O cónego Mário de Sousa, presidente da Associação Bíblica Portuguesa, disse à Agência Ecclesia que uma tradução dos textos da Escritura devem respeitar o “sentido profundo” que está na sua génese.
“Como podemos olhar para um livro que foi produzido a partir de uma comunidade, que expressa uma fé, sem sermos orientados por essa mesma fé?”, refere o coordenador da comissão responsável pela nova tradução da Bíblia, para a Conferência Episcopal Portuguesa.
O entrevistado fala num esforço coletivo, de vários tradutores e outros especialistas, que procura respeita a “própria natureza” dos textos bíblicos, atendendo ao “sentido profundo que lhe deu origem”.
Para o cónego Mário de Sousa, há uma “grande diferença” entre a linguagem descritiva, mais habitual na cultura ocidental, e a linguagem “evocativa” da Bíblia.
A Igreja Católica prepara-se para celebrar o Domingo da Palavra (22 de janeiro), estabelecido pelo atual Papa, a 30 de setembro de 2019, que na sua quarta edição vai ter como lema ‘O que vimos e ouvimos é o que também vos anunciamos’, da primeira carta de São João (1 Jo 1,3).
“É um domingo em que somos convidados a redescobrir como, na Bíblia, encontramos a Palavra de Deus”, evitando olhar para a Escritura como para “outro livro qualquer”, aponta o cónego Mário de Sousa.
O sacerdote da Diocese do Algarve sustenta que “a Palavra tem uma centralidade que é inquestionável”, mas é importante celebrar datas como as do próximo domingo, com o objetivo de “parar e recentrar” a vida cristã.
“A Bíblia é uma espécie de tenda do encontro, onde nos podemos encontrar com Deus, como Moisés fazia”, sustenta.
O Papa vai presidir a 22 de janeiro à Missa do Domingo da Palavra, numa celebração em que, pelo segundo ano consecutivo, institui no ministério de leitor e de catequista leigos e leigas católicas, na Basílica de São Pedro.
Durante a celebração, “com o objetivo de reavivar a responsabilidade que os fiéis têm no conhecimento da Sagrada Escritura, entregará aos presentes o Evangelho de Mateus”, adianta uma nota do Dicastério para a Evangelização (Santa Sé).
O cónego Mário de Sousa entende que a valorização do ministério de leitor é “um desafio a um aprofundamento cada vez maior do conhecimento da Bíblia”.
Em ano de assembleia geral do Sínodo dos Bispos, o sacerdote sublinha que o Novo Testamento mostra vários momentos de tensão e debate, com sensibilidades diferentes, sem que se tenha perdido de vista a “verdade do Evangelho” e a “novidade que Jesus sempre implica”.
“A escuta é o princípio do caminho eclesial, do caminho da fé”, acrescenta.
A entrevista ao presidente da Associação Bíblica Portuguesa está em destaque na emissão do Programa Ecclesia do próximo domingo, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00, ficando depois disponível online.