Certa noite, um sem-abrigo surpreendeu-me… com a luz serena da sua esperança.
Sem rumo, sem abrigo, encontrou refúgio num carro abandonado, tão vazio quanto o seu coração.
O carro fora assaltado. As rodas furtadas, e ele, que pouco tinha — apenas umas mantas — viu até isso ser-lhe roubado. O silêncio da noite tornou-se solidão. Sentiu-se como uma árvore ressequida no inverno da vida: sem folhas, sem cor, sem razão para florescer.

Outrora, dormia enroscado nas suas mantas como quem se esconde do mundo.
Agora, despido de tudo, foi o frio da madrugada que o despertou.
Então abriu os olhos e contemplou o céu. Viu o que antes nunca tinha visto. Ficou fascinado.
Quanto mais escura se prenunciava a noite, mais intenso era o brilho das estrelas, como se cada uma murmurasse à escuridão um segredo de esperança.
A luz das estrelas aclarava-lhe o rosto, deslumbrado deixou-se inundar por aquela claridade cintilante.
E pensou, com um sorriso leve:
“Que bom que o ladrão não me roubou as estrelas.”
E assim ficou, em silêncio, a meditar…
Percebeu então:
A luz nunca se apaga para os que têm esperança. Arde como uma chama que nem o frio consome, a ausência não apaga.
A esperança torna-se amor em forma de fogo, um lume que resiste à noite,
um fio invisível que nos liga ao eterno.
Tudo o mais se desfaz: mantas, carros, certezas… mas o amor e a esperança permanecem, intocados pelo tempo e imortais na alma.