Perante uma plateia atenta e bastante numerosa, na qual se encontrava D. Manuel Neto Quintas, bispo do Algarve e Dália Paulo, diretora regional de Cultura do Algarve, a investigadora recordou a vida e obra deste clérigo, no dia em que se completavam 435 anos da mudança do Bispado de Silves para Faro (em 1577) e se formava, então, a Diocese do Algarve.

Nair Castro Soares recordou o percurso académico de Jerónimo Osório, que estudou nas melhores escolas do seu tempo, tendo passado por Salamanca, Paris, Bolonha e Coimbra, onde viria a lecionar. Estudou Teologia, Filosofia e as línguas clássicas, tendo-se notabilizado pela sua capacidade e conhecimento do Latim – língua que usou para escrever as suas obras – e do Hebreu.

Notável prosador, admirador de Cícero, cujas características de linguagem assimilou e soube usar como poucos, foi percursor, no estilo, como relatou a Docente da Faculdade de Letras de Coimbra, de outros notáveis escritores/pensadores portugueses, como o padre António Vieira.

Humanista de vulto, revelou-se, conforme salientou Nair Castro Soares, um fervoroso defensor da Igreja e da sua unidade, sendo fortemente contra a Reforma protestante, tendo mesmo enviado cartas à Rainha de Inglaterra, Isabel I e aos seus mais diretos concelheiros e teólogos, afirmando veementemente a sua oposição à separação dos Anglicanos em relação à Igreja Católica e contrapondo os argumentos por estes usados na justificação dessa separação. Também se manifestou relativamente aos pensamentos de Lutero e Calvino, referindo-se frequentemente à cisão reformista como o «rasgar da túnica de Cristo», explicou a investigadora da Universidade de Coimbra.

Paladino dos valores da justiça e da verdadeira nobreza, soube, enquanto Bispo de Silves, ajudar as populações, criando locais de armazenamento de cereais, bolsas de estudo para ajudar os mais pobres no estudo das línguas clássicas e distribuindo esmolas e comida aos mais pobres.

«Este homem, incompreendido e esquecido por tantos, teve, na sua época, a mesma dimensão e importância de um Erasmus de Roterdão, sendo citado pelos mais influentes pensadores e hoje», destacou Nair Castro Soares, «as suas ideias são de uma profunda atualidade, já que se preocupava com a justiça, com o valor da terra e da agricultura, com o bem saber e fazer política», disse. Aliás, a este propósito, recordou-se uma das cartas por si enviadas ao cardeal Rei D. Henrique, na qual aconselhava o monarca a unir-se a Espanha, já que tal facto era inevitável e mais valia, na sua opinião, que se fizesse pela vontade livre dos portugueses, sem derramamento de sangue nem conflitos, do que pela força, como acabaria por acontecer.

«Hoje, finalmente, Silves e Faro estão unidos e fizeram as pazes», afirmou em tom de brincadeira, no final do encontro, D. Manuel Neto Quintas, bispo do Algarve, recordando o facto de ser ele o bispo que mais tem unido estas duas cidades, pois foi ordenado na catedral de Silves. «Dá-se, ainda, uma coincidência muito interessante: até a D. Jerónimo Osório terão sido 33 os Bispos de Silves e, curiosamente, eu sou o 33º bispo depois de D. Jerónimo Osório, ou seja, tivemos 33 bispos em Silves e temos, agora, 33 bispos em Faro», recordou D. Manuel Quintas. «Hoje aprendemos muito! Eu próprio, enquanto bispo, muito beneficiei do que foi aqui dito, pois D. Jerónimo Osório é uma figura impar, de uma importância significativa e um exemplo a seguir», concluiu o Bispo do Algarve.

Durante a sessão, moderada por Luis Santos, da comunidade paroquial de Silves, houve ainda tempo para a leitura de alguns excertos de textos de D. Jerónimo Osório, lidos pelo padre Carlos Aquino, pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Silves.

Esta atividade teve o apoio da Direção Regional de Cultura do Algarve, da Rota das Catedrais, da Câmara Municipal de Silves, da FNAC, do Hotel Colina dos Mouros e do Restaurante Recanto dos Mouros.

Sandra Moreira