O patriarca emérito de Lisboa aconselhou ontem os membros dos grupos algarvios ‘Cristo na Empresa’ da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores a seguir o método “absolutamente evangélico” adotado pela Ação Católica de “ver, julgar e agir”, que disse ser o que Jesus lançou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

D. Manuel Clemente, que foi o convidado do encontro de final de ano dos grupos ‘Cristo na Empresa’ no Algarve que ontem, ao final do dia, ocorreu em Faro, na paróquia de São Luís, lembrou, aliás, que a ACEGE nasce da própria Ação Católica que, no final dos anos 60 do século passado, teria “cerca de 100 mil filiados”. “A ACEGE é a continuação de algo que aconteceu dentro dessa constelação da Ação Católica e que era a UCIDT – União Católica de Industriais e Dirigentes do Trabalho”, recordou, explicando que a associação foi criada por antigos militantes da UCIDT.

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O patriarca emérito de Lisboa desafiou os empresários e gestores católicos algarvios a “olhar para as situações com olhos de ver”, para depois “julgar”, “ajuizando cada situação pelo critério do Evangelho”, ou seja, pensar “como é que Jesus olharia para aquela situação”, tendo em conta que Ele “faz os seus juízos a partir do Pai”, para, por fim, “agir”, ou seja, “tomar uma atitude concreta para responder a um problema que se põe”. “Veem, ajuízam e determinam uma ação que vai responder a essa situação”, resumiu.

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D. Manuel Clemente explicou que “julgar com critérios evangélicos” é o princípio que está por detrás da Doutrina Social da Igreja (DSI), também denominada Pensamento Social Cristão, “que tem sido desenvolvido ao longo dos séculos por vários pensadores cristãos” e, “nos tempos mais recentes, sobretudo a partir do Papa Leão XIII”.

Ressalvando que a DSI “tem 2.000 anos” e não começa apenas em 1891 com a encíclica Rerum Novarum daquele pontífice, o orador passou em revista o historial da preocupação da Igreja com os desafios socioeconómicos. “Tantos documentos, reflexão e propostas articulam-se nos chamados princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja que devemos ter sempre presentes para fazer o juízo evangélico sobre as situações: dignidade da pessoa humana, bem comum, subsidiariedade e solidariedade”, acrescentou, aconselhando os empresários e gestores a tê-los em conta na sua atuação.

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Na reunião com a direção do núcleo algarvio da ACEGE, com os coordenadores e assistentes dos grupos ‘Cristo na Empresa’ no Algarve, que antecedeu a Eucaristia e o posterior encontro com todos os membros daqueles grupos, D. Manuel Clemente lembrou-lhes que Jesus “também tinha um grupo” com “pelo menos quatro elementos ligados a uma «empresa de pesca»”, do qual era “coordenador”, aconselhando-os a “persistir”, “como aconteceu exatamente com Jesus com aquele pequeno grupo de homens e mulheres que o acompanhavam”.

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O coordenador do núcleo algarvio da ACEGE lembrou o papel “fundamental” do responsável de cada grupo e do sacerdote assistente. Paulo Lopes disse ainda que na ACEGE “não há o empresário e o cristão”. “Há o ser, aquilo que cada um de nós é como filhos amados de Deus”, concretizou, considerando que os membros da associação procuram trilhar um “caminho de aprendizagem do que significa ser missionário dentro da empresa”.

O Algarve conta com grupos ‘Cristo na Empresa’ em Faro (3), Portimão (1) e Aljezur (1), havendo mais dois em perspetiva de formação. Cada um tem entre 6 a 9 elementos.

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Segundo a ACEGE, os grupos ‘Cristo na Empresa’ “nasceram da necessidade” sentida por um conjunto de gestores católicos “de aprofundar e concretizar os valores e critérios propostos pela Doutrina Social da Igreja no contexto da sua vida profissional”.

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No encontro, que contou com a participação de cerca 25 participantes – incluindo D. Manuel António dos Santos, bispo emérito de São Tomé e Príncipe que está a colaborar no trabalho pastoral da Diocese do Algarve – os responsáveis daqueles grupos apresentaram uma breve partilha da sua experiência.