O Conselho Geral da Cáritas Portuguesa arrancou esta noite no Algarve, concretamente no Seminário de São José, em Faro, sob a presidência de D. José Traquina.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na sessão de abertura, o presidente daquele órgão da Cáritas Portuguesa apelou a “um renovamento espiritual e cultural” sem envolvência em “falsos entusiasmos”. Aquele responsável alertou que “a informação acerca do bom estado da saúde da economia descansa muita gente, mas não corresponde à situação de muitas pessoas”.

O bispo de Santarém, que preside à Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa, considerou “necessário que as empresas existam e tenham êxito”, mas também “que o desenvolvimento da sociedade seja abrangente a toda população”. “Caso contrário, edifica-se uma sociedade não justa e perigosa para todos”, alertou.

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D. José Traquina considerou que “o número de pessoas pobres e em risco de pobreza, a diferença de rendimentos entre pessoas residentes em Portugal, a dificuldade de promover as regiões mais distantes das grandes cidades e também a dificuldade na progressão da cultura da solidariedade gera um ambiente de preocupação e, às vezes, até de falta de esperança”.

Realçando que “o assunto que envolve o mundo é a economia e as armas, a par de milhões de pessoas que passam fome”, aquele responsável desafiou, “face a estas dificuldades”, a não cair num “pessimismo de quem não tem esperança”, lembrando que “as crises são também oportunidades para abrir caminhos de esperança”.

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O presidente do Conselho Geral da Cáritas disse ser “necessária uma chamada a todas as pessoas para se sentirem corresponsáveis na edificação da sociedade onde vivem”.

D. José Traquina lembrou ainda que, “como expressão da Igreja, a Cáritas não é concorrente com a sociedade ou com as autarquias”, mas “cooperante e dialogante para ajudar a encontrar soluções”.

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O bispo do Algarve manifestou o seu apreço pelo serviço que a Cáritas Diocesana presta na diocese. D. Manuel Quintas desejou que aquela reunião no Algarve possa constituir uma oportunidade para a diocese “se sinta mais estimulada ainda no serviço”. “O serviço da Cáritas é sempre uma interpelação, um apelo e uma inquietação no sentido de olharmos à nossa volta com o coração e não com os olhos. Se olharmos com o coração, certamente que nos sentimos mobilizados e mobilizamos outros para socorrer quem precisa”, considerou.

A presidente da Cáritas Portuguesa, por sua vez, considerou o Conselho Geral uma “oportunidade muito importante” não só para “avaliar o que foi feito”, mas para fazer uma “leitura da realidade”, para a rede Cáritas trabalhar nos territórios que não conhece e “interagir com outras realidades” e também para trabalhar temas que a preocupam e que “merecem um olhar conjunto sobre a realidade social”. “O trabalho com os atores locais, sempre em rede, tem-nos permitido em cada território fazer a diferença na vida dos mais vulneráveis”, assegurou Rita Valadas.

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“É uma oportunidade única de nos encontrarmos todos e podermos trocar impressões e falar de preocupações e, em relação ao território que visitamos, mostrar que somos uma rede. Juntamo-nos todos para ver o que é que podemos aprender uns com os outros e o que é que podemos partilhar de recursos, de pensamento e de estratégia”, prosseguiu.

Rita Valadas disse que “estes tempos são muito difíceis”. “Temos muitos desafios, muitos que nos acompanham há muito tempo, mas muitos novos e a Cáritas tem feito a diferença em todas as situações de crise que o país tem enfrentado”, desenvolveu, confessando estar “muito entusiasmada com este Conselho Geral porque a Cáritas Portuguesa tem um mandato de trabalho” para ele: conseguir fazer dele “algumas preocupações, alguns bons conselhos e algumas soluções”.

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O presidente da Cáritas anfitriã retratou o Algarve como “região de grandes contrastes” em que para além da praia existe ainda o barrocal e a serra “com todos os seus problemas socioeconómicos e populacionais muito específicos, onde a fuga da população para o litoral na busca de melhores soluções profissionais acaba por deixar muitos montes apenas com os idosos entregues a si mesmos”.

Carlos de Oliveira disse ser uma “região também de grandes diferenças entre ricos e pobres” com “concelhos onde a riqueza de alguns contrasta com a pobreza agravada de muitos”, estimando que 25% da população algarvia viva na pobreza.

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Por outro lado, aludiu a “grandes concentrações de imigração de várias proveniências” para trabalhar na agricultura, no turismo, na hotelaria ou nos serviços e garantiu que muitos imigrantes procuram a Cáritas “para verem solucionados muitos dos seus problemas”. O presidente da Cáritas do Algarve disse continuar “a chamada pobreza institucionalizada” de “famílias que, caindo na pobreza há muitos anos, ainda não conseguiram sair dela” que também continuam a bater à porta da instituição.

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A sessão de abertura do Conselho Geral da Cáritas Portuguesa, cujos trabalhos prosseguem até domingo, 17 de março, contou ainda com a presença da diretora do Centro Distrital de Faro da Segurança Social, Margarida Flores, e com alguns momentos musicais protagonizados pelo coro de câmara da Sé de Faro, ‘Cantate Domino’, dirigido pelo maestro Rui Jerónimo e acompanhado ao órgão por Ricardo Starkey.

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Para além da sala do trono, onde decorreu aquela sessão, os conselheiros puderam ainda visitar outros dos principais espaços do Seminário da Diocese do Algarve, como sala de estudo e biblioteca, a sala de formação, a biblioteca antiga, a capela e o passadiço sobre as muralhas.