O Ponto SJ, portal dos jesuítas em Portugal, arrancou esta semana no Algarve, em contexto pré-eleitoral, com uma série de conversas para “ajudar a sonhar” “um país mais digno e coeso”, “com futuro” e “mobilizado para enfrentar os desafios”.

“Quisemos fazer este exercício de discernimento e reflexão à luz da Doutrina Social da Igreja e pensámos nos principais princípios que a inspiram para tentar aplicá-los à realidade para analisar, julgar e, a partir daí, encontrar caminhos para o futuro”, explicou a diretora do Ponto SJ na primeira de quatro conversas que vão percorrer o país, justificando o recurso àquele compêndio que tem como método “ver, julgar e agir”.
“Sentimos que era preciso ir para o terreno conversar com as pessoas, escutá-las, perceber quais são as dificuldades dos nossos concidadãos. Não é uma rubrica política nem partidária, mas quisemos eleger alguns temas, algumas prioridades e percorrer o país a conversar sobre elas”, desenvolveu Rita Carvalho, explicando que aquele espaço de reflexão irá acolher temas como a educação, a economia, as desigualdades sociais e a participação democrática dos jovens.

As desigualdades sociais foram mesmo o tema da edição inaugural da iniciativa, denominada ‘Ponto de Cruz’, que teve lugar no dia 05 de fevereiro em Portimão, no Centro Paroquial da paróquia de Nossa Senhora do Amparo — comunidade entregues aos cuidados pastorais dos sacerdotes jesuítas — e que procurou nos convidados escolhidos abordar três perspetivas diferentes: uma mais académica, da área da investigação; outra mais de quem trabalha no terreno em contacto direto com as dificuldades; e uma terceira mais espiritual, ética e filosófica.
Assim sendo, foram convidados João Eduardo Martins, professor de Sociologia da Universidade do Algarve, Mariana Piteira Santos, responsável da Pastoral Sóciocaritativa da paróquia de São Pedro de Faro, e Helena Lucas, engenheira do ambiente na Águas do Algarve.
Na primeira edição da rubrica ‘Ponto de Cruz’, o Algarve foi apresentado como “uma região de contrastes sociais e económicos onde houve um aumento populacional”. “Foi a região que mais aumentou, segundo os últimos Censos”, observou Rita Carvalho, sublinhando a “densidade populacional muito discrepante” do Algarve com um “interior desertificado exposto aos efeitos das alterações climáticas com os incêndios e a seca”. “Se houve freguesias que duplicaram a sua população, como por exemplo, Olhão, outras freguesias mais do interior, como Alcoutim, perderam metade da população nos últimos anos”, sustentou, acrescentando que “a população acima dos 65 anos cresceu 50% principalmente no interior desertificado, enquanto a população mais jovem, a população ativa, decresceu 10%”.

A diretora do Ponto SJ adiantou também que “22% da população é estrangeira, comparando, por exemplo com Lisboa, que tem uma taxa de apenas 12%”. “Temos dois grupos de estrangeiros: uma população com um poder económico maior, principalmente um grupo de ingleses que vem para Portugal para descansar na reforma, e, em contrapartida, um grupo de imigrantes mais jovens que vem do Brasil, dos países de leste, da Ásia e de África que vem à procura de emprego e de ter uma vida melhor e que trabalham no turismo, na agricultura e na construção civil”, detalhou.
Realçando que o Algarve é “uma zona de grande precariedade laboral, com um trabalho muito sazonal e baixos salários”, assegurou que relativamente aos indicadores de rendimento por habitante este representa no Algarve “valores mais baixos do que o resto do país”.
Rita Carvalho lembrou que o Algarve “tem uma taxa de desemprego superior ao resto do país e à média da União Europeia” e um “risco de pobreza” com “valores mais elevados do que no resto do país”. “Estamos a falar de 24/25% em comparação com 19,4% que é a média em Portugal”, precisou, acrescentando o “dado também muito preocupante” de “11.000 crianças em risco de pobreza extrema”.
A rubrica ‘Ponto de Cruz’ segue o périplo de reflexão pelo país durante este mês de fevereiro, passando por Braga, Lisboa e Coimbra.