O presidente do Secretariado Regional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) lamentou que a Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime tenha sido multada em 600 euros pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) por ter tido equipas a trabalhar em espelho durante o último surto da Covid-19 na instituição em fevereiro passado.
A denúncia foi feita no Encontro dos Centros Sociais Paroquiais e das Misericórdias do Algarve que teve lugar no passado dia 19 de maio no Museu do Traje da Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel, promovido em parceria pela Diocese do Algarve, por aquela Santa Casa e pelo Secretariado Nacional da UMP.
“Depois do exemplo nacional que as instituições deram, ser «presenteada» com uma multa de 600 euros faz-nos quase baixar os braços. Fica-nos este nó na garganta”, afirmou Armindo Vicente, pedindo às instituições que se mantenham fortes. “Força! Não vão abaixo por isso!”, pediu aquele responsável que é também o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo.
Em declarações ao Folha do Domingo, a provedora da Misericórdia multada explicou o que aconteceu. “Tínhamos horários em espelho por orientação da Saúde. Tínhamos acabado de ter outro surto de Covid e, para evitar o máximo de contatos, fizemos os horários em espelho porque já estava implementado. No dia 1 de março terminámos os horários em espelho e dissemos isso às inspetoras, mas mesmo assim elas autuaram-nos” lamentou Sílvia Sebastião.
Aquela responsável explicou que os funcionários concordaram com os horários de trabalho em espelho, através de declaração subscrita por todos. O período de trabalho de 11h consistia em trabalhar “das 8 da manhã às 8 da noite e das 8 da noite às 8 da manhã com as pausas para almoço e descanso”. “Já pagámos a multa. Protestámos, contestámos para a ministra e para o ACT. Ficámos muito tristes com a situação porque fizemos tudo para tentar que o vírus não se expandisse”, justificou a provedora, acrescentando que a opção laboral foi tomada “a pensar sempre no bem-estar dos utentes e dos funcionários” e “sempre com as orientações do delegado de saúde”.
A Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime foi a primeira no Algarve a ter casos de Covid-19 e com várias mortes associadas, em abril de 2020.