A Diocese do Algarve considera que a “nova organização da pastoral paroquial em chave missionária”, que na prática substituiu a antiga estrutura de quatro vigararias existente desde 27 de maio de 2007, é um “sinal maior” da “transformação” iniciada no último ano de 2021/2022 com a implementação do Triénio Pastoral em curso que se estenderá até 2024.
Essa constatação vem expressa no Programa Pastoral para este ano 2022/2023 que foi apresentado no passado sábado na Assembleia Diocesana que teve lugar no salão de São Pedro do Mar, em Quarteira, com a presença de cerca de 200 participantes, entre bispo, sacerdotes, diáconos, religiosos, seminaristas e leigos, membros das equipas de departamentos, secretariados e setores dos serviços diocesanos, responsáveis de movimentos e associações e dos Conselhos Pastorais Paroquiais das 82 paróquias, vicariatos paroquiais e capelanias que constituem a Igreja algarvia.
“Vamos encontrando vias sempre novas para nos convertermos na docilidade ao Espírito Santo e para partir com renovado ardor ao encontro daqueles a quem, em nome de Jesus, somos enviados a propor a Vida em abundância”, pode ler-se no texto do Programa Pastoral deste ano que acrescenta que a “nova organização da pastoral paroquial em chave missionária”, apresentada também no sábado de manhã, é o “instrumento que pretende empreender um novo dinamismo evangelizador onde todos e cada um dos batizados se devem sentir incluídos”.
Na Assembleia Diocesana, após a oração orientada pelos jovens representados no Comité Organizador Diocesano (COD) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2023 em Lisboa e no Setor Diocesano da Pastoral Juvenil, que ficou marcada pela sessão de início do serviço dos três vigários episcopais regionais e do chanceler, e a abertura do encontro, o bispo do Algarve procedeu à apresentação do projeto de reestruturação da pastoral paroquial “em chave missionária”.
“Não podemos continuar a fazer como sempre fizemos, com as mesmas estruturas, do mesmo modo, da mesma maneira, alterando-se tudo à nossa volta”, começou por alertar D. Manuel Quintas, apelando à conversão pessoal. “Sem nos convertermos a nós próprios não podemos andar a procurar conversões pastorais, mudança de estruturas”, afirmou.
Referindo-se às motivações e critérios que conduziram à proposta de reestruturação, o responsável católico aludiu à necessidade de responder a “mudanças profundas da diocese”. O bispo diocesano lembrou as alterações nas populações, por exemplo a nível de faixas etárias, com a “presença ou ausência de crianças, de jovens, de idosos”, a desertificação do interior algarvio, a mobilidade que disse tanto caracterizar a Igreja algarvia ou o “sentido de pertença que é muito difícil ser assumido por batizados que não se sentem motivados para participar na eucaristia da comunidade com a regularidade que se exige”.
D. Manuel Quintas afirmou igualmente que a “resposta pastoral” para párocos com mais paróquias “não pode ser a mesma” e acrescentou a necessidade de “privilegiar a corresponsabilidade dos leigos”, de “alargar o ministério dos diáconos” e de a igreja algarvia se enriquecer “mais ainda” “com o carisma dos consagrados e consagradas. Por outro lado, realçou que “são as próprias comunidades que têm de gerar nos seus membros ministérios e serviços de acordo com as necessidades e, quando eles abundam, pensar nas paróquias vizinhas onde não há essa possibilidade”. O bispo do Algarve lembrou ter sido para isso que foram criadas as novas regiões pastorais e os respetivos centros evangelizadores e considerou que “o objetivo é promover uma pastoral conjunta com partilha de todos os recursos disponíveis: pessoas e meios”.
A este nível, o responsável católico referiu-se aos que concluíram o Curso Básico de Teologia do Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve como “uma riqueza que não está suficientemente aproveitada”.
D. Manuel Quintas disse ser preciso “assumir um novo paradigma pastoral do ser e do agir, de modo particular do bispo e dos presbíteros” face a uma realidade de menos vocações, menos ordenações e de um clero com mais paróquias e mais envelhecido. “Temos de situar de maneira diferente o modo como exercemos o nosso ministério, integrando-o nesse grande serviço à Igreja diocesana, mas também na corresponsabilidade dos leigos”, reforçou, considerando que o menos poderá até significar mais se forem criadas as condições para essa corresponsabilidade.
Neste sentido, o bispo diocesano considerou essencial “promover o despertar de diferentes carismas e ministérios em lugar de os exercer”. “Sem uma cultura de comunhão e de sinodalidade não é possível a conversão e a mudança, inclusivamente a nível das estruturas”, alertou, desejando que esta proposta ajude a criar uma “rede vasta de ministérios” na diocese.