O padre Tiago Freitas, da Arquidiocese de Braga, que tinha apresentado em outubro passado a sua reflexão sobre o tema ‘A sinodalidade na ação evangelizadora da Igreja’ nas Jornadas Nacionais de Catequistas, voltou a fazê-lo no passado dia 22 deste mês para os catequistas algarvios no contexto do Dia Diocesano do Catequista que, por causa da pandemia, se restringiu à realização daquela conferência online.
Aquele professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, no polo de Braga, desafiou à participação no processo sinodal, evidenciando o que está em causa. “Aquilo que vamos discernir não é o modo como projetamos e achamos que deve ser a Igreja, mas tentar sintonizar-nos com aquilo que sentimos e consideramos ser a vontade de Deus para a sua Igreja”, advertiu na iniciativa promovida pelo Setor da Catequese da Infância e Adolescência da Diocese do Algarve que contou com 124 participantes, 84 via Zoom e 40 através da página do Facebook daquele organismo.
O sacerdote realçou que esse ponto de partida “é muito diferente” porque “leva para um caminho de humildade” onde é preciso “colocar em suspenso” os “preconceitos” e as “pré-ideias”. “Esta vontade de Deus não necessariamente resulta de um consenso porque estes encontros sinodais não é para chegarmos a votos por maioria porque isso até é contrário à própria história do povo de Israel”, sustentou, acrescentando que “a Igreja não se pode transformar num Parlamento”, nem funciona “num parlamentarismo, nem por maiorias”.
O padre Tiago Freitas lembrou que até agora o Sínodo dos Bispos era constituído por “um grupo, selecionado pelo Santo Padre, de especialistas, de peritos, que da sua experiência produziam um documento de trabalho, uma base de diálogo”. “Aqui não. Aqui estamos a dizer que toda a Igreja, todos nós, e tudo aquilo que vamos produzindo será relevante mais tarde para o documento em 2023 em Roma”, afirmou, acrescentando que “o próprio Papa já disse que pode conferir poder deliberativo”, ao grupo sinodal.
Neste sentido, o orador considerou então tratar-se de uma etapa onde “a Igreja, como um todo, descobre este sentido muito bonito, mas também muito profundo, de ser uma Igreja realmente universal” e defendeu que a “grande mudança” que o Papa Francisco introduziu foi “uma atualização do conceito de sinodalidade”, outrora um “termo técnico” para se referir à reunião de bispos em Roma, mas hoje para significar “uma Igreja em caminhada, em ritmo sinodal”. “O autor do discernimento do Espírito não é só o Papa com os bispos, mas toda a Igreja, desde as suas bases, os cristãos mais simples, até outros cristãos que tenham maior responsabilidade na condução das várias instâncias da Igreja”, desenvolveu, considerando o “projeto ambicioso”, lembrando que o Papa Francisco considera que “o caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio”. “É este o grande desafio para este novo milénio que agora se inicia”, considerou.
O sacerdote bracarense disse que o Papa, quando deseja que a Igreja inicie este “caminho universal”, “quer, com isso, dizer duas coisas: em primeiro lugar que é uma mudança de mentalidade, uma mudança de estilo de ser cristão e de estilo de ser Igreja, portanto uma mudança de paradigma, mas ao mesmo tempo uma mudança que se traduza também em gestos concretos, de uma ação diferente”. “E isso é uma conversão, tanto pessoal, quanto comunitária”, frisou, considerando que “só a decisão de querer ativar um processo sinodal na paróquia, inclusive enquanto grupos de catequistas, é já um passo e uma mudança”. “Mais importante do que a meta onde queremos chegar é o caminho que transforma”, sublinhou.
Aquele autor de uma tese de doutoramento sobre novos modelos de paróquias acrescentou que o grupo se torna um “espaço de crescimento, de compromisso, de curas de algumas relações porque há alguns «vírus» nas comunidades que impedem que elas cresçam”. “Poderá ser até um espaço de cura de algumas feridas dentro da comunidade e também um exercício credível de aprendizagem de escuta do outro, sem segundas intenções, sem entropias, sem barreiras”, considerou.
O orador lembrou ainda que “pessoas mais afastadas da Igreja”, sejam “imigrantes, agnósticos ou ateus”, podem “contribuir e colaborar nesta caminhada” através de formulários disponíveis e disse que esse contributo tem de ser valorizado porque “quem não está presente na comunidade até pode ser cristão e não estar na lógica dos grupos comunitários”. O palestrante sugeriu mesmo algumas formas práticas de incluir a participação dessas pessoas, lembrando que “o coordenador paroquial, que terá a responsabilidade de fazer a síntese, também têm de pegar nestes contributos e traduzi-los num documento”.
O padre Tiago Freitas enumerou ainda as quatro dimensões nas quais, do seu ponto de vista, se verão os “frutos” deste trabalho, “se o processo for bem feito”: a “fraternidade”, a “promoção das lideranças”, a “corresponsabilidade na missão” e a dos “ministérios e carismas”.
O sacerdote considerou ainda que esta será uma experiência adquirida pelas paróquias importante para o futuro. “Já temos um instrumento nas nossas mãos para decidir e pensar em conjunto sobre o rumo da nossa comunidade. E uma das coisas a decidir seguramente é quais são os carismas ou os ministérios que devemos ativar na nossa comunidade que sejam necessários para dar resposta às necessidades evangelizadoras”, sustentou.