O cónego Carlos de Aquino evidenciou hoje ao clero do sul do país a liturgia como “realidade essencial” no exercício do seu ministério.

Na atualização de bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a decorrer em Albufeira desde segunda-feira com a participação de 77 elementos, aquele sacerdote abordou o tema “Importância da Liturgia na vida dos ministros ordenados”. 

“É na liturgia que nos unimos a Cristo, bom pastor, e isso é o fundamento do nosso ministério”, realçou, lembrando os ministros que a sua “relação pessoal com o Senhor exprime-se singularmente na celebração litúrgica”. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O docente do Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE) — entidade que organiza a formação que está a decorrer no hotel Alísios — referiu-se à “importância da dimensão litúrgica e do seu insubstituível valor na vida dos chamados aos ministérios ordenados, convidados a apascentar a Igreja não somente pela palavra, mas também, e sobretudo, pela graça de Deus que a liturgia singularmente manifesta e concede”. 

O cónego Carlos de Aquino destacou que “todo o serviço ministerial não deve fazer outra coisa que não orientar e conduzir para o Senhor” e que “viver para a liturgia e viver da liturgia é fundamental”. “Só a união pessoal, comunitária e profunda a Cristo assegurará a fecundidade do apostolado e do nosso serviço”, alertou.

“A vida de um presbítero é toda ela plasmada pela vivência litúrgica porque a liturgia é lugar privilegiado para encontrarmos Deus e participarmos no mistério de Cristo”, sustentou, acrescentando que “a liturgia é o lugar onde se manifesta e se apresenta, com mais claridade e justiça, o verdadeiro rosto da Igreja”. 

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O orador lamentou que “o mistério que se celebra nos sacramentos não seja percebido pela maior parte da comunidade”, acrescentando também “a impressão de uma separação já consolidada entre ministério e liturgia, não assumindo esta justa centralidade” na vida dos pastores. 

Por outro lado, acrescentou ainda o “problema da linguagem e da comunicação”, garantindo ser “importante que o presidente saiba ler a assembleia para avaliar a sua capacidade comunicativa, sabendo dialogar, comunicar, valorizando não só as palavras”, “não só a linguagem informativa, mas performativa da ação”. Nesse sentido, chamou a atenção para a importância do corpo, dos gestos, do olhar, da voz, exortando a “uma linguagem que comunique e co-envolva, interpele e emocione, ilumine, forme e leve ao encontro” e alertou que “a homilia é palavra de Deus” e “parte integrante da liturgia da palavra para alimentar a vida cristã”.

Ainda no âmbito do desafio da linguagem e a comunicação litúrgica, lembrou que o presidente não é o “centro da ação celebrativa”, advertindo para “duas tentações a evitar que ferem a natureza da liturgia”: “o relativismo e o formalismo”. Neste sentido, rejeitou “a promoção de celebrações espetaculares, capazes de suscitar emoções e exaltar sentimentos”, tornando os ministros “fenómenos de atração”, mas que “não convertem o coração a Deus” e a de um “ritualismo legalista sem alma e verdade, despojado de autenticidade, onde apenas se repetem fórmulas sem se compreender o sentido das mesmas”.

O liturgista lembrou que “a liturgia não é o conjunto de ritos edificantes ou de cerimónias solenes”, nem “expressão ou resultado de uma religião indecifrável ou de um culto esotérico”, nem “celebração vaga em nome do divino”, nem “um mero conjunto de normas, rubricas, leis, orientações promulgadas pela hierarquia para regerem o culto oficial da Igreja”, mas “é fundamentalmente celebração festiva da salvação em Cristo realizada no corpo do Senhor ressuscitado que é a Igreja”.

O cónego Carlos de Aquino referiu que os ministros têm “a grave responsabilidade de transmissão do verdadeiro sentido da liturgia”.

Destacando a “liturgia como fonte de espiritualidade cristã”, “fonte e cume da missão da Igreja” e “lugar privilegiado” na sua missão evangelizadora, concluiu que “celebrar é evangelizar”, acrescentando que “a Igreja precisa hoje e sempre de viver da liturgia”. “É importante que se redescubra a celebração litúrgica como expressão de uma autêntica vida espiritual, o que requer formação contínua, aprofundada, uma verdadeira mistagogia litúrgica”, defendeu. Explicando que “a liturgia é sacramento de uma vida em comunhão com o Senhor”, acrescentou que todos devem assumir a “importante e indeclinável missão” de “formar para a liturgia” para serem “formados pela liturgia”.