Desde 2010 que a Diocese do Algarve promove regularmente formações para ministros das exéquias, mas este ano aquela iniciativa foi alargada a cinco sessões com um reforço da componente antropológica para capacitar o serviço de apoio no luto.

Levada a cabo, através do Secretariado Diocesano da Liturgia, Música Sacra Novas Igrejas e Espaços Pastorais, a formação básica, que decorreu nas manhãs de sábado no Centro Paroquial de Loulé, teve início no dia 20 de janeiro e terminou a 17 de fevereiro com a participação de 15 pessoas das paróquias de Albufeira, Alvor, Boliqueime, Ferreiras, Loulé, Olhão, Quelfes, Salir e Silves.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Sentiu-se necessário que fizéssemos uma preparação mais intensa e profunda daqueles que poderão ser reconhecidos pelo bispo diocesano para o exercício desta missão”, explicou ao Folha do Domingo o diretor daquele organismo diocesano. O cónego Carlos de Aquino acrescentou serem “pessoas escolhidas pelas comunidades e apresentadas pelos párocos” e que agora, depois da consequente avaliação, serão propostas para discernimento do bispo diocesano juntamente com os respetivos párocos.

O sacerdote realçou que o aprofundamento da formação incidiu, sobretudo, sobre as dimensões “humanas e antropológicas” para “saber acolher, saber acompanhar a tristeza e as fases do luto” com vista a criar até “uma postura diferente na própria celebração”. “Muitas destas pessoas já frequentam também o Curso Básico de Teologia do Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve, que tem outro aprofundamento teológico e espiritual, mas sentiu-se que era preciso uma especificidade para este serviço e considerámos que estes eram os assuntos mais significativos”, sustentou.

O primeiro encontro, no dia 20 de janeiro, teve como formador o padre Pedro Manuel e o cónego Carlos de Aquino explicou que o sacerdote aludiu à “importância do ministério das exéquias e da pastoral do luto”, visando a presença da Igreja nesta circunstância, procurando situar esta dimensão numa “perspetiva evangelizadora” e “mais abrangente” da pastoral porque entra no âmbito também da pastoral da saúde, desde logo com a visita aos doentes e prosseguindo com o “acompanhamento na morte não só daqueles que se preparam para o trânsito final, mas também das suas famílias”.

O segundo encontro, orientado no dia 27 de janeiro pelo próprio diretor do Secretariado Diocesano da Liturgia, abordou “o ritual das exéquias, a celebração e a espiritualidade”. “Partimos do próprio ritual que é seguido pelos sacerdotes. Embora esteja formulado um ritual próprio, mais abreviado quando são os leigos a presidir à celebração, considerei importante que a formação fosse feita a partir do ritual principal das exéquias”, declarou o cónego Carlos de Aquino, explicando ter sido analisada “toda a estrutura celebrativa dos vários momentos, a espiritualidade que está presente e o enriquecimento simbólico daquilo que se pode realizar para valorizar mais a dignidade deste momento”. “Embora seja um momento de grande ferida e dor, não é um momento banal. Portanto, devemos também vivê-lo no enriquecimento da fé”, completou.

A terceira sessão, a 03 de fevereiro, contou com o cónego Mário de Sousa como formador e refletiu sobre a vida, a morte e a ressurreição na Sagrada Escritura. “É o fundamento, o alicerce para perceber tudo isto a partir da própria revelação de Deus”, considerou o cónego Carlos de Aquino, explicando que o formador “aprofundou todas aquelas dimensões também a partir dos próprios textos que estão indicados no ritual e que servem para os vários contextos celebrativos”. “Procurou-se apontar alguma perspetiva no sentido de valorizar essa palavra e de ajudar aqueles que irão presidir a estas celebrações também a saberem interpretar os textos e a sublinharem deles aquilo que constitui o grande desafio”, sustentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A quarta manhã de formação, no dia 10 de fevereiro, contou com a psicóloga Carla Tomás, doutorada em Psicologia com dissertação dedicada ao estudo entre a espiritualidade e a resiliência, que se referiu à “arte de escutar e sofrer juntos, acolher e acompanhar” e versou todas as dimensões humanas, antropológicas. Aquela investigadora na área da psicologia da religião e da espiritualidade referiu-se aos “fatores que influenciam a vivência do luto”, às suas “sensações físicas”, “cognições” e “comportamentos”. Abordou ainda o “crescimento pós-traumático” e “a importância do autocuidado para a pessoa em luto e para quem cuida dela”. Sobre a espiritualidade no luto enumerou ainda “recursos, práticas, virtudes e valores espirituais” e garantiu que, “de todos os lutos”, é “o mais difícil” é “o da perda de um filho”.

Por fim, o quinto e último encontro, a 17 de fevereiro, contou com o padre Nelson Rodrigues como formador e abordou a “escatologia” para ajudar a entender as “realidades futuras” que estão no Catecismo da Igreja Católica como o purgatório ou o inferno. “É muito importante estar esclarecido porque as pessoas põem sempre dúvidas sobre isso”, considerou o cónego Carlos de Aquino.

Aquele responsável lamentou haver ainda “um empobrecimento de fé, de cultura cristã e até de antropologia” denotado em expressões populares, que garantiu serem muito ouvidas nos funerais, como “agora tudo acabou” ou “onde tu estiveres” ou “agora é uma estrelinha no céu”. “São três expressões que têm muito pouco de cristão e até revelam uma antropologia redutora”, criticou, acrescentando: “sabemos onde estão os que partem na fé: no coração de Deus, na eternidade”. O sacerdote acrescentou que “celebrar na morte a fé da ressurreição é acreditar que a morte não é o momento final da vida”. “Morremos, mas não para sempre. Portanto, é muito importante o aprofundamento destas realidades e saber o que diz o Catecismo, o que diz a Igreja para esclarecer as dúvidas das pessoas”, realçou.

O liturgista destacou que o modelo formativo adotado este ano “é muito positivo”, convicção que disse ter saído reforçada também da avaliação que foi feita, e que no próximo ano deverá ser repetido.

Especialista garante que pessoas religiosas estão mais bem preparadas para lidar com o processo de luto