “o coração do ministro como metáfora espacial”, lembrou que o “coração é o espaço do encontro com Deus”. “Deus encontra-se com a pessoa no coração”, reforçou, sublinhando que “a geografia de missão de Paulo é na realidade a geografia do seu coração”.

O sacerdote lembrou que “o coração de Paulo era um lugar obscuro onde entrou a luz do espírito e foi iluminado”, explicando que “Paulo foi iluminado para iluminar com o Evangelho de Deus”. “Um problema é que os nossos corações estão muito inquietos e têm muito pouco silêncio interior. Tentamos que o coração se sacie da necessidade de afeto, que nos valorizem. Quando deixamos que espírito entre nele, o coração pacifica-se e amplifica-se e é muito mais fácil que as pessoas entrem nele. Ficamos muito mais em paz para nos entregarmos aos irmãos”, prosseguiu.
O especialista em São Paulo, que partiu da experiência relacional do apóstolo com a comunidade de Corinto, começou por lembrar que Paulo não era um “ministro eloquente”, nem tinha “cartas de recomendação”, mas tinha a “pretensão” de “ser ministro escatológico dos novos tempos”, uma dimensão que considerou faltar à teologia atual. O sacerdote referiu que “este ministério glorioso manifesta-se paradoxalmente em pessoas frágeis e, constantemente, atribuladas, sofredoras”. “A fraqueza pode manifestar a intervenção salvadora de Deus”, observou, constatando que “a fortaleza, pese embora aparentemente pareça melhor, ofusca o ministério”, enquanto “a fragilidade, vivida a partir de Jesus, tem um poder revelador da força do ministro”.