O arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Mérida-Badajoz (Espanha), que foi secretário do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé), referiu hoje na atualização do clero das dioceses do sul que “há uma mudança de modelo na pedagogia formativa” dos futuros sacerdotes.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Da formação passiva passa-se a um processo onde cada um se sinta responsável por esse crescimento: humano, espiritual, sacerdotal”, referiu D. José Rodríguez Carballo na formação que está a decorrer desde ontem em Albufeira, no hotel Alísios, com a participação de 77 elementos, entre bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação das quatro dioceses.

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O arcebispo da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) acrescentou que a mudança passa “de um formador que ordenava e dirigia” a “formadores que escutem, acompanhem e motivem”. Nesse sentido, destacou a importância do acompanhamento espiritual e de “passar de uma formação dirigida a uma formação de escuta, acompanhamento e motivação”. Aquele responsável, que abordou o tema “Perfil do Presbítero para o Século XXI, que a Igreja e o Mundo esperam”, destacou mesmo a necessidade de se “passar de um ou dois formadores a uma comunidade formativa”. 

Na reflexão em que aludiu à “crise vocacional” existente e identificou fatores, D. José Rodríguez Carballo disse estar “convencido de que a necessidade vai obrigar a juntar e unir forças”. “Nisso não vejo um drama, mas um desafio”, afirmou, considerando que “desta crise podem surgir coisas muito bonitas que ajudem a recuperar a dimensão católica da Igreja”. “Chegámos a uma situação em que temos de tomar decisões”, prosseguiu, acrescentando: “a crise será positiva se tomarmos decisões oportunas”. “Creio que a crise tem solução”, considerou, aconselhando a “não olhar para o lado” e rejeitando “decisões fáceis e populistas” para “dar respostas adequadas aos desafios que vêm da cultura atual”.

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Nas soluções para fazer face à situação vocacional atual, o orador exortou a “fazer um bom discernimento dos [candidatos] que entram”, considerando que o importante “não é o número, mas a qualidade”. Para além disso apelou ao “acompanhamento”, garantindo que “a crise fundamental dá-se nos primeiros cinco anos depois da profissão solene ou da ordenação sacerdotal”. “Não basta acompanhá-los durante a formação inicial. Temos de acompanhar depois dela”, alertou, realçando inclusivamente a importância do “acompanhamento espiritual”  e de “recuperar espaços que ajudem à interioridade”.

Aludindo à valorização da dimensão espiritual dos sacerdotes, sublinhou a “importância da oração pessoal e da oração litúrgica”. “Que os padres, de vez em quando, também se possam juntar para rezar e comer juntos”, aconselhou, acrescentando também a “dimensão humana da afetividade e da sexualidade durante toda a vida”. Nesse âmbito referiu que para a “maturidade afetivo-sexual” dos sacerdotes é preciso “sentir-se querido, amado”, “chamado a amar”, “amar a própria vocação” e “amar segundo a própria vocação”.

O arcebispo, que exortou a “superar a crise de auto-imagem”, “do realismo” e a “da redução”, apelou à “consciência de que a formação não termina nunca”. “Se estamos vivos estamos em formação. Deixemo-nos de formadores e formandos. Todos em formação”, pediu.

Por fim, enumerou os desafios e riscos para a vocação sacerdotal, exortou à criação de uma “cultura vocacional” nas dioceses não apenas para as vocações consagradas e aconselhou o clero a “contar mais com os leigos” e a “formá-los bem”.