“Não podemos continuar a fazer, fazer, fazer e, de vez em quando, dedicar um pouco de tempo à oração”, advertiu o bispo de Lamego, orador no Encontro Interdiocesano da CIRP – Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, promovido pelo Secretariado Regional do Algarve daquele organismo e que reuniu cerca de 81 consagrados, membros de institutos e congregações religiosas.

Na jornada que contou ainda com a presença dos bispos do Algarve e de Beja, D. Manuel Quintas e D. António Vitalino, e dos responsáveis nacionais da CIRP, D. António Couto abordou o tema “Vida Consagrada – Profecia e Fé”, alertando para os riscos do ativismo e do protagonismo, mesmo num tempo de diminuição das vocações. “Aumenta a tentação de querermos fazer mais coisas. Temos sobretudo de nos manter à escuta de Deus e não pensarmos que as nossas muitas aptidões fazem as coisas. Somos muito mais eficazes quando passamos mais tempo a escutar da palavra de Deus. Ou estamos atentos à palavra de Deus ou não cumpriremos a nossa missão”, advertiu.

“A nossa vida é para viver na escuta de uma palavra que vem de fora e que nos constrói. Devemos escutar em alta-fidelidade, em hi-fi, sintonizados em alta frequência para captar bem a palavra que constitui a nossa identidade profética. A palavra de Deus não anda nas nossas frequências, mas noutra frequência e nós temos de a sintonizar”, alertou D. António Couto, lembrando que os consagrados não são funcionários.

“Quando fazemos alguma coisa sem que a palavra de Deus venha sobre nós, se calhar fazemos coisas por nossa conta e risco mas não fazemos aquilo que deveríamos fazer. Se não escutamos esta palavra, por ventura estamos a dizer coisas muito interessantes mas não as coisas que deveríamos dizer”, alertou, pedindo, então, aos consagrados que sejam profetas. “Um profeta não vive à sua maneira, por conta própria, segundo os seus sonhos, gostos e projetos”, frisou.

E porque “o profeta não pode ser missão sem ser vocação”, D. António Couto pediu aos consagrados que imprimam em si a vida de Deus. “Não posso exprimir o que não deixo imprimir em mim”, justificou, lembrando que “a missão do profeta é dizer a palavra que Deus lhe pediu para dizer”. “É uma imensa dignidade e uma imensa responsabilidade falarmos em nome de Deus”, constatou.

Neste sentido pediu aos consagrados que sejam uma “transparência de Deus”. “Deus fala através da minha vida. Devo ser uma testemunha de Deus neste mundo. O exemplo, o modelo e a forma de viver é fundamental”, sustentou.

Frisando que “o anúncio contém também uma componente de denúncia”, o bispo de Lamego considerou mesmo que o “ponto mais fundo” da profecia dos consagrados é a fase do seu “apagamento”, em que já não são os próprios a falar mas outros que falam por si.

D. António Couto, que defendeu uma Igreja “ágil eficiente” e disse que esta “só será credível se for pobre, simples e humilde”, pediu ainda aos cristãos que apoiem o Papa e que lhe façam chegar esse apoio porque “o Papa também precisa de ser apoiado”.

O encontro terminou com a celebração da eucaristia no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana.

Samuel Mendonça