A Diocese do Algarve assinou ontem ao final do dia o Acordo de Cooperação para a dinamização do turismo religioso, que para além de possibilitar a abertura das igrejas do sotavento algarvio para visitas irá ainda promover a empregabilidade naquela zona de pessoas portadoras de deficiência e com dificuldades de integração no mercado de trabalho.

Na cerimónia de assinatura do protocolo entre a diocese algarvia e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), a Região de Turismo do Algarve (RTA) e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) que teve lugar na igreja matriz de Vila Real de Santo António, o bispo do Algarve referiu que a iniciativa veio “responder a uma necessidade sentida por todos”: a “abertura organizada e qualificada” das igrejas por “permitir aos crentes que desejarem a possibilidade alimentarem a sua vida espiritual e a todos, crentes e não crentes, de poderem desfrutar do património religioso e cultural”.

“Temos obrigatoriamente que nos unir na realização da missão que nos compete a todos: promover, valorizar e dar a conhecer o testemunho que nos legaram as populações algarvias ao longo de séculos e que está condensada nas suas igrejas”, afirmou D. Manuel Quintas, desejando que o projeto de “grande importância” passe “de pioneiro a timoneiro”, de modo que, aproveitando a experiência ali recolhida, possa ser celebrado também noutras zonas do Algarve.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O coordenador do Setor Diocesano da Pastoral do Turismo (SDPT), organismo que representa a Diocese do Algarve no acordo outorgado, considerou que o mesmo poderá “ser uma rampa de lançamento para uma rota turística da identidade cristã e religiosa” na região. O padre Miguel Neto, principal impulsionador do acordo agora firmado, considerou que a região algarvia “respira identidade cristã”, lembrando que “o Algarve foi porta de entrada para o Cristianismo em Portugal e uma das portas de entrada na Península Ibérica”. “É importante para os residentes ter a igreja aberta. Se estiver fechada, há uma vertente da sua vida religiosa, cristã, da sua identidade, que está fechada”, alertou, exortando à necessidade de mostrar a identidade e a cultura da região. “Se perceberem a história das nossas igrejas, as pessoas percebem a história da nossa região”, considerou.

O sacerdote, que também é o diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo, enumerou as diversas zonas da bacia mediterrânica e de outros pontos da Europa que já fazem este trabalho. “Não podemos «vender» só praia, dieta mediterrânica, bons restaurantes, esquecendo a vertente religiosa”, advertiu, recordando que um dos objetivos do projeto é “combater a sazonalidade e as assimetrias geográficas”.

Nesse sentido, acrescentou que “o património mais rico do Algarve está no interior porque era lá que estava a capacidade económica nos séculos transatos”. “As igrejas do interior algarvio são muito mais belas do que as do litoral porque era no interior que estava a riqueza devido aos frutos secos”, sustentou, considerando ainda que “a beleza das igrejas é essencial para fazer a ponte entre a Igreja Católica e a sociedade civil”, não apenas com o “mundo da cultura” e do turismo, mas com “toda a gente”. “Uma igreja aberta é muito mais visitável do que qualquer posto de turismo ou qualquer outra atração”, afirmou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aquele responsável destacou ainda a dimensão social desta iniciativa, defendendo ser “necessário colocar o que a Igreja tem ao serviço da sociedade civil, nem que seja para melhorar as condições das pessoas, para a criação de emprego e de postos de trabalho diretos e indiretos”. O sacerdote disse ser “essencial criar mecanismos de sustentabilidade para a comunidade”, colocando os edifícios da Igreja ao serviço da sociedade civil, e defendeu ser preciso “criar postos de trabalho e riqueza junto das comunidades para preservar e manter o património”, explicando que o projeto tem igualmente como objetivo “a criação a longo prazo de meios de autossustentação, conservação e recuperação do património”. “Não podemos olhar para a Igreja como subsídio-dependente do Estado para a conservação do património”, afirmou.

Por fim, o coordenador do SDPT aludiu à necessidade da “avaliação da sustentabilidade” da iniciativa, desafiando as autarquias onde se inserem as paróquias envolvidas – Alcoutim, Azinhal, Cacela, Cachopo, Castro Marim, Odeleite, Santa Maria e Santiago de Tavira e Vila Real de Santo António – a apoiar a abertura das suas igrejas. “Num primeiro período a formação e a remuneração destas pessoas está assegurada, mas é necessário que numa segunda fase, depois de uma avaliação se é sustentável, que haja também uma vontade da própria autarquia em valorizar a abertura das igrejas e uma ajuda às paróquias para manter esses postos de trabalho”, referiu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Também o presidente da CCDR, José Apolinário, se referiu à necessidade “procurar consolidar e ir alargando” o espaço desta iniciativa como “projeto pioneiro” e o presidente da AMAL, António Pina, sublinhou que o mesmo “qualifica a região”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O presidente da RTA destacou a necessidade de “diversificar a oferta turística” e de “gerar novas motivações de visita à região que não estejam tão dependentes da sazonalidade, do período da pausa letiva do verão” e que procurem “contrariar a hiper-litoralização”. “Para além de diversificarmos a oferta, é muito importante que a diferenciemos”, afirmou João Fernandes, lembrando que “o Algarve concorre com os destinos mais competitivos do mundo” e que, “por isso, tem de se diferenciar, tem de apostar na sua identidade”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O representante da Delegação Regional do Algarve do IEFP destacou a componente da empregabilidade e explicou que o projeto permitirá “tirar pessoas do desemprego”, particularmente trabalhadores em situação de “difícil integração” ou portadores de deficiência. António Palma anunciou que o acordo irá abranger 40 pessoas, cuja formação será ministrada pelo IEFP.

A ministra do Trabalho e da Segurança Social, que não pode estar presente, mas que enviou uma mensagem, acrescentou que no âmbito da integração, o protocolo preconiza que as pessoas portadoras de deficiência sejam 10% daquelas abrangidas. “Estamos aqui a criar um programa que pode ser um exemplo a replicar por todo o país”, referiu Ana Mendes Godinho, destacando a iniciativa quer pela sua dimensão “prática e pragmática de inclusão” com a “reintegração no mercado de trabalho de pessoas que estão em situação de maior vulnerabilidade”, quer pela dinâmica de “sociedade que valoriza o seu património e coloca-o ao serviço das populações”.

O presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, uma das envolvidas no acordo, considerou-o “inovador” e defendeu que o património religioso algarvio “precisa de adquirir uma nova dinâmica”. “O património religioso algarvio assume-se como a memória de um passado que precisa de ser reabilitado e dado a conhecer às pessoas. É um símbolo cultural da nossa região e do nosso país. É preciso abrir portas a este círculo turístico que tem um enorme esplendor para descobrir e para mostrar a quem nos visita”, afirmou Álvaro Araújo.

A secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, que também mandou mensagem por não conseguir igualmente estar presente, destacou a importância de se continuar a “acolher com muita alegria e com sentido de missão e de hospitalidade” quem quer visitar o país, “qualquer que seja a sua crença religiosa”.