O arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Mérida-Badajoz (Espanha), que foi secretário do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé), referiu hoje na atualização do clero das dioceses do sul que “há uma mudança de modelo na pedagogia formativa” dos futuros sacerdotes.

“Da formação passiva passa-se a um processo onde cada um se sinta responsável por esse crescimento: humano, espiritual, sacerdotal”, referiu D. José Rodríguez Carballo na formação que está a decorrer desde ontem em Albufeira, no hotel Alísios, com a participação de 77 elementos, entre bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação das quatro dioceses.

O arcebispo da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) acrescentou que a mudança passa “de um formador que ordenava e dirigia” a “formadores que escutem, acompanhem e motivem”. Nesse sentido, destacou a importância do acompanhamento espiritual e de “passar de uma formação dirigida a uma formação de escuta, acompanhamento e motivação”. Aquele responsável, que abordou o tema “Perfil do Presbítero para o Século XXI, que a Igreja e o Mundo esperam”, destacou mesmo a necessidade de se “passar de um ou dois formadores a uma comunidade formativa”.
Na reflexão em que aludiu à “crise vocacional” existente e identificou fatores, D. José Rodríguez Carballo disse estar “convencido de que a necessidade vai obrigar a juntar e unir forças”. “Nisso não vejo um drama, mas um desafio”, afirmou, considerando que “desta crise podem surgir coisas muito bonitas que ajudem a recuperar a dimensão católica da Igreja”. “Chegámos a uma situação em que temos de tomar decisões”, prosseguiu, acrescentando: “a crise será positiva se tomarmos decisões oportunas”. “Creio que a crise tem solução”, considerou, aconselhando a “não olhar para o lado” e rejeitando “decisões fáceis e populistas” para “dar respostas adequadas aos desafios que vêm da cultura atual”.

Nas soluções para fazer face à situação vocacional atual, o orador exortou a “fazer um bom discernimento dos [candidatos] que entram”, considerando que o importante “não é o número, mas a qualidade”. Para além disso apelou ao “acompanhamento”, garantindo que “a crise fundamental dá-se nos primeiros cinco anos depois da profissão solene ou da ordenação sacerdotal”. “Não basta acompanhá-los durante a formação inicial. Temos de acompanhar depois dela”, alertou, realçando inclusivamente a importância do “acompanhamento espiritual” e de “recuperar espaços que ajudem à interioridade”.
Aludindo à valorização da dimensão espiritual dos sacerdotes, sublinhou a “importância da oração pessoal e da oração litúrgica”. “Que os padres, de vez em quando, também se possam juntar para rezar e comer juntos”, aconselhou, acrescentando também a “dimensão humana da afetividade e da sexualidade durante toda a vida”. Nesse âmbito referiu que para a “maturidade afetivo-sexual” dos sacerdotes é preciso “sentir-se querido, amado”, “chamado a amar”, “amar a própria vocação” e “amar segundo a própria vocação”.
O arcebispo, que exortou a “superar a crise de auto-imagem”, “do realismo” e a “da redução”, apelou à “consciência de que a formação não termina nunca”. “Se estamos vivos estamos em formação. Deixemo-nos de formadores e formandos. Todos em formação”, pediu.
Por fim, enumerou os desafios e riscos para a vocação sacerdotal, exortou à criação de uma “cultura vocacional” nas dioceses não apenas para as vocações consagradas e aconselhou o clero a “contar mais com os leigos” e a “formá-los bem”.