Na iniciativa, que teve lugar em Faro, na sede da Delegação Regional do IPJ – Instituto Português da Juventude, à qual assistiram 48 pessoas, concluiu-se que a vocação, embora assumida de diferentes modos, é uma só: a vocação à santidade. Esta implica sempre o “chamamento a uma vida vivida no projeto do amor de Deus” que tem em vista a “felicidade” de cada pessoa, o qual requer uma “resposta constante” na procura de corresponder Àquele que chama. “É a questão de felicidade que está em jogo. O que está em causa é que cada um descubra o melhor caminho para alcançar essa felicidade”, referia quase no final, e em jeito de conclusão, o padre Pedro Manuel, sacerdote da Diocese do Algarve e responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional (SDPV), acrescentando que “o alimento diário para a vocação é a relação pessoal com Deus”.
Neste sentido destacou-se a importância do discernimento do chamamento e do projeto de Deus para cada um e a necessidade de cada indivíduo lançar-se na resposta a essa interpelação, lamentando-se a falta de tempo e de outras condições para fazê-lo. “Deus continua a chamar mas há mais ruído à nossa volta”, lamentava Eurico Palma, membro do casal participante.
A irmã Mafalda Monteiro, salesiana, salientou também que a vocação “tem a ver com o encontrar o sentido último daquilo para que nasci”, mas lembrou que não basta descobrir a vocação. A religiosa frisou que é necessário “atualizar a vocação”, o que implica “provocar os outros”. No mesmo sentido foi Ana Postiga, leiga consagrada do Movimento dos Focolares, ao considerar que “os jovens continuam hoje a ter uma exigência de radicalidade muito profunda”. “Temos de provocar, neles e em nós próprios, o desafio”, acrescentava. “É urgente que, como cristãos, lancemos o desafio da vocação nos jovens e façamo-los perceber que não podem viver a sua vida cristã de forma acomodada”, complementava a irmã Leonor Bernardino, carmelita missionária, acrescentando que “o provocar passa pelo contágio que têm a ver com o testemunho de vida”.
Nesse sentido também foi o padre Pedro Manuel. “A minha vocação não é para guardar para mim, mas para anunciar aos outros”, complementou. “Em que medida a minha vida de batizado questiona a vida do que não é batizado? Que testemunho dou? Qual o «perfume» que deixo na vida dos outros? É que pode acontecer que não estejamos a ser testemunho mas contra-testemunho”, advertiu o sacerdote diocesano, com quem concordou Ana Postiga. “Os que vêm até nós deviam encontrar Deus”, acrescentou aquela leiga consagrada do Movimento dos Focolares.
O padre Pedro Manuel destacou ainda que a interpelação vocacional do outro passa pelo “contacto direto” e pela “relação pessoal”. “Hoje serei capaz de interpelar pessoas na medida em que conseguir dispor de tempo para as atender”, afirmou.
Eurico e Paula Palma denunciaram que a vocação ao matrimónio é “todos os dias tentada” pela cultura do “homem ‘light’”, “muito bem informado mas com pouca educação humana e com um grande vazio moral”, caracterizado pelo “consumismo exacerbado”, pela “permissividade e pela relatividade”. “Nós, cristãos, muitas vezes somos ‘light’: vivemos como pagãos”, lamentou Eurico Palma, lembrando que “a vocação exige compromisso”. “Temos uma cultura de separação que está instalada e é um grande desafio para os casais cristãos tomarem consciência da sua verdadeira vocação e viverem-na”, acrescentou, evidenciando a quase extinção de casais que assumem a sua consagração e lembrando que “só há vocações se houver famílias fortes e estruturadas e neste momento não as temos”.
O casal alertou ainda para a superficialidade da formação dos que procuram o sacramento do Matrimónio, uma vez que “são poucos aqueles que dele têm consciência”. “Muitos fazem uma descoberta nova de Igreja”, referiu Eurico Palma. Por outro lado, Paula Palma aludiu à necessidade de se “apostar, cada vez mais, nos casais que pedem o Matrimónio para ajudar as pessoas a discernir a sua vocação e a perceberem que não é a mesma coisa que o casamento civil”. Eurico Palma considerou mesmo “fundamental” que se faça uma “Pastoral Familiar profunda e enraizada nas comunidades”.
As irmãs Leonor Bernardino e Mafalda Monteiro evidenciaram ainda a importância da oração em qualquer vocação e concretamente na sua. “A oração é fundamental porque é precisamente nesse encontro pessoal com Jesus Cristo que consigo perceber qual o projeto que Ele tem para mim”, destacou a carmelita missionária. “Para conseguir viver como consagrada há que ter tempo, tempo também para Deus, pois a oração sustenta tudo”, referiu a salesiana.
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