“Contemplemos na tarde deste dia o coração trespassado de Jesus”, convidou o bispo na celebração de hoje em que a Igreja assinala a Paixão e Morte de Cristo, lembrando “Aquele que realiza, pela humanidade inteira, o sacrifício da entrega da sua vida”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Foi por nosso amor que Jesus morreu na cruz”, reforçou D. Manuel Quintas, na celebração da Paixão do Senhor, a que presidiu esta tarde na Sé de Faro, realçando que as leituras desafiam “a assumir uma atitude de silêncio interior, silêncio contemplativo e orante, até como resposta ao convite que São João faz”.

O bispo diocesano desafiou então cada um a “deixar-se atrair” por Jesus. “Deixar-se atrair significa deixar-se amar, aceitar o seu amor; significa também corresponder a este amor e comprometer-se a partilhá-lo com os outros”, explicou.

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“Cristo «atrai-me para si» para se unir a mim, para que eu aprenda a amar os irmãos com o seu mesmo amor. Amar significa precisamente compreender, perdoar, ajudar, amparar, cuidar, ou sendo mais explícitos, acolher, vestir, visitar, dar de comer, dar de beber”, prosseguiu, acrescentando: “somos convidados a sair de nós próprios e a abrir-nos, num abandono confiante, ao abraço misericordioso do Pai”.

D. Manuel Quintas explicou qual deve ser a “atitude diante da cruz”, citando o papa Francisco na homilia da celebração de sexta-feira passada, no fim da qual invocou a bênção para a cidade de Roma e para todo o mundo (Urbi et Orbi). “Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar”, citou.

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O bispo do Algarve acrescentou ainda que “abraçar a cruz”, “significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade”. “Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar (os outros)”, continuou.

“Que a celebração da Paixão e Morte do Senhor, nesta tarde de Sexta-feira Santa e, sobretudo a Cruz gloriosa, que esta tarde somos convidados a adorar com fé e esperança, ilumine e desfaça as trevas que, neste momento de grande perturbação, possam, porventura, obscurecer o nosso coração e abri-lo ao amor redentor d’Aquele que nela foi crucificado”, desejou, por fim, D. Manuel Quintas.

“Confiemo-nos todos ao trespassado, pela intercessão de Maria, Senhora da Piedade e Mãe Soberana, certos de que Ele não nos deixará sucumbir à mercê das tempestades, que possam abater-se sobre nós, sobre toda a humanidade”, concluiu.

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A oração universal da celebração desta tarde assume uma forma solene e ampla. Composta habitualmente por dez intenções, a prece (vulgarmente conhecida como oração dos fiéis) procura abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade, mas hoje ficou marcada pela introdução de mais uma, acrescentada pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, pelas vítimas da atual pandemia. “Oremos por todos os que sofrem as consequências da atual pandemia, para que Deus, Nosso Senhor, conceda a cura aos enfermos, força aos que trabalham a saúde, conforto às famílias e a salvação a todas as vítimas mortais”, proferiu o diácono Luís Galante.

“Deus eterno e omnipotente, único refugio daqueles que sofrem, ouvi benignamente a aflição dos vossos filhos que sofrem esta pandemia, aliviai a dor de quem sofre, dai força a quem está ao seu lado, acolhei na vossa paz os que já pereceram e fazei com que todos encontrem o auxílio da vossa misericórdia neste tempo de tribulação”, acrescentou D. Manuel Quintas.

Assim, para além de terem em conta “os que sofrem toda a espécie de tribulações”, os católicos rezaram também pela Igreja, pelo papa, pelo bispo local e todos os restantes bispos, presbíteros, diáconos, pelos que exercem na Igreja algum ministério e por todo o povo de Deus, pelos catecúmenos, por todos os que creem em Cristo, pelo povo judeu, pelos que não creem em Cristo, pelos que não creem em Deus e pelos governantes de todas as nações “para buscarem sempre a verdadeira paz e a liberdade de todos os povos”.

Pediu-se ainda “para que se fortaleça em toda a terra a prosperidade das nações, a segurança da paz e a liberdade religiosa”, para que Deus “livre o mundo de todos os erros, afaste as doenças e a fome em toda a terra, abra as portas das prisões e liberte os oprimidos, proteja os que viajam e reconduza ao seu lar os imigrantes e desterrados, dê saúde aos enfermos e a salvação aos moribundos”.

O dia de Sexta-feira Santa, em que imperam o silêncio, o jejum e a oração, é um dia alitúrgico por ser o único do ano em que não se celebra a eucaristia.

A celebração desta tarde, centrada na adoração da cruz, nas igrejas com os altares desnudadas desde a noite de ontem, é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão eucarística.

Na catedral de Faro, a celebração da Paixão do Senhor iniciou-se, como acontece em todo o mundo, em silêncio, com o bispo do Algarve a prostrar-se diante do altar descoberto, e terminou também em silêncio.