A Diocese do Algarve promoveu ontem a segunda edição do encontro dos avós, um “dia de oração, formação e convívio”, para ajudar aqueles destinatários a compreender a sua “missão”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A primeira edição tinha ocorrido em 2019 e, por causa da pandemia, nunca mais tinha sido possível voltar a realizar.

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No encontro que voltou a ter lugar na Casa de Retiros de São Lourenço do Palmeiral, no âmbito da programação anual proposta e levada a cabo pela comunidade algarvia dos sacerdotes da Companhia de Jesus (jesuítas) para aquele espaço.

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O padre Nuno Tovar de Lemos, sacerdote jesuíta que orientou o encontro conjuntamente com psicóloga educacional Joana Sarmento Moreira, começou por lembrar às 17 avós e ao avô participantes que de entre as “muitas missões diferentes” que existem, uma delas é ser avô ou avó. “Muitas vezes, a missão que Deus nos põe nas mãos passa por coisas que não associamos à palavra missão, como por exemplo o ser pai e, sobretudo, ser avô”, referiu, considerando tratar-se de “uma missão com imensas alegrias, mas também com algumas dificuldades”.

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Constatando que “os miúdos” e também “os pais” “hoje em dia são diferentes do que eram antes”, o sacerdote disse aos avós que aquele “dia de encontro com Deus”, serviria para sair dali “com um sentido de missão e de mangas arregaçadas”.

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Realçando que “os avós são elos de ligação com o passado”, o diretor daquela casa de retiros afirmou que “um miúdo com 20 anos não percebe a importância das raízes”, mas acaba por reconhecê-la mais tarde. “Às vezes, aos 50 anos é que ele vai lá buscar as raízes”, afirmou.

Ao Folha do Domingo, o sacerdote reconheceu que “a missão de ser avô e avó hoje em dia pode ser muito difícil” “porque muitas vezes os avós têm de fazer muitas tarefas práticas para ajudar os pais das crianças que estão muito ocupados”. “Têm muitas vezes de ficar com os miúdos. Às vezes até têm de ir buscá-los à escola”, exemplificou, apontando ainda a dificuldade de relacionamento das diferentes gerações. “É um bocado difícil porque as gerações são muito diferentes, os miúdos são muito diferentes de como eles eram quando eram crianças e nem sempre compreendem. Os miúdos nem sempre são tão agradecidos como eles eram quando eram netos. Daí a importância de um dia destes, onde os avós possam trocar experiências, apoiar-se uns aos outros e também, junto de Deus, perceber isto de ser avô como uma missão. Não é só uma tarefa, um trabalho, uma coisa que a vida lhes trouxe, mas é o próprio Deus que confere esta missão”, acrescentou.

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Também Joana Sarmento Moreira, que trabalha sobretudo na área da família com crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem, sublinhou que “os avós são muito importantes em termos de enraizamento pessoal”. “Muitas vezes é na casa dos avós que nascem muitas histórias e muitas memórias da nossa vida. É a representação do nosso passado, muitas vezes do presente e, se calhar, também do futuro. É uma história que se vai construindo entre gerações diferentes”, afirmou.

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Ao Folha do Domingo, aquela especialista disse que a atual realidade que não existia antigamente de “netos e filhos espalhados por todo o mundo deixa-os um bocadinho perdidos”, lembrando a “importância da comunidade como ponto de referência e de enraizamento”.

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Joana Sarmento Moreira aludiu à importância de “ter tempo para se fazer presente” junto dos avós. Ao Folha do Domingo disse que “os netos têm de ter tempo para os avós”. “O nosso tempo e o tempo dos avós não é o mesmo tempo. Aquilo que basta para nós, não basta para eles. É importante conceder tempo para eles”, reforçou.

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A psicóloga educacional disse ainda que importa perceber a missão dos avós nos dias de hoje, tendo em conta as “novas realidades de organização familiar, de dinâmicas sociais”, e entender a importância que os avós têm como “pilares e raízes no desenvolvimento das crianças e dos jovens”. “Estes avós, enquanto netos, foram muito diferentes dos seus próprios netos. Têm muito mais para dar aos seus netos do que eles próprios alguma vez receberam”, afirmou Joana Sarmento Moreira, acrescentando ser preciso “sentir a valorização que eles têm na vida dos netos”. “Quanto mais atípica é a família, mais importante é o papel dos avós”, salientou.

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Neste sentido, explicou mesmo ter “muitos avós preocupados a levarem os seus netos à consulta e a valorizar coisas que, às vezes, os pais não valorizam”. A psicóloga confirmou que alguns avós estão mais conscientes para estas problemáticas do que os pais e testemunhou que “alguns pais estão muito ocupados no dia a dia com a dinâmica do trabalho e as suas obrigações e falta-lhes o tempo para parar e perceber o que é que se está a passar”. “Os avós, como estão mais presentes e mais a acompanhar o desenvolvimento dos seus netos, apercebem-se, às vezes, de coisas e dão sinais de alerta aos pais”, contou, acrescentando que, por vezes, “são os próprios pais a pedirem-lhes para levarem os filhos à consulta”.

Aquela especialista explicou ainda que o objetivo do dia foi também “dar espaço aos avós para partilharem dúvidas e inquietações” e para “discutir as dificuldades porque às vezes é difícil lidar com os netos e com as dinâmicas das famílias”. Importa “sentir aqui quais são as dúvidas que são partilhadas e os problemas que têm, debatê-los e tentar fazer uma reflexão” e também encontrar algumas soluções, acrescentou.

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O encontro procurou ainda levar os participantes a identificar as suas próprias memórias como netos e quais as que gostariam de deixar aos seus netos. “Como posso ter um papel importante, diferenciador na vida deles”, explicou Joana Sarmento Moreira.

O encontro contou ainda com uma partilha de grupos e a recitação de um “terço dos avós com consagração dos netos”. Depois do almoço, os participantes foram ainda ao “baú da infância” para o trabalho das memórias e escreveram uma carta aos netos, participaram na celebração da Eucaristia e o encontro terminou com um lanche.