As irmãs do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria (IRSCM) foram ontem, dia em que deixam o Algarve, homenageadas em Silves, pela sua presença naquela paróquia durante quase 27 anos, mas também em Monchique e Aljezur, num total de 40 anos de serviço.
A decisão tinha sido conhecida no início do passado mês de julho e foi ontem explicada pela provincial do IRSCM, na eucaristia que teve lugar na Fissul, presidida pelo bispo do Algarve.
“Estamos e permanecemos numa paróquia ou diocese o tempo necessário para ser sinal de Deus, dar o nosso contributo a promover a vida, ajudar à abertura e à relação com Deus, ajudar a desenvolver a consciência e o compromisso cristão e a formação de agentes locais de pastoral. Depois chega o tempo de confiar e entregar a continuidade do caminho a outros, às pessoas da terra, aos agentes locais e é a nossa hora de partir”, afirmou a irmã Teresa Nogueira, explicando que as razões são “várias”, incluindo a “diminuição de recursos”.
Lembrando que as religiosas contribuíram na educação, incluindo aulas de EMRC – Educação Moral e Religiosa Católica, em diversas escolas; na saúde, no serviço de enfermagem, inclusive no Centro de Saúde; na Pastoral Sociocaritativa, em resposta aos mais pobres, na presença aos reclusos; na Liturgia e na Pastoral Catéquetica, especialmente com crianças e adolescentes, aquela responsável pediu que a despedida fosse “ao jeito cristão”, “não com saudosismos, mas com a gratidão e a liberdade que brota do evangelho de Cristo”.
“Sabemos que a paróquia de Silves conta com cristãos comprometidos nas diferentes áreas e serviços a assumir as responsabilidades pastorais ao lado do seu pároco. Isto é uma esperança para a Igreja e também para nós, irmãs, ao deixarmos Silves. É a melhor expressão de reconhecimento que nos poderão oferecer. É o presente mais valioso que poderão oferecer às irmãs”, prosseguiu.
O bispo do Algarve expressou a “atitude de gratidão por estes 40 anos de serviço” à Igreja diocesana, lembrando que ao longo deste tempo as irmãs “mataram muitas fomes” e “foram pão partido” nas paróquias onde serviram.
Simultaneamente, D. Manuel Quintas manifestou “um grande lamento” pela partida das religiosas. “Sabeis porque é que as irmãs têm que se ir embora? Por duas razões: primeiro porque já há muitos anos que não têm novas vocações; segundo porque vão envelhecendo e não têm capacidade de resposta para os muitos pedidos e solicitações que há na Igreja em Portugal”, constatou D. Manuel Quintas.
“Isto deve tocar-nos profundamente. 40 anos no Algarve e nem uma vocação para o instituto das irmãs. Isto deve fazer-nos pensar. Será que Deus não continua a chamar? Claro que continua. Deus continua a chamar. Nós, talvez, é que não escutamos como devíamos. E, depois, não podemos queixar-nos”, continuou, explicando que gostaria que aquela celebração fosse de “gratidão”, mas também de “interpelação pessoal” ao apelo de não ter medo de responder ao chamamento que Deus faz.
Na sua homilia, D. Manuel Quintas lembrou ainda que as consagradas na Igreja do Algarve “vão sendo cada vez menos”. “Nestes últimos 16 anos passámos de 20 comunidades para 11. Quer dizer que esta já é a nona comunidade encerrada na diocese em 16 anos”, contabilizou, considerando tratar-se de “um empobrecimento muito grande”.
Após a entrega de ramos de flores e muitas recordações às religiosas pelas crianças e jovens, o pároco agradeceu às religiosas. “Muito obrigado pelo vosso serviço nesta terra. Muito obrigado por todo aquele trabalho que só o Senhor conhece e de que nós apenas pudemos ver um pouco. Sou muito grato por ter trabalhado convosco, queridas irmãs. E aproveito para vos pedir perdão por todos os momentos em que não fui para vocês um bom padre”, afirmou o padre Nelson Rodrigues.
O sacerdote, que ressalvou a compreensão pelos “desafios que o instituto atravessa com a diminuição das vocações”, considerou que “a paróquia de Silves não será a mesma depois da saída das irmãs” porque “a Igreja não é e não será a mesma sem vida consagrada”. “Ficamos mais pobres com a vossa saída, mas ficamos com um tesouro bem valioso que, a partir de agora, prometo, como pároco, iremos usar para continuar o trabalho. Falo-vos do tesouro do vosso testemunho”, afirmou. “A melhor forma de estarmos agradecidos à presença das irmãs, é darmos continuidade àquilo que elas aqui começaram”, complementou, exortando todos à colaboração no trabalho paroquial.
“Rezem para que surjam mulheres generosas para abraçar o reino segundo este carisma.
Silves sempre será uma terra mariana, não só porque temos a Virgem Maria como nossa padroeira, mas também porque pudemos ter várias mães espirituais para nos ensinar quão forte e poderoso pode ser um sim quando o damos a Deus e, por Deus, o damos aos irmãos. E estas mães espirituais são as irmãs”, afirmou.
A coordenadora da catequese paroquial lembrou que “as irmãs foram determinantes na catequização”. “Levaram-nos até Cristo”, afirmou Cristina Guerreiro, realçando que “a presença e o trabalho das irmãs foi imprescindível e de suma importância”.
Também a intervenção da secretária do Conselho Pastoral foi no mesmo sentido. “As irmãs religiosas deram a conhecer Deus e tornaram-n’O conhecido. Durante o tempo que passaram connosco plantaram muitas sementes e temos a certeza de que muitos frutos serão colhidos”, afirmou Lúcia Ramalho.
Em representação da presidente da Câmara Municipal, ausente por motivos de doença, o vereador Maxime Bispo enalteceu e agradeceu por “todo o trabalho de apoio social desenvolvido pelo instituto ao longo de quase 27 anos”, “um trabalho muito importante”, considerando que as religiosas – “mulheres que abdicaram da sua vida pessoal para se colocar ao serviço de quem mais precisa, mulheres que ajudaram muitas famílias, pessoas carenciadas ou vulneráveis” – deixarão “a sua marca indelével” na comunidade.
O autarca anunciou, por isso, o descerramento de uma placa toponímica, junto à Sé de Silves, atribuída ao Sagrado Coração de Maria, “como forma de homenagem e reconhecimento” a todo o seu trabalho “com o objetivo de perpetuar na memória dos silvenses as ações” das religiosas daquele instituto.
A sessão teve lugar logo após aquela celebração que foi concelebrada também pelo padre Vasco Figueirinha, antigo pároco de Silves, e participada também pelas irmãs Conceição Pereira, da equipa provincial, Amélia Silva, do grupo fundador da comunidade de Silves, e Balbina Ribeiro, que também ali trabalhou. Esteve igualmente presente uma pequena representação das religiosas a trabalhar no Algarve, encabeçada pela responsável do Secretariado Regional do Algarve da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), Carmelita Missionária, e por irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, do Instituto Missionário das Filhas de São Paulo (paulinas) e do Instituto Secular das Cooperadoras da Família.
Já a representação autárquica incluiu ainda o vice-presidente da Câmara de Silves, o presidente da Assembleia Municipal e o presidente da Junta de Freguesia.